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Estado de Minas

Em meio a tiroteios no Aglomerado da Serra, batalhão da área troca de comando

Facções disputam tráfico de drogas no Aglomerado da Serra em conflito que já dura quase um mês. Novo comandante anuncia que meta é prender ao menos 20 pessoas


postado em 02/02/2016 06:00 / atualizado em 02/02/2016 07:30

Ontem à noite, a PM ocupava a Praça do Cardoso: ação é uma das medidas para garantir segurança à população(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Ontem à noite, a PM ocupava a Praça do Cardoso: ação é uma das medidas para garantir segurança à população (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)

Em meio a um dos maiores confrontos já vividos no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de BH, com tiroteios que começaram em 6 de janeiro e uma população que vive com medo, o 22º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela área, passa por troca de comando. E, com apoio de mais quatro batalhões, anuncia não ter previsão para encerrar a ação policial que pretende prender, ao menos inicialmente, 20 pessoas, classificadas como “novas lideranças do tráfico”. Segundo a PM, são traficantes jovens, que assumiram após os chefes dos nove grupos atuantes na região terem sido presos, o que ocorreu em diferentes momentos no último ano. De acordo com o novo comandante do 22º BPM, tenente-coronel Olímpio Garcia, que assumiu o cargo ontem, a polícia está buscando, junto à Justiça, 40 mandados (dois para cada suspeito): 20 de prisão e mais 20 de busca e apreensão para os líderes, já identificados. “Sabemos quem são e temos o endereço de todos”, disse. Segundo o comandante, todos têm passagem por tráfico de drogas e porte ilegal de armas e parte deles por homicídio, roubo e furto.


A captura dos bandidos é, segundo Olímpio, uma das seis ações que a PM está desenvolvendo para controlar as trocas de tiros que têm amedrontado a comunidade na área do confronto, onde vivem cerca de 90 mil pessoas. “Há risco de bala perdida, apesar de somente viaturas terem sido atingidas, porque as ações estão ocorrendo em pontos estratégicos e já monitorados para ocorrência de confrontos.”  Na sexta-feira, viaturas do Grupo Especializado em Patrulhamento em Área de Risco (Gepar) foram recebidas a tiros por criminosos. Ninguém ficou ferido. Na noite de domingo, as balas voltaram a cruzar o céu do aglomerado e, além de uma viatura ter sido atingida, um bandido foi alvejado no rosto. Ontem, no Beco São Geraldo, na Vila Marçola,  houve novo tiroteito entre a PM e um suspeito, que, segundo a polícia, tem envolvimento com o crime. O jovem fugiu e abandonou uma mochila com drogas, arma e munição. Até ontem, pelo menos quatro pessoas foram presas.

Além da prisão, a PM está investindo na ocupação de um dos pontos mais importantes do aglomerado e também estratégico para o tráfico, de históricos confrontos e de realização de bailes funk: a Praça do Cardoso. Nesse local, a polícia estará presente entre as 19h e as 23h, horário de maior movimentação, segundo o tenente-coronel. A partir desse horário, começa outra estratégia, nos becos, onde viaturas vão fazer o policiamento até o amanhecer. O pacote inclui ainda a presença do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), com incursão de atiradores de elite, os chamados snipers.

Outras duas medidas têm caráter social. Por um lado, a PM promete manter o diálogo com a Prefeitura de BH para garantir que serviços como saúde, educação e transporte, entre outros, sejam mantidos. Ontem, o Centro de Saúde da Vila Cafezal foi fechado e a população precisou buscar atendimento em outros postos. “Já conversamos com representantes da prefeitura e o serviço vai voltar a funcionar”, garantiu o coronel. Para fechar a lista, a PM diz estar em contato com a Promotoria de Direitos Humanos e com a Secretaria de Direitos Humanos para a realização de bailes funk para a comunidade. “Serão diferentes dos que ocorrem hoje, que são organizados por traficantes, com presença de menores e feitos para financiar o tráfico. Vemos que os jovens negros são as maiores vítimas do tráfico na Serra e que o funk é a única expressão cultural e de lazer que eles têm. Vamos, com outros órgãos, incentivar essa iniciativa, mas longe do tráfico”, explicou Olímpio.

Dos nove grupos atuantes no Aglomerado da Serra, dois foram identificados como os protagonistas do atual confronto. O comandante explica que não há uma guerra para tomada de território entre eles, mas uma demonstração de força e de poder. “De dois anos para cá, os líderes de todos os grupos da Serra foram presos, além de alguns gerentes do tráfico, responsáveis pela articulação e pelos negócios. Os grupos ficaram desorganizados e os pequenos traficantes estão assumindo e querendo mostrar poder”, afirma. De acordo com o coronel, os bandidos usam principalmente pistolas de calibre 40, e também pistolas 380 e 765, além de revólveres calibre 38 e 22. Pelo barulho dos tiros, o policial afirma que há metralhadoras, com suspeita de que sejam armas de fabricação caseira. Por outro lado, a PM está armada com fuzis, submetralhadoras e armas automáticas.

Marcas de balas são vistas em portões de residências(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Marcas de balas são vistas em portões de residências (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

CRÍTICAS De acordo com o novo comandante do 22º BPM,  a troca de comando já estava programada e não foi específica por causa dos confrontos na Serra. Ele explica que o comandante que chefiava o batalhão foi promovido e transferido para uma área metropolitana. “Como era subcomandante e participei das estratégias que resultaram em redução da criminalidade na área do 22º BPM nos últimos dois anos, fui convidado à chefia para dar continuidade às ações”, explica Olímpio Garcia.

Mas especialistas têm outra visão. A troca do comando de um batalhão, ainda que em meio a uma crise, não deveria trazer qualquer impacto ou mensagem, segundo Luís Felipe Zilli do Nascimento, professor da Fundação João Pinheiro e especialista em segurança pública. “Se as inclinações de um comandante ou suas vocações pessoais trazem uma mudança na linha de atuação é porque a política da corporação não está seguindo uma linha bem definida. O correto é que a troca de comandante pouco influencia nessa linha de atuação”, disse.

Alguns dos métodos de enfrentamento da criminalidade utilizados nos aglomerados mineiros, e principalmente no da Serra, também são criticados pelo especialista. Um desses elementos é o Gepar, que foi alvo de tiros pelos bandidos em conflito. “O Gepar ainda não definiu se vai ser uma força de enfrentamento ao crime nas favelas ou se vai fazer um papel de polícia comunitária, mediando conflitos entre a população em vez de agir como repressão”, afirma Nascimento. O especialista em segurança pública critica ainda a falta de medidas preventivas no aglomerado. Para ele, outro ponto sensível é a mudança no policiamento da Área Integrada de Segurança Pública (Aisp), que foi instalada na Serra em 2014.
(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


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