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Estado de Minas TERRA DE BONS FORASTEIROS

BH que encantou turistas na Copa do Mundo não atrai apenas pelos eventos

Belo Horizonte também palco de realizações para quem chega com a bagagem cheia de sonhos


postado em 12/12/2014 06:00 / atualizado em 12/12/2014 10:14

O francês Thierry Poquet trouxe sua arte para a capital que o encantou e se permite o trabalho social com jovens infratores(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
O francês Thierry Poquet trouxe sua arte para a capital que o encantou e se permite o trabalho social com jovens infratores (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)


Na Copa do Mundo, BH fez amigos – a Savassi e o Mercado Central que o digam. No turismo, um ano para a história. Mas a cidade é maior que os eventos. Para quem vem de fora, a capital tem a hospitalidade da boa gente do interior. É a melhor casa de portas e janelas abertas – como nas famílias que têm gosto e prazer em receber. É bem comum conhecer e querer voltar. Muitas vezes, para ficar. Desde sempre, sonhadores de outras regiões do estado vieram para aprumar na vida. De outras partes do planeta, vem gente para aprender, para ensinar.


BH é a segunda residência artística de Thierry Poquet. Em maio, o pesquisador francês, de Lille, esteve no Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de BH (Fit-BH). Na ocasião, apresentou Augenblick Dream, com a Companhia Eolie Songe. Agora, em busca de novas anotações para sua imersão nas mais variadas manifestações culturais do planeta, ele desenvolve trabalho com jovens infratores e com estudantes de artes cênicas da UFMG.

São apenas 11 meses em BH. Tempo suficiente para o norte-americano Drew Beaurline, de 24 anos, se encantar. Ele e o sócio Patrick Albert foram contemplados com programa estadual de incentivo à inovação. Os dois são fundadores da Construct e responsáveis por aplicativo para revolucionar a construção civil. “É um FaceBook para o canteiro de obras”, diz Drew.

Dessa passagem, mais próximo das comunidades carentes, Thierry diz que o que o “machuca” em BH é a narrativa dos episódios de violência, relatada nos encontros de trabalho. No grupo são seis rapazes e cinco meninas, entre 14 e 19 anos, que, de certa forma já sentiram na pele algum tipo de truculência. O multiartista de Lille tem buscado conhecer as cidades por meio das vozes de seus moradores – pobres ou ricos.
Drew nasceu em San Francisco, na Califórnia. O jovem empreendedor, que já passou por São Paulo e Rio, não vê outra cidade com maior potencial para inovação tecnológica. “É um excelente lugar, com programadores e profissionais especializados em tecnologia a custo baixo.” No entanto, percebe que a cidade ainda é conservadora, no que se refere a negócios.

O norte-americano Drew Beaurline pede uma cidade mais aberta aos negócios e às inovações(foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
O norte-americano Drew Beaurline pede uma cidade mais aberta aos negócios e às inovações (foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
Thierry explica parte de sua pesquisa: “A ideia não é tirar conclusões a partir do meu olhar. E, sim, por meio dos depoimentos de cada um. O objetivo é compartilhar esse conhecimento, essa visão particular, também com o Marrocos e com a França, trabalhando, sobretudo, o conceito do renascimento das pessoas, da vida.” Ele vê BH como “grande e complexa” para estrangeiros. “A cidade tem um coração pelo qual todo mundo é obrigado a passar.”

Para Drew, os moradores de BH precisam ser mais abertos aos negócios, aos novos sistemas. E explica que a tecnologia demanda velocidade de decisões maior do que a que o empresário da cidade está acostumado. Já Thierry vê diferenças sociais – próximas do ponto de vista urbano, do espaço físico, mas absurdamente distantes no trânsito de convivência. “O urbanismo da cidade reflete a dificuldade do diálogo entre ricos e pobres.” O diretor da Eolie Songe diz gostar do carisma e da liberdade do belo-horizontino.

Vídeo mostra a BH que os turistas descobriram na Copa e que os belo-horizontinos precisam redescobrir



Força que vem do interior

João Cipriano veio para BH em 1960, aos 16 anos. Ele deixou Viçosa, na Zona da Mata, para ajudar a construir um futuro para a família. A mãe, Maria, ficou viúva quando João era criança, com pouco mais de metro. “Joãozinho” – como é chamado – começou a trabalhar com gado para ajudar em casa. Tinha 10 anos. O eletricista, especialista em diversão, lembra com carinho dos bondes e dos ônibus elétricos. E também do melhor refúgio de outros tempos: “Na folga, era só chover e a gente corria para o cinema. Tempo bom, aquele. Tenho saudade do Cine São Geraldo, do Cine Brasil e do Art Palácio”.

João Cipriano veio de Viçosa, gostou e ficou para melhorar de vida e ajudar a família(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
João Cipriano veio de Viçosa, gostou e ficou para melhorar de vida e ajudar a família (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Amanhã, um dia depois do aniversário da cidade, Joãzinho celebra 70 anos. Fôlego de menino, espera trabalhar até pelo menos “uns 100”. “Se pudesse dar um presente à cidade, melhoraria a iluminação. É muito escura”. E se pudesse pedir um agrado? “Seria um transporte eficiente. As empresas de ônibus prestam um serviço da pior qualidade.”

Arlênio Passos do Carmo, o “Nelinho”, é de Barroada de Braúnas, no Vale do Rio Doce. Desde janeiro de 1966 BH faz parte da vida do comerciante do ramo de jornais e revistas. O colecionador de exemplares raros, sócio da mulher, Edineusa Rosa, em dois pontos de sucesso na Região Central, viu a transformação da cidade também no papel.  “Os quadrinhos eram tão populares no país que chegavam à tiragem de 100 mil exemplares. Houve época em que a leitura era a diversão da meninada.” Nelinho, dono de duas lojas, tem acervo com 200 títulos e cerca de 20 mil revistas a partir dos anos 1950. Para acompanhar as andanças dos dias, ele e a mulher promovem, na internet, leilão de raridades.

Sucesso também na venda de notícias, Nelinho acompanhou de perto, em páginas e ao vivo, mudanças para toda a história da capital de Minas. A principal delas, manchete de tristezas, por vezes, no Estado de Minas e no Diário da Tarde, foi a canalização do Ribeirão Arrudas. O colecionador conta que viu a repetição de dias de desespero com as enchentes do traçado nos anos 1970.

Arlênio Passos do Carmo acompanhou as mudanças na capital vendendo quadrinhos(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Arlênio Passos do Carmo acompanhou as mudanças na capital vendendo quadrinhos (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
São muitas as histórias de luta pela sobrevivência e pelo sucesso na capital. A de José Agostinho Oliveira Quadros, o “Nem”, de 62 anos é marcante. Vindo do Arraial de Jacarandá, no Carmo do Cajuru, Centro-Oeste de Minas, o empresário viveu até sob marquises e comeu restos de angu à baiana, sobras de vendedor ambulante. “Tempos difíceis.”

De carregador de sacolas ao cargo de presidente do Mercado Central, com 445 associados e movimento de mais de 1 milhão de pessoas por mês – uma das principais atrações durante a Copa do Mundo. O menino franzino, que tinha dinheiro apenas para a lotação até Vianópolis, se arranjou como pôde para chegar à “cidade grande”. E não só se aprumou na vida como ajudou a mãe e os 21 irmãos.

GOVERNADOR Em nota, o governador Alberto Pinto Coelho diz que “o aniversário de Belo Horizonte é motivo de orgulho para todos os mineiros. Nascida do sonho de modernidade, porém sem abrir mão das tradições de Minas, BH é contemporânea e tradicional; ciosa do passado e vibrante de futuro; pujante como as grandes metrópoles, mas aconchegante como o interior (...). Parabéns, Belo Horizonte!”.

(foto: Arquivo EM)
(foto: Arquivo EM)


OUTROS TEMPOS

No escurinho do cinema


O eletricista João Cipriano tem saudade dos cines Brasil, São Geraldo e Art Palácio. Muito antes da chegada dos shoppings, o charme de BH desfilava nos clubes e nos cinemas de rua. Além dos já citados, havia no Hipercentro os cines Metrópole, Tupi (depois Jacques), Arte Avenida (depois Royal), Acaiaca, Tamoio, México, Metrópole, Guarani, Palladium, entre outros. O Pathê, na Savassi, e o Roxy, no Barro Preto, exibiam filmes de arte. E, espalhadas pelos bairros, outras duas dezenas ou mais de salas. E vieram a TV, a violência e o inchaço da cidade, que inviabilizaram os cinemas de rua. Os pais de muitas famílias belo-horizontinas se conheceram no escurinho do cinema, com um pacote de pipoca nas mãos, curtindo, na tela, Cary Grant, Audrey Hepburn, Rock Hudson. Kirk Douglas, John Wayne, Brigitte Bardot, Rita Hayworth, Alain Delon e tantos outros astros e estrelas da era das grandes produções.

Ver galeria . 104 Fotos Aspecto da Avenida Afonso Pena, vendo à direita as obras de construcao da Igreja Sao José
Aspecto da Avenida Afonso Pena, vendo à direita as obras de construcao da Igreja Sao José (foto: )
 


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