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Estado de Minas

Feira clandestina com produtos roubados funciona em BH em frente à edifício da PM e Polícia Civil

Produtos, muitos deles roubados e furtados, são vendidos livremente na Praça da Rodoviária, no Centro de BH, a poucos metros do edifício onde funciona central da PM e da Civil


postado em 26/04/2015 06:00 / atualizado em 26/04/2015 16:51

Bem em frente ao prédio pintado de amarelo, onde funciona uma central de segurança pública, na praça rio Branco, muitas pessoas oferecem produtos de diversos tipos sem nenhuma nota fiscal(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Bem em frente ao prédio pintado de amarelo, onde funciona uma central de segurança pública, na praça rio Branco, muitas pessoas oferecem produtos de diversos tipos sem nenhuma nota fiscal (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Bem à vista de delegados e policiais militares, a exatos 33 metros do edifício da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) do Centro, receptadores negociam mercadorias roubadas e furtadas com atravessadores e vendem livremente em uma feira clandestina. São dezenas de homens e mulheres que ocupam uma área de 700 metros quadrados da Praça Rio Branco (da rodoviária), no Hipercentro de Belo Horizonte, para comercializar roupas, acessórios e eletrônicos desviados de lojas ou tomados em assaltos. O ponto é um dos mais movimentados da capital, por onde passam diariamente milhares de pessoas, indo ou vindo da rodoviária ou de três shoppings populares e de algumas das maiores vias da cidade, como as avenidas Afonso Pena, do Contorno, Paraná e Santos Dumont. A reportagem do Estado de Minas passou uma tarde entre os vendedores e contou 52 pessoas, entre negociadores, olheiros e “murinhos”, como eles dizem, gente que usa o próprio corpo para bloquear a visão das transações.



Essa feira de artigos de origem ilícita se aproveita dos bancos e dos canteiros altos da praça, entre as ruas Curitiba e Caetés. Os receptadores se acomodam nesses espaços com mochilas no colo e escondendo sacolas sob os bancos, próximo às suas pernas. O que mais se vê sendo vendido são camisas, tênis, sapatos, pulseiras, correntinhas, cintos, relógios, óculos escuros e smartphones. Em volta dos negociadores, ficam os “murinhos” bloqueando a visão de quem está fora da praça, aproveitando para observar também a aproximação de fiscais e da polícia. Mas essa estratégia é pouco eficiente e não impede que qualquer um veja os artigos sendo negociados e até experimentados pelos clientes que passam pela praça.

Na esquina da Avenida Paraná com Rua Caetés, o forte são roupas e acessórios. De dentro de uma mochila escura, um homem de camisa de botões aberta tirou uma camiseta nova, ainda com a etiqueta de loja de grife, e a ofereceu a quem passava. Numa butique, a peça custaria entre R$ 80 e R$ 100, mas ali saía quase pela metade. “É 50 conto (reais). Camiseta novinha, tá lisa. Na etiqueta ainda”, disse o homem, sem qualquer preocupação. Entre tentativas de barganha para ganhar um desconto, o vendedor se mostrou muito tranquilo, sem aquele olhar preocupado característico de quem corre algum risco. Admitiu não ter notas fiscais do produto e disse que comprava de qualquer um que lhe levasse um artigo bom. “Eu sei que é produto bom, porque conheço as marcas e a qualidade. E também, se alguém me traz alguma coisa ruim, não pego mais dele”, afirmou. O mercado ali é tão intenso que a barganha para comprar por R$ 40 não dá certo. “Isso aqui (a camiseta) é igual a pão quente. Entrou na praça, eu vendo”, disse.

Ali perto, entre os vários grupinhos que vendiam objetos, um rapaz chegou apressado com uma sacola e de dentro tirou mais camisas e mostrou a outro receptador. Ele as desdobrou, conferiu o material para ver se tinha defeito e testou com os dedos a qualidade. Satisfeito, abriu a carteira com calma, passou um maço de notas de R$ 20 e R$ 10 para o rapaz e ficou com os produtos. Tudo corre muito rápido, quase sem negociação entre as partes. Com os clientes, é diferente, já que muitos pedem até para experimentar as roupas, calçados e acessórios no meio da praça.

'CABIDES HUMANOS’

Mais adiante, onde os bancos e canteiros da Praça Rio Branco formam um corredor para o centro do espaço público, as negociações são mais intensas. Dois homens passam entre as pessoas como cabides humanos de braços abertos com correntinhas dependuradas e óculos escuros à venda nas mãos. Uma turma com vários smartphones empilhados nas mãos os oferece repetindo: “Celular, celular, celular”.

Uma mulher sentada no banco mostra os modelos de sistema operacional mais comum. “O que mais sai aqui são os que têm entrada para dois chips. Os meninos trazem das lojas. Os vendedores é que tiram (desviam do comércio), mas vem coisa da rua também (roubados). A gente não manda ninguém tomar (roubar), só compra e vende. Não tem nada de mais nisso”, disse a mulher para outro cliente ainda indeciso sobre o negócio e que acabou não comprando.

Um celular com entrada para dois chips, que, segundo a mulher, é a estrela de vendas, custava R$ 350 com ela, mas não sai por menos de R$ 700 em uma loja regular. “Se você quiser, temos mais modelos. Dá para ser mais barato se for sem caixa e manual e com carregador genérico”, afirma a mulher, dando indícios de que se trata de aparelhos roubados nas ruas e que por isso não têm os acessórios de fábrica. Enquanto as conversas ocorriam, passaram pela praça várias viaturas da PM e até uma tropa de policiais montados, sem que isso tivesse qualquer impacto no decorrer das negociações.


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