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Estado de Minas

Vale se manifesta 22 dias depois do desastre e anuncia fundo para revitalizar Rio Doce

Uma das donas da Samarco, mineradora não se comprometeu com montantes ou prazos


postado em 28/11/2015 11:00 / atualizado em 28/11/2015 10:46

Mortandade de peixes no Rio Doce, que já supera as 10 toneladas, é apenas um dos reflexos do desastre. Vale espera apoio de outras empresas para a revitalização(foto: Elvira Nascimento/Revista Caminhos Gerais)
Mortandade de peixes no Rio Doce, que já supera as 10 toneladas, é apenas um dos reflexos do desastre. Vale espera apoio de outras empresas para a revitalização (foto: Elvira Nascimento/Revista Caminhos Gerais)
Vinte e dois dias após o rompimento da barragem da Samarco em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, na Região Central do estado, a Vale, controladora da Samarco junto com a australiana BHP Billiton, anunciou a criação de um fundo monetário – sem valor definido – para recuperar a área devastada pela lama, especialmente para revitalizar o Rio Doce, que teve 80% de seu curso degradado, segundo admitem os próprios dirigentes da gigante da mineração. Os gestores da empresa disseram que pretendem contar não só com o dinheiro da Vale e da BHP, mas esperam que outras companhias contribuam para viabilizar os recursos necessários à recomposição do meio ambiente. Porém, não foi apresentada nenhuma estimativa de quando isso se tornará realidade. A maior mineradora do Brasil se esquivou de responsabilidades financeiras imediatas, atribuindo à Samarco o papel de sanar os problemas mais urgentes.

Vale falou pela primeira vez separadamente da Samarco quase um mês depois da tragédia. O diretor-presidente, Murilo Ferreira, reuniu quatro diretores e um consultor para responder perguntas dos jornalistas no Rio de Janeiro e abriu a entrevista falando sobre a criação do fundo. “Não é nada impositivo. É um fundo voluntário para ajudar a recuperação do Rio Doce”, disse o executivo. A diretora de Recursos Humanos, Saúde, Segurança, Sustentabilidade e Energia, Vânia Somavilla, completou que o dinheiro disponibilizado será o necessário para revitalizar o manancial. “O valor para o fundo ainda não está definido. A gente acredita que será o necessário para a recuperação do rio”, disse a diretora.

Entre os problemas a serem solucionados, Vânia Somavilla citou a revitalização de nascentes, recomposição de vegetação ciliar, desassoreamento e saneamento. Ela garantiu que o maior problema não será o dinheiro, mas sim a capacidade operacional, já que só em mudas de árvores há uma estimativa de que seja necessário plantar 500 milhões de exemplares. A capacidade de uma reserva florestal da Vale em Linhares (ES) é de 5 milhões de mudas por ano.

VENENO ‘REVOLVIDO’
Embora tenha reconhecido a presença de metais pesados associada à passagem da mancha de rejeitos pelo Rio Doce, a empresa reiterou a negativa de existência de elementos tóxicos nos rejeitos que vazaram da  Samarco. Segundo Vânia Somavilla, a lama é formada por areia e argila, além de amina, matéria orgânica usada na separação do minério. Citando relatórios do governo de Minas, a diretora disse que a presença de outros elementos em análises da água após o acidente – como chumbo, arsênico, níquel e cromo – pode ter sido provocada pelo efeito da passagem da lama “em áreas já contaminadas”. Ela alegou que esses metais tóxicos já estariam nas margens ou no leito e foram revolvidos pela corrente de lama.

Os gestores da Vale foram questionados também sobre a responsabilidade da empresa, já que ela é uma das donas da Samarco e também depositava rejeitos na Barragem do Fundão, na ordem de 5% dos totais anuais, referentes às atividades na Mina da Alegria, também em Mariana. O consultor-geral da Vale, Clóvis Torres, disse que, no ordenamento jurídico brasileiro, quem deve arcar com os prejuízos é a empresa responsável. “Se a Samarco não tiver condição de pagar por eventuais danos que teria causado pelo acidente, os acionistas poderiam ser chamados então para reparar esse dano. Não há que se falar em provisões (da Vale) neste momento”, disse Torres, garantindo que a Samarco tem condições de arcar com os prejuízos.

‘EMPRESA GRANDE’
“Talvez vocês desconheçam um pouco a Samarco. Seria interessante conhecer o que é a Samarco. Não é uma ‘empresinha’ qualquer. É uma empresa grande. Ela tem recursos próprios para pagar eventuais danos que tenham sido causados por suas operações. Neste momento, nós, enquanto acionistas, estamos buscando saber o que aconteceu”, completou Clóvis Torres. A declaração ocorre um dia depois de a Samarco ter anunciado que não disponibilizou a totalidade dos R$ 500 milhões acordados com o Ministério Público para o início das reparações, por ter sido alvo de um bloqueio de R$ 300 milhões pela Justiça de Mariana.

Já o diretor de Ferrosos, Peter Proppinga, disse que a Samarco também é a responsável pela destinação na Barragem do Fundão dos rejeitos encaminhados pela Vale. “A Samarco define um ponto fixo onde a Vale deposita o rejeito. Esse ponto fica fora do corpo principal da barragem. A Samarco redireciona os fluxos desse rejeito para redistribuir dentro da barragem que ela gerencia”, diz o diretor.

Quem também respondeu perguntas foi o diretor de Planejamento de Ferrosos, Lúcio Cavalli. Ele afirmou que a Vale tem 163 barragens em todo o Brasil, 123 delas em Minas, com destaque para o Quadrilátero Ferrífero. Cavalli disse que a empresa estuda técnicas de mineração a seco, mas admitiu que hoje o sistema de barragens é imprescindível para o sucesso financeiro das mineradoras brasileiras. “Sem barragens, o Brasil não consegue manter o nível de produção atual com produtos de qualidade para competir no mercado internacional.”

 

 


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