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Estado de Minas

Prefeitura de BH inaugura casa de acolhimento para moradores de rua que trabalham

A unidade, com capacidade para 44 pessoas, foi construída no Bairro Carlos Prates, Região Oeste da capital


postado em 25/04/2015 16:05 / atualizado em 25/04/2015 18:04

O imóvel na Avenida Nossa Senhora de Fátima tem capacidade para 44 pessoas(foto: Pedro Ferreira/EM/D.A Press)
O imóvel na Avenida Nossa Senhora de Fátima tem capacidade para 44 pessoas (foto: Pedro Ferreira/EM/D.A Press)
Moradores de rua que conseguem emprego regular e com carteira assinada agora têm onde morar. A prefeitura inaugurou neste sábado a Unidade de Acolhimento Institucional Fábio Alves dos Santos, na Avenida Nossa Senhora de Fátima, 3.076, no Bairro Carlos Prates, Região Oeste, com capacidade para 44 pessoas com idades entre 18 a 60 anos, 14 das vagas já ocupadas. Um dos novos moradores é Daniel Irineu, de 46 anos, que viveu por 11 anos nas ruas da capital e que agora é montador de estrutura metálica. Irineu conta que durante a sua permanência nas ruas costumava algumas vezes passar a noite nos albergues da prefeitura, mas que agora tem endereço fixo. Ele poderá ficar por 18 meses no local, com possiblidade de prorrogação do prazo. “Estou vivendo uma outra vida agora, com mais tranquilidade na mente, no pensar, com mais responsabilidade no dia a dia”, comentou Daniel. Para ele, quem vive nas ruas é tratado como vagabundo ou ladrão, mas que agora ele se enche de orgulho ao dizer que tem profissão e moradia fixa. “Graças a Deus, eu sempre trabalhei, mas o mundo lá fora é cruel. Como eu estava na rua sem proteção nenhuma, sem um banho para tomar e uma roupa limpa para vestir, a sociedade via isso com muito preconceito, principalmente na hora de você se candidatar para um emprego”, comentou o montador de estrutura metálica. “O que me levou para as ruas foi o fato de acreditar muito nas pessoas. A minha família não olhava para mim. A questão dos pais era dinheiro, dinheiro, dinheiro. Uma brigalhada danada. Fiquei transtornado e resolvi me jogar ao mundo”, desabafou Daniel, que nasceu no Rio de Janeiro e foi criado em BH.

Além de moradia, os moradores da casa têm alimentação e atendimento socioassistencial. O investimento foi de R$ 2,14 milhões, com recursos do Orçamento Participativo. O projeto do prédio respeita as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e tem elevador para portadores de necessidades especiais. No primeiro piso ficam a administração, a sala de atendimento técnico, lavanderia, cozinha, refeitório, sala multiuso, instalações sanitárias e um dormitório. No segundo andar, outros seis dormitórios, vestiários, instalações sanitárias e mais uma sala multiuso.

A coordenadora da casa, Andréa Oliveira Chagas, explica que os moradores são encaminhados de outros equipamentos da prefeitura, como abrigos. “A casa oferece psicólogos, assistentes sociais e instrutores que os acompanham 24 horas. Eles são encaminhados para empregos e cursos, médicos. Há oficinas de arte e de saúde com eles. A ideia é um modelo de co-gestão onde, nesse modelo de casa, eles possam reaprender a viver numa casa, conviver com outras pessoas e dividir as tarefas”, disse Andréa. A Secretaria Municipal de Assistência Nutricional oferece alimentação e uma nutricionista. Há uma cozinheira, mas os moradores lavam louças, arrumam os quartos, lavam os banheiros e as roupas. Mesmo assim, são 20 funcionários para atendê-los. “Como todo lugar na sociedade e na nossa casa, há regras de convivência, com horário de chegar, de sair, não entrar alcoolizado ou sob efeito de drogas”, disse a coordenadora.

Para a secretária municipal de políticas sociais, Luzia Ferreira, disse que dentro da rede de serviços a criação da Unidade de Acolhimento é uma alternativa para aqueles que querem sair das ruas e ingressar no mercado de trabalho e reconstruir as suas vidas. Segundo ela, os moradores tem prazo para ficar e poderão voltar para casa de onde um dia sair ou alugar seu imóvel, havendo possibilidade de inclusão no programa Minha Casa, Minha vida. “É uma cadeia completa que a gente tem, desde a abordagem na rua, nossa rede de apoio e abrigos onde eles podem passar a noite”, disse a secretária. Segundo ela, a Unidade de Acolhimento para homens é a primeira com esse perfil a ser criada, que para as mulheres já existem as repúblicas femininas.

 Um dos novos moradores é Daniel Irineu, de 46 anos, que viveu por 11 anos nas ruas da capital(foto: Pedro Ferreira/EM/D.A Press)
Um dos novos moradores é Daniel Irineu, de 46 anos, que viveu por 11 anos nas ruas da capital (foto: Pedro Ferreira/EM/D.A Press)


PRAÇA DA LIBERDADE

O Censo da População de Rua de BH do ano passado apontou 1,8 mil pessoas vivendo nessa situação, dos quais, 1,4 mil na Região Centro-Sul, boa parte no hipercentro. Semana passado, o secretário de estado da cultura, Angelo Oswaldo, pediu apoio à prefeitura para tentar resolver a multiplicação de sem-teto no entorno da Praça da Liberdade, um dos principais cartões-postais da capital que atrai turistas pelo conjunto arquitetônico e por ser um dos mais importantes circuitos culturais do país. Prefeitura, representantes do estado, Ministério Público e polícias Militar e Civil se reuniram quarta-feira para discutir estratégias de inclusão social dos andarilhos. Um novo encontro está marcado para 6 de maio para definir um plano de ação.

O prefeito Marcio Lacerda, presente na inauguração da unidade, disse que a cada ano consegue retirar de 200 a 250 pessoas das ruas e que precisa aumentar esse número. “Nem todos os moradores de rua aceitam ir para os abrigos. Boa parte deles não aceita nenhuma espécie de disciplina, de cumprimento de horário, de regra de higiene. São pessoas que estão em um estágio de sofrimento mental, digamos, grave. É muito difícil lidar”, disse Lacerda, reconhecendo que se todos os moradores de rua resolverem buscar abrigo, o número de vagas não será suficiente. “Mas, isso não acontece. Agora, a república é um estágio mais avançado e que precisa haver uma seleção mais cuidadosa das pessoas”, disse.

Sobre o pedido de Angelo Oswaldo, o prefeito disse que não pode retirar a pessoa da rua contra a sua vontade. “Não podemos é permitir que elas prejudiquem a circulação de pessoas, que montem acampamentos. Hoje, podemos recolher os pertences que não são pessoais, aqueles que eles não podem carregar com os próprios braços”, disse o prefeito. A orientação dele é que a população não ajude os moradores de rua dando dinheiro, alimento e outros objetos como colchões. “Isso incrementa a prática de morar nas ruas”, afirmou. A secretária Luzia Ferreira disse que todos os moradores de rua são incluídos em um cadastro único, para que possam tirar documentos, e recebem carteira para tomar café da manhã, almoçar e jantar nos restaurantes populares gratuitamente.


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