(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Peça centenária é devolvida e retorna ao Palacete Dantas

Mosaico que integrava piso do prédio da Praça da Liberdade é devolvido espontaneamente. Em 12 anos, pela primeira vez um bem não religioso é entregue ao Ministério Público


postado em 07/05/2015 06:00 / atualizado em 07/05/2015 07:59

Promotor Marcos Paulo de Souza Miranda mostra placa que retrata mulher:
Promotor Marcos Paulo de Souza Miranda mostra placa que retrata mulher: "O homem que devolveu o bem, e prefere o anonimato, é pessoa culta, sensível" (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

No ano em que completa um século, uma peça em madeira pertencente ao Palacete Dantas, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, é devolvida de forma espontânea ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e, ontem mesmo, entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), órgão estadual responsável pelo tombamento do espaço público em 1977 e gestor do Circuito Cultural da praça. “É a primeira vez, em mais de uma década de campanha de resgate dos bens culturais mineiros, que registramos a devolução de um bem não religioso, curiosamente datado exatamente de um século atrás”, disse, com entusiasmo, o coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC/MPMG), Marcos Paulo de Souza Miranda.

Retratando uma mulher bem penteada, com colares de pérolas e capa, a placa de mosaico em marchetaria integrava, originalmente, o piso da sala de visitas do Palacete Dantas, que, ao longo de sua história iniciada nos primórdios do século 20, teve múltiplos usos – de residência a Secretaria de Estado de Cultura, passando clube, colégio, faculdade e delegacia de ensino. Mostrando o arame na parte de trás da madeira, Marcos Paulo conta que a peça era usada como quadro decorativo. “O homem que devolveu o bem, e prefere o anonimato, é pessoa culta, sensível. Afirmou que estava aliviado por entregar a peça centenária”, revelou Marcos Paulo.

De autoria do arquiteto e marceneiro português Manoel Ferreira Tunes, falecido no Rio de Janeiro em 1920 e morador durante alguns anos de Belo Horizonte, a obra foi feita na capital fluminense, onde recebeu premiação. Posteriormente, conforme consta do Dicionário Brasileiro de Construtores e Artista de Belo Horizonte –1894/1940, foi adquirido pelo engenheiro construtor José Dantas, para integrar a sua residência conhecida como Palacete Dantas.

Residência de José Dantas foi construída em 1915 e, mesmo sendo particular, seguiu estilo das edificações oficiais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Residência de José Dantas foi construída em 1915 e, mesmo sendo particular, seguiu estilo das edificações oficiais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

PRESENTE
Ao restituir às autoridades a placa de mosaico quadrada medindo 93,8 centímetros x 93,8 cm, com espessura de 3,5 cm e pesando cerca de 20 quilos, o homem explicou ao coordenador do CPPC que ganhara a obra de presente, de um amigo, havia mais de 30 anos. E, somente muito tempo depois, ficara sabendo que tinha sido retirada do Palacete Dantas, hoje fechado e localizado ao lado do Solar Narbona, outro elegante casarão no estilo neoclássico do conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade. Tudo indica, segundo o promotor de Justiça, que a placa de mosaico tenha desfalcado o acervo do casarão durante a restauração do prédio na década de 1980.
“Trata-se de uma obra bem-feita de marchetaria, com vários tipos de madeira de lei, mas que precisará de alguns reparos”, comentou Marcos Paulo, que foi pessoalmente ao Iepha entregar o bem à presidente da instituição, Michele Arroyo. “É um avanço na campanha. Tivemos, no fim do ano passado, a entrega espontânea de objetos que pertenceram à Fazenda da Jaguara, obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Em fevereiro, da mesma forma, foi a vez da imagem de Nossa Senhora do Rosário”, disse o promotor de Justiça.

Michele informou que será feita uma vistoria no Palacete Dantas, de propriedade do governo mineiro, para verificar a qual parte do piso a peça pertencia. Ela acredita que o piso teria sido recomposto, durante a intervenção há mais de 30 anos. “Esta devolução mostra que o trabalho do MPMG e órgãos parceiros tem dado muito certo”, afirma a presidente do Iepha.

CONSTRUÇÃO Conforme pesquisa do Iepha, a ornamentação interna do Palacete Dantas inclui tanto elementos importados, como a escadaria de ferro trabalhada, vinda da Bélgica, e o lustre de cristal da boêmia, como elementos regionais, entre eles o parquete do piso e o rodapé da sala de visitas, assinados por Manoel Ferreira Tunes. Outro artista que trabalhou no local foi o marceneiro Gabriel Antonio Galante, responsável pela execução de dois tetos (sala de visitas e de jantar) em imbuia.

Construído em 1915 e projetado pelo arquiteto Luiz Olivieri para ser a residência de José Dantas em ponto nobre, bem ao lado Palácio da Liberdade, o Palacete Dantas se distingue das demais construções residenciais de sua época por ser produto de um empreendimento particular do mesmo porte e estilo das edificações oficiais no entorno. Destinado a abrigar uma família grande e abastada, o prédio “foi planejado com generosidade de espaços e requinte ornamental”. O arquiteto e escultor italiano Olivieri, diplomado em Florença, na Itália, integrou a Comissão Construtora de BH e foi responsável pela realização de importantes obras em Belo Horizonte.

 
Outras devoluções

Em novembro, um colecionador, cujo nome não foi divulgado, levou à sede da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), em um caminhão, quatro peças de ferro que ficavam na torre esquerda da Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, na Grande BH – cruz, haste de sustentação com sete metros de comprimento, galo e esfera armilar, com o sinal do poder da Coroa portuguesa. Já em madeira, foram restituídos os dois óculos frontais (aberturas na parede para entrada de ar e luz).

Em seguida, outro colecionador, também de nome não divulgado, surpreendeu a equipe do CPPC ao entregar um conjunto de portas frontais, com duas bandeiras e duas partes superiores (sobrebandeiras), de madeira, e o conjunto de portas laterais. O ponto de partida para entrega das peças ocorreu em 20 de março de 2014, quando o coordenador do CPPC, Marcos Paulo de Souza Miranda, publicou na página de Opinião do EM o artigo “Jaguara: igreja mãe”. Os objetos devolvidos foram encaminhados pelo promotor de Justiça ao Museu Mineiro, em Belo Horizonte. Já em fevereiro deste ano, foi entregue ao MP, também de forma espontânea, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (foto).


PARA DENUNCIAR


Quem tiver informações sobre peças desaparecidas e quiser fazer denúncias pode acionar:

Ministério Público de Minas Gerais


e-mail: cppc@mpmg.mp.br ou pelo telefone (31) 3250-4620. Pode também enviar correspondência para Rua Timbiras, 2941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte. CEP 30.140-062

Iphan

Para obter ou dar informações, basta acessar o www.iphan.gov.br e verificar o banco de dados de peças desaparecidas. Denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone (21) 2262-1971, fax (21) 2524-0482, e-mail bcp-emov@iphan.gov.br ou no próprio banco online

Iepha/MG


www.iepha.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3235-2812 ou 2813

(foto: Euler Júnior/EM/DA Press - 2/3/15)
(foto: Euler Júnior/EM/DA Press - 2/3/15)


OUTRAS DEVOLUÇÕES
Em novembro, um colecionador, cujo nome não foi divulgado, levou à sede da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), em um caminhão, quatro peças de ferro que ficavam na torre esquerda da Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, na Grande BH – cruz, haste de sustentação com sete metros de comprimento, galo e esfera armilar, com o sinal do poder da Coroa portuguesa. Já em madeira, foram restituídos os dois óculos frontais (aberturas na parede para entrada de ar e luz).


Em seguida, outro colecionador, também de nome não divulgado, surpreendeu a equipe do CPPC ao entregar um conjunto de portas frontais, com duas bandeiras e duas partes superiores (sobrebandeiras), de madeira, e o conjunto de portas laterais. O ponto de partida para entrega das peças ocorreu em 20 de março de 2014, quando o coordenador do CPPC, Marcos Paulo de Souza Miranda, publicou na página de Opinião do EM o artigo “Jaguara: igreja mãe”. Os objetos devolvidos foram encaminhados pelo promotor de Justiça ao Museu Mineiro, em Belo Horizonte. Já em fevereiro deste ano, foi entregue ao MP, também de forma espontânea, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (foto).


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)