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Estado de Minas

Mineiros dedicam a vida para proteger igrejas históricas

Zeladores de igrejas mineiras cuidam do patrimônio religioso e histórico como se fosse sua segunda casa e redobram atenção para organizar o interior dos templos


postado em 06/01/2015 06:00 / atualizado em 06/01/2015 07:12

"Eu me sinto guardiã de um tesouro, é como se tivesse a chave do reino de Deus; afinal, a igreja é a casa de Deus, não é mesmo?" Júlia Romana Chaves, da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Caeté, Congonhas e Ouro Preto
– Histórias e altares da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté, na Grande BH, estão bem guardados por Júlia Romana Chaves, zeladora há 31 anos da igreja barroca na qual atuou o entalhador português José Coelho de Noronha (1704-1765), mestre de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Com a certeza de quem cuida de um tesouro, Júlia mostra as chaves de ferro das portas centenárias – a maior delas mede 20cm – e afirma que se considera uma “escolhida” por trabalhar num ambiente de arte, espiritualidade e cultura. A exemplo da moradora de Caeté, outros homens e mulheres mineiros se dedicam ao ofício de observar a movimentação nos templos católicos, receber visitantes, ajudar a preparar as cerimônias religiosas e, claro, zelar pelo espaço sagrado.


Diante do altar da padroeira, Júlia conta que a igreja é sua segunda casa. “Eu me sinto guardiã, é como se tivesse a chave do reino de Deus; afinal, a igreja é a casa de Deus, não é mesmo?”, pergunta, com o semblante atento. Nesse momento da conversa com o repórter, está sendo celebrada a missa de uma turma de formandos e, com olhos espertos, a zeladora não perde um detalhe. “Trabalho com tranquilidade, sinto uma paz enorme dentro da matriz. Felizmente, nunca tive problemas e todos os padres que passaram por aqui são ótimas pessoas.”

"Aviso o tempo todo ao turista que não pode fotografar, mas muitos não entendem e insistem em desrespeitar. Zelar pelo patrimônio é minha função, cumpro as normas" - Paulo Augusto Silva, do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas

Natural do município vizinho de Nova União, viúva com três filhos e quatro netos, Júlia abre a porta lateral, de onde se avista a Serra da Piedade. Caminhando novamente em direção ao altar-mor, ela aponta os 32 anjos de madeira policromada, indica os douramentos do retábulo, as quatro colunas salomônicas e a representação da Santíssima Trindade: o Pai Eterno, o ostensório com a pomba sagrada representando o divino Espírito Santo e o sacrário, símbolo da eucaristia e de Jesus Cristo.

Na lateral do altar-mor, pode-se ver a imagem de São Caetano e a zeladora explica que, nos tempos em que a cidade ainda se chamava Vila Nova da Rainha, era ele o padroeiro. Depois, por vontade de um padre devoto de Nossa Senhora do Bom Sucesso, houve a mudança, com a entronização da imagem portuguesa da atual protetora de Caeté.

Em Congonhas, na Região Central, Paulo Augusto Silva, de 57 anos, é o zelador do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco. Há 13 anos no posto – completou a marca quinta-feira –, ele usa colete de vigilância, transmite segurança e revela: “Este cargo é de muita responsabilidade”.

“Aviso às pessoas que é proibido fotografar, mas muitos não entendem e insistem em desrespeitar. Zelar pelo patrimônio é minha função, então, cumpro as normas”, ressalta Paulo Augusto, natural de Entre Rios de Minas e residente na “cidade dos profetas” há mais de 30 anos. Num instante, o zelador pede desculpas e comenta: “Se, de repente, eu ficar olhando para outro lado, é porque estou atento a tudo. Agora, por exemplo, há muita gente”.

"Depois de me aposentar no banco, vim trabalhar aqui. Conheço bem a dinâmica da Igreja, pois comecei como coroinha na Paróquia do Pilar, aos 10 anos" - Mário dos Santos Ansaloni, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Caquende, em Ouro Preto

Os zeladores também precisam saber da história e Paulo Augusto tem as informações na ponta da língua e os nomes dos artífices que trabalharam na igreja nos tempos coloniais. Quando o turno termina, ele, que também toca o sino, é substituído por José Alves de Souza, de 63, há nove anos no santuário. “Temos que ficar igual a escoteiro: sempre alerta!”, assegura José Alves, com bom humor. “Pedimos para não tocar nas peças sacras nem fotografar. Já houve caso em que chamamos a Guarda Municipal.”

CARTÃO DE VISITAS

Muitas vezes, o zelador é o “cartão de visitas” da igreja, diz o titular da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, padre Marcelo Moreira Santiago. “Ele guarnece o templo, toma as medidas preventivas e atua como sacristão, preparando as cerimônias religiosas.” Reunindo esses e outros requisitos, Mário dos Santos Ansaloni, de 60, casado há 39 com Maria Helena, tem vida religiosa de meio século e está há quatro anos na Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Caquende, vinculada à Paróquia do Pilar.

“Comecei aos 10 anos como coroinha no Pilar, fui congregado mariano, vicentino, do apostolado da oração e ministro da eucaristia. Depois de 35 anos como bancário, me aposentei e vim para cá”, diz Mário. No dia a dia, o zelador cuida dos paramentos usados pelo padre na missa, supervisiona a limpeza e vistoria os equipamentos na nave e na sacristia.

"Conheci a capelinha primitiva, a nova foi erguida em 2000. Independentemente do tempo de construção, mantenho o mesmo carinho e atenção com o ambiente sagrado" - Lino Xavier da Purificação, da Capela de Santo Antônio, no distrito de Santo Antônio do Salto, em Ouro Preto

Nas capelas dos distritos de Ouro Preto, embora nem sempre sejam construções muito antigas, o zelo é o mesmo. Em Santo Antônio do Salto, distante 32 quilômetros da sede municipal, Lino Xavier da Purificação, de 72, mantém grande desvelo no trato com a Capela de Santo Antônio, desde 1991, quando se aposentou no setor de mineração. “Conheci a igrejinha primitiva, esta nova foi erguida em 2000. Independentemente do tempo de construção, mantenho o mesmo carinho e atenção com o ambiente sagrado”, garante, feliz da vida.

 

 

 


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