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Estado de Minas

Impasse entre blocos e bombeiros permanece às vésperas do carnaval

Segurança e trânsito viram desafio em Belo Horizonte, que promete reunir 1,6 milhão de pessoas nos quatro dias de folia


postado em 02/02/2016 06:00 / atualizado em 02/02/2016 08:15

Milhares de pessoas participaram da folia no fim de semana em Belo Horizonte, um termômetro do que será o carnaval na capital mineira(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
Milhares de pessoas participaram da folia no fim de semana em Belo Horizonte, um termômetro do que será o carnaval na capital mineira (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
A menos de uma semana do carnaval, segue o impasse entre blocos e o Corpo de Bombeiros. De um lado, os grupos entendem que a festa é uma manifestação cultural. De outro, bombeiros classificam como eventos temporários. A definição tem implicações no dimensionamento do trânsito, da segurança e econômicas para os blocos. O último fim de semana foi um termômetro para o que será o sétimo ano do carnaval na capital mineira depois que a folia renasceu nas ruas da cidade. Com o desfile da Banda Mole, no Centro, do Mamá na Vaca, no Bairro Santo Antônio, e Me Beija que Sou Pagodeiro, no Gutierrez – ambos na Região Centro-Sul –, movimentação e ensaios no Santa Tereza, na Região Leste, milhares de pessoas saíram as ruas.

O pré-carnaval lotou ainda o Parque das Mangabeiras – provocando uma longa fila de espera dos que ficaram do lado fora e congestionamento até a Praça do Papa – e até invadiu o metrô. Ao todo, pelo menos 60 mil pessoas foram às ruas no pré-carnaval do fim de semana, num ensaio para a festa que terá pelo menos 250 blocos e um público estimado de 1,6 milhão de foliões.

Os cinco maiores blocos da capital – Baianas Ozadas, Então, Brilha!, Juventude Bronzeada, Pena de Pavão de Krishna e Tchanzinho Zona Norte – se organizaram numa liga informal para enfrentar os dilemas do crescimento. Nascidos de forma espontânea e a partir do desejo coletivo de ocupação do espaço público, os blocos se tornaram a principal atração da festa e, a cada ano, tornam-se mais populares duplicando o número de foliões. No ano passado, o recorde de público foi do Baianas, com mais de 100 mil foliões no cortejo entre a Praça da Liberdade e a Praça da Estação.

O Corpo de Bombeiros anunciou mais rigor na fiscalização, mas os blocos se queixam de falta de diálogo para a determinação dos novos parâmetros. Os grupos apresentam duas preocupações: o temor de que os desfiles, em virtude das novas regras, não possam ocorrer nos locais tradicionais e que foram informados com antecedência à Belotur e de que o trânsito não seja fechado, levando a problemas, como o que ocorreu com o Baianas e o Pena de Pavão no ano passado, que tiveram dificuldades, respectivamente, para iniciar e dar sequência aos desfiles.

As exigências apresentadas pelos bombeiros, na avaliação dos organizadores dos blocos, tornam a realização da festa mais difícil. “É uma luta antiga dos blocos para que não sejamos enquadrados como eventos. Atrapalha bastante. Não só em termos práticos, mas pela imposição de um jeito de fazer carnaval que não é o nosso”, diz Marcela Pieri, de 26, uma das organizadoras do Juventude Bronzeada. Ela lembra que a Lei Estadual de Prevenção e combate a Incêndio e Pânico (Lei 14.130/2001), na qual os bombeiros se amparam, não pode ser aplicada às manifestações carnavalescas.

Os Bombeiros informaram que “para a realização de um evento temporário ou na existência de uma aglomeração de pessoas, como ocorre no carnaval, os organizadores devem tomar algumas medidas já estipuladas para garantir a segurança.” Segundo os bombeiros, é exigida a apresentação de um projeto técnico, requisito indispensável para a realização de eventos considerados de risco médio, alto ou especial, no caso com público acima de 3 mil até 10 mil pessoas; acima de 10 mil até 40 mil pessoas e acima de 40 mil pessoas respectivamente. “É importante frisar que o que importa não é a denominação: evento ou manifestação popular, e, sim, a garantia da segurança dos participantes, segurança das famílias mineiras presentes, estamos falando da missão constitucional do Corpo de Bombeiros Militar, que é promover a segurança e que não pode se eximir de fazer cumprir as leis.” De acordo com os bombeiros, foram entregues 24 projetos relacionados aos eventos de carnaval. Não foi informado quais blocos os enviaram.

A presidente da Belotur, Cláudia Pedrosa, não vê impasse. “Entendemos que o carnaval é uma manifestação cultural espontânea, um movimento autêntico que retoma o uso do espaço urbano.” Ela informou que foi criado grupo de trabalho composto por 19 órgãos da administração municipal para resolver os problemas relacionados ao trânsito. Ela lembra que, no ano passado, a autarquia foi surpreendida pela dimensão que a festa tomou, mas que, este ano, não haverá surpresas. “Este ano temos a visão de que o carnaval tem grande adesão popular. Já conhecemos a dimensão que tomou no ano passado e estamos preparados para atender ao crescimento. Descentralizamos as ofertas culturais e elevamos a qualidade de todos os serviços”, garantiu. Segundo ela, um conjunto de cabines de banheiros químicos será alocado para diferente áreas da cidade, totalizando 8 mil instalações. Não foi informado o número de cabines.

Complicações nos trajetos

Embora, ano a ano os blocos dobrem o número de foliões que levam às ruas, os organizadores se queixam de que o gerenciamento do trânsito não acompanha esse crescimento. “Em dia de folia, Belo Horizonte se transforma em uma cidade carnavalesca. É importante que os agentes de trânsito façam uma reciclagem com profissionais de cidades como Rio de Janeiro e Salvador”, sugere o vocalista do Baianas Ozadas, Geo Cardoso. Uma das idealizadoras do Tchanzinho Zona Norte, a bióloga Laila Heringer, de 32 anos, lembra que ainda não foi definido o local por onde o bloco desfilará.

A proposta é que o desfile ocorra na Avenida Sebastião de Brito, no Bairro Jaraguá, entre as ruas Irmã Eufêmia e Líbero Badaró. No entanto, segundo Laila, a BHTrans quer que o local de concentração seja mudado. “Querem que a gente saia em um lugar da avenida que inunda”, diz, afirmando que a área não oferece segurança para os foliões em caso de chuva.

A estratégia de fechar parcialmente as vias não têm sido exitosa, na avaliação dos organizadores dos blocos, que enfrentaram problemas nos trechos onde desfilaram. “É uma resistência que a gente não consegue entender. No ano passado, um ônibus tentou abrir espaço entre a multidão que ocupava a Praça da Liberdade na concentração. Foi um transtorno para todo mundo”, lembra o músico Peu Cardoso. Um dos idealizadores do Então, Brilha!, o músico Di Souza afirma que, somente no quinto ano de desfile, o bloco conseguiu que a Rua Guaicurus fosse fechada. “Tiramos até uma foto da faixa que dizia que a via estava fechada a serviço do carnaval.”

Também no ano passado, no Bairro Lagoinha, a bateria e o trio do Pena de Pavão tiveram que se separar em um trecho da Rua Itapecerica. Os organizadores afirmam que a infraestrutura ofertada na cidade não acompanha a contento a evolução do carnaval. “Os blocos sabem que todo ano o carnaval será maior, que o som terá que ser maior e mais potente. Não é possível esperar que a estrutura de três anos atrás dê conta”, contesta Marcela Pieri.

Se os desfiles passarem a ser considerados como eventos, os blocos temem ter que pagar taxas de limpeza urbana e de licenciamento, além de outros custos. A discordância sobre a natureza da apresentação dos blocos fez com que, no ano passado, a saída do Baianas atrasasse duas horas. “A Belotur entende que é manifestação cultural e não evento”, diz o vocalista do Baianas Ozadas, Geo Cardoso.

Em nota, a BHTrans informou que o órgão responsável pela organização do carnaval em Belo Horizonte é a Belotur”. O órgão informou ainda que participou de reuniões com representantes de blocos, que repassaram as demandas. “Nem tudo o que nos foi solicitado teve condições de ser atendido. Nesses casos, a empresa apresentou as alternativas possíveis. É importante ter em vista que determinadas áreas que têm proibição de estacionamento nos dias de carnaval passam a ter estacionamento permitido”, informou a assessoria de imprensa.

A presidente da Belotur, Cláudia Pedrosa, afirmou ainda que a questão do itinerário do bloco Tchanzinho Zona Norte foi resolvido, ontem, em reunião com representantes do grupo.


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