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Estado de Minas

Orquestra de projeto social em Pirapora está ameaçada por falta de recursos

Sinfônica formada por adolescentes carentes da cidade ajuda participantes a melhorar rendimento na escola


postado em 05/09/2015 06:00 / atualizado em 05/09/2015 14:14

Apresentação da Sinfonia do Velho Chico no lendário barco Benjamim Guimarães contagia público(foto: Emutur/Divulgação)
Apresentação da Sinfonia do Velho Chico no lendário barco Benjamim Guimarães contagia público (foto: Emutur/Divulgação)

Pirapora – O dia a dia de Matheus Júnio Gomes da Silva, de 13 anos, está mais alegre desde 2012, quando ele aprendeu a tocar sax alto: “Até o meu desempenho na escola melhorou. Vou me esforçar para continuar músico e me formar em engenharia naval”. As notas de Ângela Helena Leal Alves, da mesma idade, também estão melhores desde 2013, quando ela começou a tirar o som do clarinete. Paralelamente à carreira de instrumentista, a garota sonha “ser oficial da Marinha”.

Matheus e Ângela são músicos da Sinfônica Jovem, braço cultural da Sociedade São Vicente de Paulo em Pirapora, no Norte de Minas, a 350 quilômetros de Belo Horizonte. A orquestra é um projeto social destinado a crianças e adolescentes, em sua maioria, moradores de áreas carentes. Atualmente, o programa beneficia 120 meninos e meninas de 10 a 16 anos, mas está ameaçado por falta de recurso, mesmo diante de apresentações contagiantes como a Sinfonia do Velho Chico, onde a meninada é regida no lendário barco Benjamim Guimarães.

“O principal objetivo é formar pessoas de boa reputação. Depois, bons músicos. O custo mensal gira em torno de R$ 18 mil. Temos ajuda da prefeitura, de R$ 7,5 mil, e de algumas pessoas. Só que há um déficit de quase R$ 10 mil mensais. Existe o risco de a sinfônica acabar”, lamenta Ansfrido André de Oliveira, presidente-fundador.

A banda surgiu em março de 2011. De lá para cá, se apresentou em dezenas de cidades mineiras e de outros estados. O sonho da garotada é subir num palco no exterior, mas o desejo está condicionado à chegada de recursos, porque, como garante Oliveira, talento a meninada tem. Portas abertas também.

O cartão de visita é o famoso maestro Alex Domingos, um dos fundadores da vesperata, evento que atrai uma multidão de turistas a Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e cuja fama chegou aos outros continentes. Alex se mudou para Pirapora há quatro anos. E se inspirou na atração da cidade histórica para ajudar a fundar a Sinfonia do Velho Chico.



Nessa, os jovens músicos ocupam os três andares do Benjamim Guimarães, o único barco a vapor em atividade no planeta, enquanto o maestro, também rodeado pelo público, rege o grupo de um tablado no porto à margem direita do Rio São Francisco.

A apresentação reúne, no mesmo cenário, a banda de crianças e adolescentes e outros dois cartões-postais de Pirapora: o Velho Chico, o maior curso d’água exclusivamente brasileiro, com 2,8 mil quilômetros de extensão, e “o gaiola”, como ribeirinhos do Norte de Minas se referem ao Benjamim Guimarães, construído para navegar no Rio Mississipi (Estados Unidos) e adquirido por um empresário brasileiro na primeira metade do século passado.

Ângela Leal se tornou uma aluna mais empolgada desde que começou a tocar clarinete, em 2013(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Ângela Leal se tornou uma aluna mais empolgada desde que começou a tocar clarinete, em 2013 (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

NO LEITO DO RIO A próxima Sinfonia do Velho Chico ocorrerá hoje, às 20h – uma mesa com quatro lugares pode ser adquirida por R$ 80. O valor ajuda na manutenção da sinfônica. O repertório vai do clássico ao popular. Começa com Cisne Branco, de Antônio Manoel do Espírito Santo.

A canção é tida como o hino da Marinha – a corporação tem um quartel em Pirapora, tendo como uma das obrigações vigiar o leito do São Francisco, por se tratar de um rio que corta cinco estados: Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

O repertório inclui ainda sucessos populares de Tim Maia, Luiz Gonzaga, Jota Quest... O show dura cerca de uma hora e meia e encanta a orientadora educacional e psicopedagoga Bernadete Maria de Lourdes Rodrigues. Casada com o maestro Alex, ela é responsável por ensinar as partituras aos jovens da sinfônica. “É a parte da iniciação musical”, resume.

Joelma Santos, de 15, foi uma das primeiras a aprender a decifrar partituras na banda. Ela está no projeto desde o início. “Me apaixonei pelo som do sax-tenor. A música me ensinou a ser uma pessoa melhor. Adquiri um gosto maior pela leitura, o que fez minhas notas melhorarem na escola. O meu sonho é ser músico profissional”.

Matheus Júnio aprendeu a tocar sax alto e não se arrepende:
Matheus Júnio aprendeu a tocar sax alto e não se arrepende: "Vou me esforçar para continuar músico" (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Tom de Diamantina

Na vesperata, os músicos se posicionam nas sacadas e janelões do segundo e terceiro andares dos casarões coloniais da Rua da Quitanda, em Diamantina. Já o regente, rodeado pelo público, fica no solo. O som é favorecido em razão de a arquitetura dos casarões e da Rua da Quitanda formarem uma espécie de concha acústica. “Era uma quinta-feira de agosto de 1997. Eu, o Erildo Nascimento (então secretário de Cultura de Diamantina) e o maestro Edson Soares (da banda local da Polícia Militar) testamos uns músicos numa sacada da cidade. O som foi perfeito”, disse o maestro Alex Domingos. Ele recorda que a primeira vesperata foi uma estratégia de boas vindas a delegados da Unesco que foram à cidade apreciar o processo que, meses depois, concedeu ao município histórico o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.


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