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Estado de Minas

"Ninguém dorme ou come direito. Só chora", diz parente de desaparecido

Além de perder tudo o que tinham, sobreviventes têm que conviver com as terríveis lembranças do momento da tragédia. E parentes de desaparecidos ainda sofrem com a angústia da dúvida


postado em 11/11/2015 20:00 / atualizado em 12/11/2015 18:52

Ver galeria . 16 Fotos Jair Amaral/EM/DA Press
(foto: Jair Amaral/EM/DA Press )

Sobreviventes da tragédia de Mariana recorrem ao atendimento psicológico para enfrentar o trauma, enquanto parentes de desaparecidos não conseguem driblar a angústia.

A cabeleireira Marlene Martins, de 40 anos, conta que sua mãe e dois irmãos, que perderam tudo no distrito de Santo Antônio de Pedras, em Mariana, não conseguem parar de chorar. "Tivemos que levar meus dois irmãos ao psicólogo. Eles perderam tudo. A única preocupação deles na hora foi com a minha mãe que tem 86 anos e tem dificuldade de andar. Meu irmão não para de repetir o que viu quando fugia e olhou para trás. O mar de lama levava os bois, as galinhas e oito cachorros. Toda a criação foi embora. As galinhas desesperadas, os cães latindo", conta.

Ela conta que a família estava preparando a casa para o Natal. "Meu irmão vendeu umas vaquinhas para comprar uma geladeira nova. Não ficou nada, nem casa, nem curral, nada", conta. A mãe dela, Maria da Conceição Martins, de 86 anos, tinha o hábito de todos os dias olhar as fotos do marido, morto há 26 anos, e hoje chora como se o tivesse perdido mais uma vez. "Acabou tudo mesmo, minha filha", vive a repetir, aos prantos, segundo Marlene, que mora em Mariana e abriga a família.

Parentes de desaparecidos também reclamam da falta de informações. Dois irmãos e duas filhas de Daniel Altamiro de Carvalho, de 53 anos, reclamam que são impedidos até de fazer reconhecimento de corpos no Instituto Médico Legal. Daniel é funcionário da Integral, que presta servicos à Samarco, e que foi levado pelo mar de lama da barragem que estourou. "O reconhecimento dos corpos só é feito primeiro pela empresa. Depois é que eles chamam os parentes. Isso só prolonga a nossa angustia", reclama o irmão de Daniel, o operador de máquinas Milton Carvalho, de 56, que mora em São Paulo e está desde sábado em Mariana em busca de notícias do irmão.

A família de Milton é de Mariana e ele conta que a última semana tem sido um pesadelo acordado para todo mundo. "Ninguém dorme ou come direito. Só chora", conta. Ele, outra irmã de Daniel e as duas filhas do desaparecidos, de 18 e 21 anos, não param de olhar a todo momento a lista dos quatro corpos não identicados que estão no IML, um deles no IML da capital. "Tudo de bom o meu irmão tinha. Era um ser humano completo", disse Milton. Apesar de já falar de Daniel no passado, ele diz ainda ter esperança de encontrá-lo vivo. "A nossa vida parou tem uma semana. A vontade é de acordar e descobrir que tudo não passou de um pesadelo" , chora Milton.

Mas uma semana depois da tragédia, bate o cansaço e diminuem as esperanças. "Os primeiros dias foram de desespero. Depois, a gente vai perdendo as forças e também as esperanças", lamenta Aline Ferreira Ribeiro, de 33 anos, mulher de Daniel Vieira Alvim, primeiro da lista dos desaparecidos. Ele é funcionário da Geocontrole Sondagens e prestava serviços para a Samarco na hora da tragédia. Samuel é de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, Grande BH, e cinco pessoas da família estão em Mariana desde a última sexta-feira em busca de notícias.

A mãe de Samuel, Maria Nilza Vieira Alvim, de 56 anos, chegou em Mariana às 23h de quinta-feira, no mesmo dia da tragédia, e passa o dia todo no posto de informações montado em uma faculdade. "Uma dor muito grande. Meu filho tem quatro filhos e a mais nova, de 4 anos, não para de me pedir para eu levar o papai dela de volta", chora a dona de casa.

VOLUNTÁRIOS Na tentativa e amenizar tanta dor, voluntários viajam quilômetros para ajudar famílias vítimas da tragédia em Mariana. A assistente social Elza Maria da Silva, de 62 anos, trabalhou até o meio-dia desta quarta-feira no Centro de saúde Viva Vida, em Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, almoçou e pegou a estrada com sua caminhonete carregada de donativos, rumo a Mariana, onde pretende ficar até sábado ajudando as vítimas. "Eu tinha dois dias de folga e resolvi ser voluntária. Telefonei sexta-feira para a Prefeitura de Mariana e eles disseram que eu poderia ajudar muito. Meus amigos e parentes recolheram donativos em Santa Luzia e em Lagoa Santa e viajei sozinha", disse.

Elza conta que ficou muito emocionada com a dimensão da tragédia e decidiu ajudar as pessoas a organizarem as suas vidas. "Reconforta o meu coração. Mais do que isso é saber que eu posso ajudar essas pessoas a ter acesso aos seus direitos", disse a assistente social. A prefeitura de Mariana estima que mais de mil voluntarios já se apresentaram para ajudar.


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