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Estado de Minas

Icam lança catálogo de livros e documentos sobre a história e cultura de Minas Gerais

Coletânea de publicações sobre a história do estado, desde o século 18, reúne 10 mil títulos. Volume será lançado dia 14, com obras preciosas para pesquisadores e leitores


postado em 05/09/2015 06:00 / atualizado em 05/09/2015 07:23

Amilcar Martins Filho, diretor do Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam), no acervo de obras raras: 45 anos de dedicação para garimpar preciosidades sobre Minas em sebos e livrarias(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Amilcar Martins Filho, diretor do Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam), no acervo de obras raras: 45 anos de dedicação para garimpar preciosidades sobre Minas em sebos e livrarias (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Vila Rica, 24 de maio de 1733. As ruas enfeitadas foram tomadas por uma multidão, num misto de festa sacra e profana, para comemorar o Triunfo Eucarístico, cortejo de trasladação do sacrário da Igreja do Rosário para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar. A inauguração do templo barroco, atual basílica de Ouro Preto, na Região Central, ficou gravada na história como a maior celebração do Brasil colonial e foi documentada, em detalhes, pelo português Simão Ferreira Machado. No ano seguinte, em Lisboa, Simão publicou um livro contando o que viu. A primeira edição do trabalho é, hoje, um dos tesouros do Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam), que vai lançar dia 14, em Belo Horizonte, a obra Livraria Mineira – Catálogo da notável e preciosa Biblioteca Mineiriana do Icam contendo mais de dez mil referências bibliográficas sobre a história e cultura de Minas Gerais.

O longo título tem explicação, diz o diretor do instituto, professor Amilcar Martins Filho, empenhado há 45 anos em garimpar preciosidades, em livrarias, sebos e leilões sobre a história de Minas. “A capa segue a programação gráfica das publicações do século 18, inclusive com letras de diferentes formatos e cores. A folha de rosto também acompanha esse padrão”, informa. Na sede do Icam, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, o diretor mostra alguns dos 12 mil títulos que reuniu, entre os quais 1,8 mil obras raras publicadas em Portugal e outras em alemão, inglês, italiano e francês, resultado das descrições de viajantes europeus às Gerais, no século 19, a exemplo de Auguste de Saint-Hilaire, Wilhelm Ludwig von Eschwege, John Mawe, Richard Burton e Louis Agassiz e Tchudi.

A paixão pelos livros sempre moveu Amilcar, formado em história, professor de história econômica do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da Academia Mineira de Letras. “Temos no Icam a maior coleção mineiriana do estado, com títulos desde o século 18. Trata-se de uma biblioteca de primeiras edições, consulta e preservação do acervo, só com obras referentes a Minas. Portanto, ela está sempre em movimento, não se esgota”, diz o professor. Bem-humorado, Amilcar confessa “dar a vida” para conquistar uma obra que ainda não tem. “Na verdade, queremos ter muitas. O inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1792) publicou três poemas em vida, o resto foi editado postumamente. Mas só temos dois, como o Na inauguração da estátuta equestre consagrada à memória à memória d’el rey nosso senhor, de 1775, em homenagem ao rei de Portugal dom José I (1714-1777).

OPÚSCULO Enquanto mostra as estantes, Amilcar vai contando casos curiosos sobre a vida dos livros. Antes de mais nada, é bom saber que um volume com até 48 páginas é chamada de opúsculo – e só daí em diante ganha o status de livro. Lembrando que no Icam há quase todas as primeiras edições dos poemas dedicados a Marília de Dirceu, por Tomás Antônio Gonzaga, inclusive uma raríssima edição de 1810. O diretor conta que, em 1800, saiu em Portugal, com a iniciais T.A.G. do autor, o poema falso, apócrifo, Marilia de Dirceo (grafia da época) – Terceira Parte. “A gente vê, na internet, poemas creditados a pessoas que nunca os escreveram, mas podemos ver que essa história é bem antiga”, brinca.

Celeiro para estudantes e professores

Nas estantes, com livros, opúsculos, periódicos (jornais e revistas), mapas e um pequeno número de manuscritos, há um celeiro fecundo para professores, estudantes, pesquisadores e demais interessados na história de Minas. Com cuidado, o diretor do Icam retira da prateleira o mais antigo impresso da coleção, feito em Lisboa na Officina de Antonio Pedrozo Galvão: o Breve Recumpilaçam e sumário das graças e indulgências concedidas aos Confrades da Virgem Nossa Senhora do Rosário, de 1704. Na folha de rosto, pode-se admirar a gravura de Nossa Senhora do Rosário, repleta de simbolismos, dando início a textos sobre a concessão de indulgências aos confrades da Virgem Nossa Senhora do Rosário, de Vila Rica, atual Ouro Preto.

E há muito mais nesse universo de conhecimento e beleza gráfica. Amilcar destaca o Aureo Throno Episcopal, Collocado nas Minas de Ouro, de autoria desconhecida, de 1749, que levou para as páginas as festividades, em Mariana, de boas-vindas ao primeiro bispo dom Frei Manoel da Cruz. Os olhos vão encontrar, com satisfação, a Historia da America Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento até o mil setecentos e vinte e quatro, de Sebastião da Rocha Pitta (1730), o Erario Mineral, de Luiz Gomes Ferreyra (1733) e a Prodigiosa Lagoa descuberta nas Congonhas de Minas do Sabará, que tem curado a varias pessoas dos achaques que nesta relação se expõe, de João Cardoso de Miranda (1749). Sobre esse último, Amilcar revela que a “prodigiosa lagoa” não é outra senão a de Lagoa Santa, na Grande BH.

No acervo, há um conjunto das primeiras edições, autografadas com dedicatórias – denominadas associated copies – dos principais escritores mineiros do século 20, incluindo Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Cyro dos Anjos, Abgard Renault. Aníbal Machado, Henriqueta Lisboa, Lúcio Cardoso e outros expoentes da literatura. E também uma grande quantidade de livros sobre histórias dos municípios e de instituições, memórias, biografias, obras sobre genealogia, dicionários e atlas.

INSTITUTO Criado em 2001, o Icam é uma organização não governamental e se mantém com recursos de leis de incentivo. O nome homenageia o médico parasitologista Amilcar Martins (1907-1990), professor da UFMG durante 60 anos, diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ) e um dos responsáveis pela implantação do antigo Instituto Nacional de Endemias Rurais, que deu origem ao Instituto René Rachou, na capital.



OBRA DE REFERÊNCIA

Lançamento de Livraria Mineira – Catálogo da notável e preciosa Biblioteca Mineiriana do Instituto Cultural Amilcar Martins contendo mais de dez mil referências bibliográficas sobre a história e cultura de Minas Gerais, com 415 páginas . O evento será dia 14, às 19h, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Bairro de Lourdes). A obra está disponível no site www.icam.org.br.


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