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Estado de Minas

Poder de fogo de traficantes aumenta com uso de fuzis, submetralhadoras e pistolas

Polícia Federal mostra que 1.411 armas, a maioria revólveres, foram furtadas de empresas em 4 anos


postado em 10/02/2016 06:00 / atualizado em 10/02/2016 08:23

Entre as apreensões das polícias em Belo Horizonte e cidades vizinhas nos últimos anos, estão peças com grande poder de fogo, como adaptações para disparo em rajadas e de uso restrito das Forças Armadas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 27/12/2010)
Entre as apreensões das polícias em Belo Horizonte e cidades vizinhas nos últimos anos, estão peças com grande poder de fogo, como adaptações para disparo em rajadas e de uso restrito das Forças Armadas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 27/12/2010)
Ponto delicado na batalha travada para combate ao narcotráfico é o poderio bélico das associações criminosas em Minas e em BH, muitas delas com integrantes de grupos violentos do crime organizado do Rio de Janeiro e São Paulo. Por aqui, fuzis de guerra capazes de perfurar a blindagem de carros-fortes e pistolas 9 milímetros com carregadores para mais de 50 disparos e adaptações para atirar em rajadas, têm sido usados por traficantes de morros e favelas da Grande BH. Muitos deles ostentam nas redes sociais um poderio crescente, a exemplo do que tem sido usado nos combates entre quadrilhas do Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de BH.

Contudo, ante o crescente reforço do arsenal dos narcotraficantes, a repressão policial parece diminuir. De acordo com levantamento da Polícia Militar (PM), no ano passado, até setembro, apenas 28 armas de calibres restritos foram apreendidas na capital mineira. A Grande BH segue a capital nos registros baixos de apreensões, ainda que sejam os maiores de Minas Gerais, com Ribeirão das Neves, Contagem e Betim entre os seis municípios com maior volume de armamento restrito encontrado pela PM na posse de pessoas sem autorização. Por outro lado, a Polícia Federal (PF) registrou uma farta oferta de armas para criminosos, já que entre 2011 e setembro de 2015, 1.411 armas de fogo foram roubadas ou furtadas de empresas de vigilância privada, uma média de 38 unidades por mês.

Pelos registros da Polícia Federal, a maior parte dos armamentos roubados ou furtados das empresas de vigilância privada são revólveres calibre 38, que, no período da pesquisa feita pela corporação, chegavam a 1.373 unidades levadas por criminosos. Foram levadas, ainda, 25 espingardas calibre 12, 11 pistolas 380 e duas espingardas calibre 38. Especialistas em segurança pública conferem a esse arsenal subtraído das empresas de vigilância grande parte do poderio de traficantes, ladrões de bancos e assaltantes. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das armas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – estado em que os confrontos de policiais e traficantes são intensos – investiga inclusive se as empresas de vigilância facilitam a venda de armas e munições para criminosos e até se pertencem a quadrilhas ligadas ao crime organizado.

Por meio das redes sociais utilizadas por traficantes, a Polícia Militar de Minas rastreou fotografias de armamentos pesados sendo exibidos pelas quadrilhas que se enfrentam no Aglomerado da Serra desde o dia 6 de janeiro. Em duas delas, são exibidos fuzis similares ao AK-47, de fabricação russa, e calibre 762, capaz de perfurar coletes balísticos e atravessar a lataria das viaturas policiais. Muitas fotografias exibem também pistolas com adaptações que as tornam submetralhadoras, carregadores estendidos e até tambores que ampliam sua capacidade de 13 a 15 tiros para mais de 100. O resultado do uso desses armamentos são perfurações grandes deixadas pelos tiros nas árvores, postes, muros, portões, grades e telhados de residências dentro das comunidades e também no Bairro Serra, que é limítrofe.

INTELIGÊNCIA O trabalho de rastrear e tirar de circulação armas de fogo de grupos organizados para crime cabe à Polícia Civil, na avaliação do pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (Crisp/UFMG) Frederico Couto Marinho. Ele afirma que armamentos de grosso calibre nas mãos de traficantes, como os do Aglomerado da Serra, são assunto de extremo impacto para o trabalho policial. “É preciso questionar por que as apreensões são tão pequenas. Isso não é uma prioridade? Por que a inteligência da Polícia Civil não prioriza tirar essas armas de circulação? Está faltando efetivo e material ou tem e não é usado?”, questiona. O especialista em segurança pública alerta que são justamente as organizações criminosas que têm mais armas de grosso calibre que causam mais transtornos à ordem social. “Quem detém mais armamentos e rede de drogas ocupa mais território, causa impacto fechando escolas, centros de saúde: é uma ameaça às comunidades”, afirma.

“É uma das obrigações da Polícia Civil, pois é quem detém os softwares e pessoal capacitado para encontrar e cruzar as movimentações financeiras desses grupos. Para ter armamentos desse porte, é preciso muito investimento, pois é preciso trazer de fora de Minas Gerais, no Paraguai ou no Rio de Janeiro. As munições são caras. Tudo isso gera lavagem de dinheiro e a inteligência pode identificar tudo isso e agir antes que os confrontos ocorram e prejudiquem as comunidades”, avalia.

Sobre as armas subtraídas dos arsenais de seguranças particulares, o pesquisador afirma não haver dúvidas de que elas vão parar nas mãos de criminosos. “E isso cabe à Polícia Federal apurar. A fiscalização sobre atividades que utilizam armas deveria ser mais rigorosa também”, disse Marinho.

Posição Por meio de sua sala de imprensa, a PM informou que desenvolve operações específicas, além policiamento rotineiro, para coibir o tráfico de armas e drogas em Minas, inclusive com apreensões de armamentos. Ponderou, no entanto, que há outras agências envolvidas no combate ao tráfico de armas, sobretudo na entrada do país. A Polícia Federal foi procurada para comentar o narcotráfico no estado, mas não disponibilizou fonte para falar o assunto. Procurada insistentemente ao longo da semana para repercutir os desdobramentos do tráfico de drogas em Minas, a Polícia Civil, por meio de sua assessoria, informou que os dados sobre investigação do tráfico são sigilosos e que não teria um representante disponível para falar sobre o tema.


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