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Estado de Minas

Lama avança pelo Rio Doce e espalha prejuízos para pequenos e grandes produtores

À medida que avança pelo Rio Doce, mancha espalha prejuízos para pequenos produtores e para gigantes como a Cenibra, que estima já ter perdido R$ 32 mi


postado em 11/11/2015 06:00 / atualizado em 11/11/2015 09:44

Químicos a serviço da Cenibra fazem teste nas águas do Rio Doce. Indústria parou e não sabe quando poderá voltar a usar recurso(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Químicos a serviço da Cenibra fazem teste nas águas do Rio Doce. Indústria parou e não sabe quando poderá voltar a usar recurso (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Rio Doce, São José do Goiabal e Belo Oriente – A lama que avança pelo Rio Doce deixa um rastro de incertezas e perdas para a indústria e comércio de pequeno a grande portes, para a agricultura e para a pecuária. Os prejuízos já são calculados aos milhões por segmentos que em poucos dias sentiram o impacto da poluição causada pelo rompimento das barragens em Mariana. Das exportações que não chegaram ao porto ao leite perdido por pequenos pecuaristas, o rastro da destruição se espalha até o Espírito Santo.



A Cenibra, gigante da celulose que depende do Rio Doce para a produção, suspendeu as atividades na fábrica de Belo Oriente, no Vale do Aço, já que a captação e o tratamento da água são inviáveis, tamanha a poluição. A fábrica, que produz 1,2 milhão de toneladas ao ano de celulose, calcula um prejuízo de R$ 8 milhões ao dia. De sábado até hoje são R$ 32 milhões.

Pelo menos 1,2 mil funcionários estão em casa, aguardando orientações. “A situação do Rio Doce é uma tragédia. O pior momento da história, nos 43 anos da Cenibra em Belo Oriente”, resume Paulo Eduardo Brant, diretor-presidente da companhia. Segundo ele, o maior dilema é que não há perspectivas quanto à duração da tormenta. “Infelizmente, não sabemos quanto tempo a paralisação vai durar, uma semana, 15 dias... Foi uma redução da produção sem planejamento.”

O cálculo inclui apenas a produção da celulose já vendida, mas não contabiliza perdas como a multa pelos dias de navio parado no porto, aguardando a mercadoria, que já deveria ter sido embarcada para Europa e Ásia. Desde que a barragem se rompeu, a companhia contratou técnicos e especialistas em meio ambiente, mas a dissipação da lama depende agora da chuva e é impossível estimar prazos.

Segundo levantamento da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) pelo menos 10 fábricas dependem da água do Rio Doce, entre elas três laticínios, dois frigoríficos e a planta de celulose. “Algumas dessas indústrias usam também poço artesiano. Outras já estão recorrendo a caminhão-pipa”, informa Wagner Costa, gerente de Meio Ambiente da Fiemg. No processo industrial, a água é captada do rio, utilizada, tratada e devolvida. “A preocupação se torna ainda maior se pensarmos no consumo humano. Se a água não tem condições de ser usada pela indústria, imagine pela população?”, compara o diretor da Cenibra.


LEITE Nos 100 quilômetros a partir do ponto de rompimento da barragem concentra-se uma bacia produtora de leite. Muitos proprietários ficaram ilhados, e há relatos de pecuaristas que perderam toda a produção do dia. A fúria da avalanche de lama e detritos destruiu estradas e pequenos produtores tiveram que jogar fora o leite que não conseguiram entregar à indústria. Outro agravante são as irrigações que não têm perspectiva para ser retomadas.

A Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg) começa hoje um levantamento com sindicatos rurais das cidades atingidas pela tragédia para tentar traçar um panorama dos prejuízos. “Como a região tem a característica de concentrar produtores de pequeno porte, a recuperação é mais difícil”, considera Aline Veloso, coordenadora da assessoria técnica da Faemg.

“Temos que pensar com calma o que fazer daqui pra frente. A gente não sabe quando vão tirar essa sujeira. Tem animais mortos, corpos. É esperar uma posição deles (da Samarco), porque nem eles sabem o que fazer ainda”, afirmou Ronaldo Tozzi, sócio de um bar em Rio Doce, à beira do antigo Lago Candonga, que deixou de existir depois que a Usina Risoleta Neves precisou abrir as comportas para que a lama escoasse.

Em São José do Goiabal, na Região Central, os três principais areais da cidade estão completamente parados. A dragagem foi interrompida na sexta-feira, já que o minério suja a areia extraída do fundo do rio. “Todos aqui pararam. A água subiu muito e não tem nem previsão de quando os bancos de areia vão ficar limpos”, afirmou Gerimal da Silva Flaver, funcionário do areal Lagoa Dourada.

Luciano Araújo, presidente da Fiemg Regional Vale do Aço, diz que a captação de areia para construção civil feita por pequenas empresas já começa a enfrentar problemas e é outra preocupação para o setor.

Paulo Eduardo Brant lembra que a preocupação com a sobrevivência do Rio Doce já vinha movimentando comitês de bacias, empresas, prefeituras e população em torno de atividades conjuntas de revitalização. O rompimento da barragem da Samarco agrava de forma ainda incalculável  a saúde já bastante abalada do Rio Doce.


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