(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Manobras que antecederam queda de avião em BH intrigam especialistas

Decolagem é ponto chave na apuração da tragédia que deixou três mortos na Pampulha


postado em 08/06/2015 06:00 / atualizado em 08/06/2015 12:10

Ver galeria . 7 Fotos A produtora Cássia Sodré, moradora de uma cobertura no Bairro Palmares, flagrou a queda do avião na tarde de ontem. Cássia fotografava a paisagem quando percebeu o o King Air C90 em uma posição inusitada e fez vários cliques (Cássia Sodré)Cássia Sodré
A produtora Cássia Sodré, moradora de uma cobertura no Bairro Palmares, flagrou a queda do avião na tarde de ontem. Cássia fotografava a paisagem quando percebeu o o King Air C90 em uma posição inusitada e fez vários cliques (Cássia Sodré) (foto: Cássia Sodré )

O bimotor King Air C90GTi é considerado por especialistas um equipamento bastante seguro. O tempo bom da tarde de ontem, com céu azul e pouca nebulosidade, também diminui as chances de fatores meteorológicos terem influenciado na queda da aeronave. Embora por si só essas condições não sejam capazes de afastar a hipótese de falha mecânica, pilotos ouvidos pelo Estado de Minas não descartam tampouco a possibilidade de falha humana. Com base no relato de testemunhas de que o avião teria subido em um ângulo reto, de forma incomum, e de conversas que tiveram com operadores da torre de controle, eles supõem que o comandante do King Air pode ter executado uma manobra chamada de “decolagem americana” ou de "máxima performance”.

Carlos Eduardo, Gustavo Toledo e Emerson Thomazine estavam no avião(foto: Arquivo pessoal)
Carlos Eduardo, Gustavo Toledo e Emerson Thomazine estavam no avião (foto: Arquivo pessoal)


“Na decolagem americana, em vez de o piloto iniciar a subida gradual até a altitude de cruzeiro, ele segue em rasante até o fim da pista, para ganhar mais velocidade, e puxa o manche para realizar uma subida abrupta. Com isso, o avião decola com quase o dobro da velocidade habitual e atinge a altitude de cruzeiro com cerca de 15 segundos, em vez de demorar cerca de três minutos gastos na outra maneira”, explica um comandante com 26 anos de aviação, que preferiu não se identificar.

Para isso, o avião tem que estar com pouco peso. “O problema desse tipo de decolagem é que o risco de o avião perder a sustentação é muito grande. Se isso acontecer, a aeronave começa a cair, girando em parafuso.” Outro piloto ouvido pelo EM disse que o procedimento não é proibido e é seguro. No entanto, uma falha do piloto ou uma pane elétrica após a decolagem americana é mais difícil de ser corrigida. Na subida padrão, aumentam as chances de o comandante em situação de emergência encontrar uma área para descer.

O consultor aeronáutico Renato Cláudio Costa Pereira, ex-secretário da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), considera que as informações da torre de controle serão fundamentais para explicar as causas do acidente com o King Air. Se houve uma decolagem de alta performance, Pereira diz que as investigações vão apontar se foi por falha humana ou de equipamento. “Pode ter ocorrido uma falha de comando. Nesse tipo de aeronave, os comandos são por meios de cabos”, disse o consultor, que não vê motivos para o piloto fazer uma manobra do tipo.

“O controlador de voo acompanha toda a decolagem; ele tem uma visão panorâmica de toda a pista e poderá esclarecer como foi a decolagem. Não se pode falar em causas sem uma análise das variáveis, mesmo que tenha sido uma decolagem de alta performance”, explicou Pereira.“Qualquer afirmação agora é uma especulação.”

QUALIDADE Segundo especialistas, o motor canadense do avião é considerado um dos melhores do mundo. “Há um bom número desses aparelhos em Minas Gerais. É um avião seguro, robusto, e pela sua facilidade de pousar na terra, por exemplo, é muito procurado para quem precisar voar em fazendas”, diz Deusdedit Reis, coordenador do curso de ciências aeronáuticas da Universidade Fumec e ex-investigador de acidentes aéreos na Força Aérea Brasileira.“Esse é um modelo capaz de pousar e decolar em pistas curtas ou ruins. A pista do aeroporto da Pampulha sobra para ele”, aponta.

(foto: Arte Soraia Piva)
(foto: Arte Soraia Piva)


Lucas Henrique da Rocha Lopes, de 16 anos, estudante(foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)
Lucas Henrique da Rocha Lopes, de 16 anos, estudante (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)
"Minhas roupas até queimaram"

O estudante Lucas Henrique da Rocha Lopes, de 16 anos, foi a primeira pessoa a entrar na casa onde caiu o avião, no quintal da Rua São Sebastião, 150. Ele viu o casal que vive no imóvel passando para o lote ao lado e uma senhora que machucou o ombro. "Ela saiu andando no meio da poeira".

Como foi o acidente?

Estava com meus amigos jogando bola quando o avião começou a cair. Eu estava no gol e por isso vi tudo. Na hora, corri pra ajudar os pais do meu colega, que moram lá.

O que você fez?

Para entrar na casa, chutei o portão da entrada. Minhas roupas até queimaram, mas, por sorte eu estava com o meião, o que acabou me protegendo.

O que você viu?

O avião caiu em parafuso e explodiu na hora. Deu um fogão. Quando consegui entrar, uma senhora saiu andando no meio da poeira, com a roupa manchada de sangue. Ela contou ter machucado o ombro, porque a parede da casa caiu em cima dela. No local, havia também uma senhora e o marido, pais do meu colega, que estavam mexendo na horta. Ao ver que o avião ia cair, eles levantaram a cerca e passaram para o lote ao lado.

Assista ao depoimento do estudante


(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação - 10/10/14)
(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação - 10/10/14)


ACIDENTES NA GRANDE BH


  • Desde agosto do ano passado, sete ocorrências de pouso forçado ou queda de aeronave foram registradas pelo Corpo de Bombeiros na Grande BH, sendo o acidente de ontem o primeiro com vítimas no período.
  • Entre agosto e dezembro do ano passado foram registrados quatro acidentes. Em dezembro, um avião de pequeno porte caiu sobre a pista do Anel Rodoviário. O piloto não sofreu ferimentos graves e conseguiu sair andando da aeronave, depois de receber socorro de uma Unidade do Atendimento Móvel de Urgência (Samu)
  • Em novembro de 2014, outro avião de pequeno porte caiu sobre uma casa nas imediações do Aeroporto Carlos Prates. Duas pessoas ficaram feridas.
  • Em outubro foram duas ocorrências. Um helicóptero, que decolou também do Carlos Prates, caiu nas imediações de Juatuba. As duas pessoas a bordo da aeronave foram socorridas.
  • No mesmo mês, um monomotor  (foto) que havia partido do Carlos Prates, e precisou fazer pouso forçado entre Juatuba e Igarapé. Três pessoas ficaram feridas

    Ver galeria . 32 Fotos Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
    (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press )


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)