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Estado de Minas

Limpeza ainda é o melhor jeito de evitar o mosquito da dengue, zika e outras doenças

Soluções tecnológicas contra o Aedes aegypti estão longe de se tornar realidade, afirmam especialistas. A proteção contra a dengue, chikungunya e zika continua nas mãos de todos


12/12/2015 06:00 - atualizado 12/12/2015 11:29

Entulho nas ruas permite o acúmulo de água e a proliferação do Aedes aegypti, que, entre outras doenças, transmite o zika, associado a casos de microcefalia
Entulho nas ruas permite o acúmulo de água e a proliferação do Aedes aegypti, que, entre outras doenças, transmite o zika, associado a casos de microcefalia (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Mesmo com o aumento do perigo do mosquito Aedes aegypti após o Ministério da Saúde (MS) ter comprovado associação do zika vírus (veja quadro) – transmitido pelo inseto – a casos de microcefalia em recém-nascidos e das já temidas dengue e febre chikungunya, a erradicação do mosquito ainda não tem prazo para se tornar uma realidade. Pelo menos é o que avalia a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, caso não haja uma mudança efetiva de hábitos da população no sentido de eliminar criadouros do Aedes. Isso porque, além de os centros urbanos terem se desenvolvido como ambientes favoráveis à proliferação, tecnologias possíveis de serem usadas no combate definitivo estão ainda em fase de testes ou análise de viabilidade. O cenário reforça ainda mais a necessidade de ação coletiva da população, diante da constatação de 86% dos focos de dengue da capital terem sido encontrados nos domicílios, segundo o último Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa).


“Existem tecnologias promissoras. Mas, com o que está hoje disponível, ainda não é possível erradicar (o mosquito) nos países tropicais ”, afirma o secretário municipal de Saúde, Fabiano Pimenta, lembrando que o MS estuda o custo-benefício de uma vacina que apresenta 60% de proteção contra dengue. “O desenvolvimento do produto é recente, de 2014, e o uso da vacina enquanto instrumento de saúde pública só deve ocorrer no prazo de três a quatro anos, se tudo correr bem”. Por outro lado, há ainda pesquisas sobre a bactéria Wolbachia, que já coloniza outros mosquitos e impacta na competitividade biológica e viabilidade do Aedes, além de alterações genéticas em laboratório para que a fêmea, fecundada pelo mosquito transgênico, coloque ovos que vão resultar em mosquitos inviáveis do ponto de vista da transmissão de doenças.


Segundo o secretário, ainda não há, no entanto, análises definidas de custo ou de prazos. “Diante desse contexto e do panorama encontrado nos centros urbanos, nós não temos condição de falar de erradicação do mosquito”, afirmou. Ao falar do cenário nas cidades, Fabiano Pimenta lembrou que a ocupação irregular do espaço urbano, o crescimento do uso de descartáveis, as diversas formas inadequadas de armazenar água, entre outros fatores, são um desafio no controle do mosquito e no combate à transmissão da dengue, chikungunya, zika e agora, da microcefalia, que vem ocorrendo como sequela de infecção pelo vírus. E pede o apoio da população. “As pessoas têm conhecimento, mas precisam transformá-lo em atitude”, disse.


“Honestamente, não sei como fazer as pessoas saírem da inércia. O único jeito de combater o mosquito é cada um reservar 10 minutos por semana checando os criadouros da sua casa. De cada cinco residências no Brasil, quatro estão infectadas”, alerta a bióloga Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). É preciso que cada um se acostume a vigiar a presença dos mosquitos em casa. Se tem pernilongo, é porque tem água parada em algum lugar”, avisa.


Entomologista emérito da UFMG e autor de livros infantis, o professor Ângelo Machado acredita que as autoridades brasileiras demoraram a acordar para a grave realidade da nova infestação do mosquito de origem africana no país, que chegou ao Brasil no tempo dos navios negreiros e, pelo visto, já não era bem quisto por lá, pois o nome Aedes aegypti pode ser traduzido como “o odioso do Egito”.


“Agora que começaram a nascer crianças com cabeças bem pequenas (microcefalia), o governo caiu na real e agora está se preocupando com a questão da água parada, que é realmente um problema. Colocaram o exército para ajudar e até drones para monitorar. Vamos torcer para dar todo mundo começar a andar bacana, dedicando 10 minutos por semana a cuidar da questão”, avisa o especialista em libélulas.

História O mosquito chegou a ser erradicado entre 1904 e 1907 pelo pesquisador Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, na ocasião como vetor da febre amarela. Mais tarde, ele voltou ao território nacional e foi oficialmente erradicado em 1958, também em função da febre amarela. Apenas Brasil e Bolívia conseguiram tal feito. Em 1986, o país registrou a volta do mosquito, agora com o surgimento da dengue tipo I no Rio de Janeiro.

Caça aos criadouros
para evitar contágio

Um dos sinais de alerta para o perigo do Aedes aegypti está nos últimos balanços apresentados pelas secretarias municipal e estadual de Saúde. Em Minas, o número de casos de microcefalia em investigação por associação ao zika vírus passou de 11 para 29 em pouco mais de uma semana. Um deles foi descartado por testes. Em BH, foram notificados 10 casos suspeitos. Na capital, os números da dengue também assustam: foram confirmados 15.531 casos – cinco vezes mais que o ano passado – e 1.609 suspeitos estão ainda em investigação. Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte afirma manter trabalho permanente de caça a criadouros e conscientização da população.


Atualmente, 1.500 agentes de combate a endemias, que por dia realizam entre 20 e 25 visitas a residências. Em 2015, até novembro, já foram realizadas mais de 4 milhões de visitas. Outra ação é o uso do Ultra Bate Volume (UBV) Costal, produto químico, fornecido pelo Ministério da Saúde, que auxilia no combate. Somente até novembro, 46.032 domicílios foram alvo do produto, mais que o dobro dos 20 mil imóveis no ano passado. Além disso, houve 166 mutirões neste ano e nessas ações 518 toneladas de materiais e 773 pneus foram recolhidos.


Ainda assim, é comum ver focos do mosquito em lotes vagos e vias públicas. Ontem, três pneus foram encontrados acumulando água em um passeio da Avenida Antônio Carlos, no Bairro Aparecida. De acordo com o comerciante Fernando Warley de Almeida, de 34 anos, que tem uma sorveteria próximo ao local, é comum ver lixo em lotes vagos no bairro. “Depois das obras de alargamento da avenida, sobrou muitos pedaços de lote, onde moradores de rua e usuários de droga costumam jogar lixo”, disse. Ele lembrou ainda que, apesar de fazer o combate ao mosquito em sua tresidência, teme ser infectado pelo Aedes, já que o perigo está do lado de casa. Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) também alerta para as medidas de combate: eliminar qualquer foco de água parada no qual o vetor possa se reproduzir, manter casas e locais de trabalho sempre limpos e longe de qualquer possibilidade de acúmulo de água.

 


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