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Estado de Minas

De brigadeiro à pipoca, jovens universitários recorrem a bicos para complementar renda

Vendendo pipoca, trufas, brigadeiros, salgados, refrigerantes e o que mais possa ajudar a pagar a faculdade e as contas no fim do mês, eles dão aula de como perseguir - e alcançar - seus sonhos


postado em 03/09/2015 06:00 / atualizado em 03/09/2015 07:20

Luan aproveita intervalos da pipoqueira para adiantar a monografia(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Luan aproveita intervalos da pipoqueira para adiantar a monografia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Atire o primeiro brigadeiro quem nunca enrolou docinhos, inventou uma venda de limonadas ou de bijuterias ou ofereceu chup-chup na vizinhança para complementar a renda na época de estudante, quando nem sempre sobra tempo para se dedicar a um trabalho fixo com carteira assinada. Todos os dias e todas as noites, um batalhão de jovens universitários enfrentam uma rotina maluca entre estudar e fazer bicos, que pode incluir até misturar monografia e pipocas no mesmo espaço. “Acordo toda manhã sem saber se vou ter grana para pagar o almoço. Só quando aperta mesmo é que ligo para os meus pais lá na Bahia”, explica o pipoqueiro universitário Luan Gonçalves, de 22 anos, que já está no 8º ano de jornalismo da Uni-BH e, uma única vez, teve de recorrer ao “paitrocínio”.


“Já fiz muita trufa de chocolate para vender na faculdade. Dá trabalho demais. Agora estou relativamente mais tranquilo, trabalhando para o meu tio no carrinho de pipocas, há dois anos. Parece que amendoim e pipoca já são uma tradição aqui de Minas”, afirma o estudante, natural de Eunápolis, Sul da Bahia, cujo pai está desempregado. A mãe atua como autônoma. Por volta das 10h30, Luan pode ser visto diariamente na esquina da Avenida Brasil com Rua Ceará, na região hospitalar de Belo Horizonte. Depois de larga serviço, às 18h30, ele segue direto para as aulas, que terminam às 22h30. “Rapaz, nunca vi um baiano que more fora da Bahia que seja preguiçoso”, brinca Luan, que não se importa em ouvir piadinhas sobre sua origem. Desde o 3º período do curso, Baiano, como é conhecido, conseguiu uma ajuda para pagar a faculdade com a bolsa do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), mas ainda depende da atividade para bancar alimentação, ônibus e o aluguel da república.

Incansável, o estudante de jornalismo também toca em botecos de BH nos fins de semana. Quando está inspirado, leva de casa o violão para o ponto da pipoca, geralmente às sextas-feiras, dando uma palinha para os clientes. Em dias mais quentes, quando o movimento da pipoca diminui, Luan improvisa uma bancada para o laptop dentro do carrinho, aproveitando para ler os textos necessários para a monografia, que são baixados de manhã cedo no computador. “Adoro essas histórias de luta. É um incentivo a mais para mim, que às vezes me acho acomodada”, confessa a cliente Renata Barral, que ouvia a história de Luan enquanto comprova pipocas para o filho Daniel, de 9.

Com o aumento do número de jovens na universidade, que saltou 81% em 10 anos, a maior oferta de bolsas do Programa Universidade Para Todos (ProUni) ou do Fies ajudou a complementar as finanças dos estudantes até o momento de pegar o canudo. Segundo o último dado Censo da Educação Superior de 2012, divulgado pelo Inep, o número de matrículas em universidades subiu, em uma década, de 3,9 milhões para mais de 7 milhões. “Dá para economizar para pagar depois a bolsa do Fies e também para acertar as despesas de casa. De manhã, vou para a faculdade estudar para não perder o foco. À tarde, fabrico alfajores e à noite, desço novamente para o prédio da Una, onde vendo os doces e uma remessa de salgados”, explica o estudante de ciências biológicas Marcos Rogério, de 31, que pretende investir no setor de tecnologia de alimentos, a ser complementado mais tarde com um curso de gastronomia.

Marcos e Samuel fizeram parceria para venda de salgados e sucos(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Marcos e Samuel fizeram parceria para venda de salgados e sucos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)

No turno da noite, ele faz parceria com o estudante de psicologia Samuel Carlos de Souza Oliveira, de 25, também da Una, que leva consigo uma bolsa térmica com refrigerantes e sucos. Chamado pelo apelido de “Suco” entre os colegas, Samuel começa a expor seus itens às 18h, na companhia de Marquinhos, para atender o pessoal que chega com fome para assistir às aulas. Depois, a dupla passa de sala em sala, nos 16 andares da Una, para atender os colegas nos intervalos. Os clientes ficam ansiosos pela chegada da comida, chamando pelo celular e WhatsApp. “Minha rotina é totalmente maluca. De manhã, ainda faço estágio e, depois da aula, presto um serviço de carona, levando alguns colegas em casa”, conta o candidato a psicólogo, de 25 anos, já casado. A esposa, de 22, se formou em administração e atua formalmente no mercado de trabalho.

Nem mesmo os 34 mil estudantes de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, que não pagam mensalidade – 7,4 mil recebem auxílio-estudante como carentes, para pagar moradia e alimentação –, escapam da necessidade de fazer bicos. “Os guardas pedem para a gente ficar longe das câmeras de segurança, pois é proibido vender aqui dentro”, conta a estudante do 9º período de psicologia Aline Avelar, de 22, que há um ano comercializa palhas italianas, cobertas por leite em pó no lugar do açúcar. “Nunca quis pedir dinheiro para a minha mãe. Quero mais independência”, afirma a estudante, que também aceita encomendas de tortas.

Perto dos bandejões do câmpus Pampulha, podem ser vistos alunos com caixinhas de mousses, alfajores veganos, bijuterias e até produtos de maquiagem. Há inclusive um grupo de três estudantes que oferece a promoção de doces a R$ 1, com o lema “ajude a financiar nossa viagem para a Europa”. Segundo a assessoria de imprensa da UFMG, o comércio nas áreas comuns da universidade tem de ser autorizado pela Reitoria. Dentro dos prédios, a venda de produtos poderá ser autorizada, com base na Portaria 47, de 25 de outubro de2013.

(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
PERSONAGEM DA NOTÍCIA

Na briga do dia a dia

João Bortolini

As histórias dos universitários que antes mesmo de conseguir o diploma se graduam em batalhar começou a ser contada a partir da rotina de João Bortolini, de 20 anos, que oferece um apetitoso brigadeiro a R$ 2, retratada na coluna Assim Vivemos. Para financiar o curso de engenharia de produção, ele precisa comercializar mais de 500 unidades. Depois do reconhecimento proporcionado pelo flagrante na Praça da Liberdade, João já pensa em abrir uma “brigaderia” na capital. “Continuo procurando emprego, mas pensei em investir no ramo. Meus cartões já estão na gráfica”, contou o jovem, que ficou feliz após receber 2.500 curtidas e 180 compartilhamentos na página do Estado de Minas no Facebook, de internautas que elogiavam seu esforço .


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