Pode haver presente melhor para uma mãe que a saúde do filho? Certamente, não, diriam todas que aguardam, na fila, por uma vaga no bloco cirúrgico. “O mais importante é ver minha filha bem”, garante a vendedora Danielle Freitas Vieira, de 34 anos, mãe de uma das pacientes beneficiadas pelo 9º Mutirão Nacional de Cirurgia de Criança, que contou com o apoio de 17 hospitais. Enfim, mães que viveram momentos de angústia e preocupação podem curtir, aliviadas e felizes, o dia dedicado a elas.
Promovido pela Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE), o mutirão prioriza procedimentos ambulatoriais de baixa e média complexidades, entre eles hérnia, fimose, fístula traqueal e nefrectomia, que não exigem internação. Em Belo Horizonte, a Santa Casa e o Hospital Municipal Odilon Behrens receberam pacientes durante todo o sábado. Todos foram encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Sabemos que é uma situação paliativa, porque, daqui a pouco, a fila volta a crescer, mas pelo menos o problema das crianças operadas está resolvido. O ganho definitivo para elas é inquestionável”, pondera o presidente da CIPE, José Roberto Baratella. No ano passado, 628 pacientes foram beneficiados em todo o Brasil. Satisfeito com o resultado, o especialista ressalta que a intenção não é quebrar recorde, e sim operar com segurança o número máximo que cada hospital suportar. A iniciativa começou exatamente há uma década, em São Paulo, e dois anos depois ganhou caráter nacional.
No mês passado, os médicos descobriram que o filho da cozinheira Rosilene dos Santos Carvalho, de 35, tinha um tumor no testículo. Imaginando que o processo demoraria uma eternidade, a moradora de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, já estava disposta a arrumar dinheiro para pagar a operação, que era urgente, até que surgiu a tão desejada vaga. “Estou muito feliz. É o melhor presente que poderia ganhar”, afirmou Rosilene, enquanto se despedia de Kawan Max Olinto dos Santos, de 6.
FIM DO INCÔMODO Enquanto isso, o estudante Pedro Henrique Papa, de 13, não continha a ansiedade de entrar para o bloco cirúrgico e voltar logo para casa, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Vou poder tossir e sorrir sem sentir o choquinho”, comemorava. Depois de meses de sofrimento, Valmira Cassimiro Papa, de 39, distribuía sorrisos na sala de espera, vendo a alegria do filho, que retiraria uma hérnia na virilha. “É um dia muito feliz, mesmo no hospital. Vai ser um alívio para o Pedro. Ele vai poder estudar mais e brincar”, destacou a cozinheira, que não teria condição de pagar pela cirurgia.
A Santa Casa participou pela segunda vez do mutirão, com nove cirurgiões pediátricos e 20 pacientes. “Isso chama a atenção para a necessidade de diminuir o caminho entre o diagnóstico e a realização da cirurgia”, pontuou o superintendente-geral do Grupo Santa Casa BH, Porfírio Andrade, que reivindicou mais recursos para atender a um volume maior de pacientes. A diretoria espera aumentar a importância da Santa Casa para todo o estado, grande demais para ficar restrita aos moradores da capital. Hoje, 40% dos pacientes são de fora. E também manter a qualidade do setor de cirurgia pediátrica, que realiza com sucesso procedimentos de alta complexidade, como a separação de gêmeos siameses.