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Estado de Minas

Vereadores investigados por integrar seita suspeita de escravizar seguidores se apresentam à PF

Miguel Donizete Gonçalves (PTC), parlamentar de São Vicente de Minas, e Peterson Andrade Ferracciu (PTC), de Minduri, foram presos pela Polícia Federal (PF)


postado em 18/08/2015 20:09 / atualizado em 18/08/2015 20:20

Carros de luxo foram apreendidos na operação da Polícia Federal(foto: Divulgação/Polícia Federal)
Carros de luxo foram apreendidos na operação da Polícia Federal (foto: Divulgação/Polícia Federal)

Os vereadores Miguel Donizete Gonçalves (PTC), de São Vicente de Minas, e Peterson Andrade Ferracciu (PTC), de Minduri, ambos município da Região Sul de Minas Gerais, se apresentaram à Polícia Federal (PF) nesta terça-feira. Os dois são investigados na Operação De Volta para Canaã para combater crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e outros golpes praticados pela seita religiosa conhecida como “Comunidade Evangélica Jesus, a verdade marca”, que age desde 2005 em Minas, com ramificações em São Paulo e Bahia. Na segunda-feira, quatro líderes do grupo já tinha sido presos.

O grupo religioso, segundo a PF, arrebanhava pessoas aproveitando da fragilidade das mesmas e as convencia a doar todos os seus bens para serem aceitas em uma espécie de “mundo paralelo”. O argumento usado era de que “tudo seria de todos”. Muitas vítimas ficavam confinadas em fazendas, dormindo em alojamentos coletivos, trabalhando em situação análoga à de escravidão, sem receber nada de salário. Os investigadores estimam que o valor dos bens recebidos em doação chegue a cerca de R$ 100 milhões.

Na segunda-feira, foram cumpridos 129 mandados judiciais em Minas Gerais. A ação contou com 190 agentes federais. Os homens apontados como líderes da seita foram presos. Eles foram identificados como Pastor Cícero Vicente Araújo (líder da seita), Marcelo Vicente Dias, José Bussato e Adalberto Freitas. A PF cumpriu seis mandados de busca e apreensão e 70 ordens de sequestro de bens, como fazendas, carros, imóveis e estabelecimentos comerciais. Várias contas bancárias foram bloqueadas e o valor do dinheiro está sendo levantado.

De acordo com o delegado João Carlos Girotto, coordenador da operação, outras 47 pessoas tiveram ordem de condução coercitiva decretada. O em.com.br tentou entrar em contato com os advogados dos envolvidos, mas nenhum deles foi encontrado.

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Como funcionava a Seita

De acordo com o coordenador da operação policial em Minas, delegado federal João Carlos Girotto, de Varginha, Sul do estado, a seita religiosa buscava pessoas em situação de fragilidade e as convencia a ingressar no grupo deles. “As vítimas eram levadas para as fazendas deles para uma doutrinação. As pessoas eram orientadas a entregar todos os seus bens, como imóveis e veículos”, conta o delegado. “Os líderes da seita estipulavam os valores das doações e o tipo de trabalho a ser feito pela pessoa, sem remuneração nenhuma, por meio de uma doutrinação psicológica”, reforça Girotto. Por enquanto, segundo ele, já foram confirmados crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e formação de quadrilha.

Nas fazendas, as pessoas dormiam em alojamentos coletivos. “Encontramos casais, algumas crianças, pessoas solteiras, famílias completas. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) configurou trabalho escravo”, explica o delegado. Segundo ele, a organização criminosa é a mesma que agia em 2005 em São Vicente de Minas, no Campo das Vertentes, quando centenas de seguidores da seita começaram a chegar à cidade, vindos de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, interior paulista, onde tudo começou, segundo o delegado. “É a mesma quadrilha, que nunca parou de atuar”, conclui Girotto. Hoje, a seita possui mais de 6 mil adeptos em Minas, de acordo com a PF.

Em São Vicente de Minas, onde o Estado de Minas esteve em 2005, muitos moradores abriram mão de todos os seus bens para ingressar na seita. “No início, uma multidão de forasteiros invadiu a cidade e muitos permanecem até hoje. É uma situação meio estranha, bem nebulosa, uma espécie de máfia. Sabe como é isso: lavagem de dinheiro”, contou um morador, que pediu para não ser identificado, temendo retaliações.

As investigações apontaram que os seguidores desenvolviam vários tipos de trabalho nas fazendas e nas cidades. “Trabalhavam em estabelecimentos comerciais do grupo, como churrascarias, lanchonetes, postos de combustível e lojas de peças para carros”, disse o delegado Girotto. “A doutrinação era feita nas fazendas. Depois de doutrinada, a pessoa poderia ir para a cidade ou permanecer na fazenda, onde trabalhava na pecuária e em outras atividades, como plantação de café”, completa.


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