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Estado de Minas

Futuro de cão apaixonado vira assunto entre ativistas e internautas

Um dia depois de o EM mostrar romance de vira-lata que vive na rua e cadela adotada no prado, todos querem saber qual será o destino do animal. Adoção e guarda dividida são opções


postado em 30/05/2015 06:00 / atualizado em 30/05/2015 07:15

Xerife e Olívia Palito com a prole de 10 filhotes, nessa sexta, no Prado: paixão entre os dois lembra o filme A dama e o vagabundo, que inspirou gerações (foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Xerife e Olívia Palito com a prole de 10 filhotes, nessa sexta, no Prado: paixão entre os dois lembra o filme A dama e o vagabundo, que inspirou gerações (foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Quem vai ficar com Xerife, também chamado de Lord Voldemort? A pergunta passou de boca em boca nessa sexta-feira nas imediações de uma residência no Bairro Prado, Região Oeste de Belo Horizonte, onde, há mais de três meses, um cão de rua fica deitado no passeio, dia e noite, na esperança de ver sua “amada” Olívia Palito, que deu à luz, em 9 de maio, 10 filhotes do casal. Nem a chuva e o frio da manhã impediram a visita do esperto vira-lata – na quarta-feira, ele escapou da coleira de um agente de endemias do Centro de Controle de Zoonoses da prefeitura, que foi ao local capturá-lo após denúncias anônimas de que poderia atacar os pedestres. A história de amor no reino animal, publicada pelo Estado de Minas, teve grande repercussão nas redes sociais, com muita gente interessada em adotar o cachorro de pelo preto e olhos apaixonados. Ativistas da defesa dos animais sugerem que os vizinhos se unam e cuidem do bicho, dando vacina, alimento, vermífugo, casa e afeto, em vez de enviá-lo a um abrigo.

A casa da Rua Turquesa, com grade marrom, virou atração logo cedo e chamou atenção de quem passava a pé, no volante ou indo para a escola de van. “Há muito tempo estou pedindo, pela internet, para adotarem esse cachorro. Ele não pode mais ficar desse jeito, sem dono, solto por aí. Sempre o vejo parado em frente ao portão”, disse a motorista Mônica, obrigada a acelerar o carro, quando o sinal da Avenida Francisco Sá abriu para os veículos. O mestre de obras Alaerte Alves Pereira, de 53 anos, reafirmou a intenção de levar o bicho, batizado por ele de Xerife, para sua casa em Ribeirão das Neves, na Grande BH, mas notou mudanças no comportamento do animal e está pensando duas vezes antes de agir.

“Acho que ele ficou meio traumatizado com a tentativa de captura, por isso se afasta ao notar a minha presença. Gostaria muito de ficar com ele, e não descarto a possibilidade, mas agora estou preferindo um filhotinho. Xerife sempre foi dócil, não faz mal a ninguém”, comentou, ao ver a ninhada na varanda da casa sendo paparicada pela funcionária pública Tatiana de Azeredo Coutinho Ferreira e por sua mãe, a dentista aposentada Cleusa. Apaixonadas por animais, assim como toda a família, as duas moradoras deram ontem um dia especial a Xerife, que entrou na varanda de rabo em pé, cortejou Olívia Palito, saiu com ela para um passeio pelo bairro e, depois teve direito a almoço no mesmo prato, no melhor estilo A dama e o vagabundo, filme de animação dos estúdios Disney lançado há 60 anos. “É só oferecer um pouco de queijo que ele vem louco. É louco por queijo!”, disse Cleusa, com carinho. Dito e feito, e lá veio o cão com pinta de galã do pedaço.

Tatiana esclarece que gostaria de ficar com o animal, mas não há a menor chance. É que na casa moram, além de Olívia Palito – “por ser magrinha ao chegar aqui, parecia a namorada do marinheiro Popeye”, recorda-se –  Kurt Cobain, de 11 anos, nome em homenagem ao guitarrista (1967-1994) da extinta banda Nirvana. O estranho triângulo se forma, pois Kurt é louco pela cadelinha de sangue nobre e viralata, embora a paixão nunca tenha se consumado. O problema é o cãozinho não ter altura suficiente para cruzar. “Nas vezes em que Lord Voldemort, como tratamos o Xerife, entrou aqui para beber água, mordeu o Kurt. Eles brigam muito”, contou Tatiana. Ao lado, Cleusa traduziu o sentimento mútuo: “Puro ciúme”. O nome Lord Voldemort é o do vilão da série Harry Potter, mas Xerife é tratado com todo carinho pela família.

CUIDADO DIVIDIDO Há muitas sugestões para o destino de Xerife, que, até agora, só tem promessas de pretendentes à adoção, sem nada de concreto. A presidente da Associação Cão Viver, Marisa Catelli, propõe o sistema “cão comunitário”, no qual os vizinhos se unem para cuidar de um animal. “Os abrigos das organizações governamentais, os canis, enfim, todos os lugares que poderiam receber o cão estão superlotados”, afirma. “Os moradores podem se responsabilizar fazendo uma casinha na própria rua para o cachorro, além de dar vacina, vermífugos, cobertor para os dias frios, consultas no veterinário e providenciando a castração”, indicou.

Ao ler a reportagem no EM e assistir ao vídeo no portal Uai, a psicóloga Débora Vaz, moradora do Bairro São Marcos, na Região Nordeste de BH, confessa que chorou. E é candidata a adotar Xerife. “Fiquei com muita pena dele, tão romântico...”, comentou ela, que acrescentou com bom humor: “Acho que estou assim, tão enternecida, pois vou me casar”. Na opinião da psicóloga, Xerife deveria ficar com a família que já tem Olívia Palito e Kur Cobain. “Mas entendo a impossibilidade, devido ao Kurt”.

FESTA NA PORTA Por volta das 11h, Tatiana saiu com Olívia Palito com a guia, mas logo deixou a cachorrinha correr livre e solta ao lado do seu grande amor, Xerife. A parte conhecida da história dessa dupla começou pouco antes do carnaval, quando Tatiana acolheu em casa a fêmea, que, logo depois, no cio, escapuliu e voltou prenha. Não tardou muito para Xerife rondar a área e ficar de prontidão no portão da frente.

Depois da refeição ao meio-dia, hora de lamber as crias, que Olívia Palito ainda está amamentado. Se alguém se aproxima, como fez o repórter, ela dá um “chega pra lá”, marcando a roupa do intruso com a pata suja de barro. Com a netinha Luiza, de 2 anos, no colo, a pedagoga Terezinha Passos, moradora do bairro, contemplou durante longos minutos a cena de Xerife, Olívia Palito e a prole se enroscando sobre uma almofada no chão da varanda. Feliz ao contemplar a família canina, a vendedora de loja infantil Aline de Abreu não escondeu a emoção: “A natureza nos surpreende. Esse sentimento é mais bonito do que o dos seres humanos, algo inexplicável”. Já a atendente de uma loja de pet shop da Avenida Francisco Sá, Tatiane Viana, contou que Xerife é muito esperto. “Ele andava com uma coleira antipulgas, mas não está mais com ela. Tentei pegá-lo para cuidar, mas ele se assustou e mordeu a minha mão”.

 

Muitos moradores da região e pedestres pararam em frente à casa da Rua Turquesa para conhecer os cães e o curioso triângulo amoroso(foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Muitos moradores da região e pedestres pararam em frente à casa da Rua Turquesa para conhecer os cães e o curioso triângulo amoroso (foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press)
 

 

Zoonoses só age com nova denúncia

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), o agente de endemias só retornará ao Bairro Prado se houver nova denúncia de agressão. Em nota, a direção do órgão informa que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) recolhe os animais em situação de rua por meio de ações de rotina e também via demanda espontânea da população. Ao chegar à unidade, os cães são avaliados clinicamente por médico veterinário e submetidos à coleta de sangue para exame de leishmaniose visceral, informam os técnicos, ficando aguardando por três dias úteis o resgate por seus proprietários. Expirado o prazo, os animais se tornam disponíveis para adoção, após serem castrados, vacinados contra raiva e outras doenças, vermifugados e identificados com microchip e com resultado negativo para leishmaniose visceral. De acordo com o censo canino realizado em 2014, BH tem aproximadamente 283 mil cães e 64 mil gatos. Desse total, cerca de 10% têm acesso às ruas sem supervisão.

Discussão na Web

Comentários de leitores e internautas nas redes sociais

Que lindo! Ele precisa de um lar e ser castrado, afinal não dá pra deixar cachorrinhos abandonados. Estes estão bem, mas outros... vai saber.

Aline Vieira

Próximo capítulo? Se a zoonoses pegou, já era!

Raquel Colares

Excelente, em meio a tanta notícia de desastre, corrupção e outras coisas ruins, os leitores precisam de algo bom assim. Espero e torço que algum vizinho adote o xerife.

João

Em janeiro, ao chegar em casa do trabalho, fui atacado por dois cães de rua, morderam minha perna e por sorte passava um carro que atropelou os dois e me salvou. Minha esposa tinha acabado de chegar com meu filho de 3 anos. Imagina se fosse com eles? Na verdade, esses cães de rua, são, sim,  perigo para população.

Marcos

E cadê o Xerife? Ele realmente fugiu? Eu adoto ele. E a história foi muito legal..

Eduardo

Muito legal. Só aparece coisa ruim e a gente fica surpreso com uma história dessa. Tomara que essa família adote o Lord também.

Wesley


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