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Estado de Minas

Belo Horizonte está aberta a todas as formas de manifestação artística

BH abriga de maneira democrática quem já produz cultura há muitos anos e quem está apenas no início dessa trajetória


postado em 12/12/2014 06:00 / atualizado em 12/12/2014 08:28

"Há uma carência enorme de possibilidades para que os jovens possam produzir fora do âmbito da escola", Berenice Menegale (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


De norte a sul, uma metrópole de belezas e mazelas. Belo Horizonte é terra de contrastes, com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) variável entre 0,5 e 0,9. O número 1 é o topo da tabela que busca mensurar vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida – saúde, educação e renda. Abismo econômico entre classes à parte, gerações de artistas mineiros ajudam a construir a diversidade cultural e transformam a vida de jovens e adultos dos barracos das favelas às mansões da Cidade Jardim.


Com 400 alunos, dos quais cerca de 100 são bolsistas, a Fundação de Educação Artística (FEA) há 50 anos ajuda a escrever a história da música popular e erudita em Minas Gerais. O endereço no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul, é sonho e luta da belo-horizontina Berenice Menegale. A escola fundada pela pianista veio da vontade de quebrar a rigidez conhecida na Europa no ensino da arte. Surge ainda do desejo natural de contribuir com a construção da cidade desenhada no coração.

Aos 80 anos, dona de fôlego e doçura de menina, Berenice fala sobre a criação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e da sede, casa para preparação e concertos, no Bairro Santo Agostinho. “Espero que o novo governo do estado não se esqueça que, com a Casa da Orquestra, vamos ter mais concertos e mais oportunidades para o público e para os artistas”, ressalta.

As lembranças pululam na memória de quem nasceu em berço de respeito à arte. Menininha, aos 3 anos, ela teve as primeiras aulas do piano para toda a vida. Guignard, que fez fama por pintar as paisagens mineiras e deu nome a importante escola de BH, era frequentador da casa da família de Berenice. A pianista relembra a importância do maestro Sérgio Magnani para a cidade; o olhar modernista de JK e o Cine Teatro Glória – palco em que conheceu, entre outros atores, Procópio Ferreira e Dulcina de Moraes.

Defensora e entusiasta dos estudantes de música, Berenice espera uma descentralização ainda maior da cultura, além das nove regionais. “Falta intercâmbio. Não só em Belo Horizonte. No país. É preciso mais oportunidades para os estudantes. Estamos muito empenhados em ampliar a atuação da fundação”, diz. A pianista lamenta que muita gente ainda não tenha acesso à música erudita na cidade. “Há uma carência enorme de possibilidades para que os jovens possam produzir fora do âmbito da escola”, avalia.

Elvécio não consegue esconder a saudade de uma BH mais pacata (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Elvécio não consegue esconder a saudade de uma BH mais pacata (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
MESTRE DO TEATRO Contemporâneo de Berenice Menegale, Elvécio Guimarães, nas artes cênicas, trilhou caminho parecido de imersão à cultura de Belo Horizonte. Ambos tiveram até passagem pelos gabinetes do poder público. Sem falar no investimento pessoal na formação de novos talentos. O Elvécio professor é chamado de mestre por pelo menos três gerações de artistas de Minas Gerais.

Para o ator, Belo Horizonte, aos 117 anos, perdeu muito de seus encantos. “Pelo menos para mim, que sou romântico. Não temos mais os boêmios, as serenatas e o que era bucólico ficou perigoso. Andar à noite? Nem pensar”, lamenta. Elvécio revela ter muitas saudades do footing da Avenida Afonso Pena, quando a alta sociedade da cidade se encontrava nos finais de tarde.

“Também tenho muitas saudades da Feira de Amostras, onde é a rodoviária. Saudade da Rádio Inconfidência com suas radionovelas e da TV Itacolomi. No Edifício Acaiaca era onde a gente desfilava a nossa beleza”, diverte-se. Nos anos 1950, Elvécio foi um dos atores que ajudaram a construir a história da telenovela brasileira. Teve oportunidades no Rio de Janeiro, mas não conseguiu deixar a terra natal.

“Satisfeito eu não estou. Mas não me entreguei. Tenho 81 anos, enfisema, e não entrego os pontos”, diz. O ator, diretor, professor e dramaturgo não esconde o dissabor com a falta de investimento em teledramaturgia em Belo Horizonte. Não consegue compreender, com tantos bons profissionais de TV na cidade – atores e técnicos – a falta de produção local de conteúdo. Para Elvécio, a cidade tem muito para avançar no que se refere à cultura.

Incansável Ainda que com apenas um terço da capacidade pulmonar, o ator trabalha no texto de A joalheria, que pretende levar aos palcos no próximo ano. De repertório, Nelson sem pecado, em parceria com o ator e produtor Guilherme Ruggio. O trabalho, inspirado em Nelson Rodrigues, é um dos destaques da próxima Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Minas Gerais.

(foto: Tainá Lima, a Criola, conta que usa o grafite como um trabalho político e social)
(foto: Tainá Lima, a Criola, conta que usa o grafite como um trabalho político e social)

Engajamento nas ruas


A grafiteira Tainá Lima, a Criola, é a voz expressa nos muros. Ela já escreveu seu nome até em Copacabana. Mas não está no Rio de Janeiro a obra mais significativa da artista de 24 anos. Está em Lourdes, na Rua Timbiras, 1.645, na Região Centro-Sul de BH. O painel de 49 metros quadrados, com o qual ela concluiu a graduação em moda pela Universidade Federal de Minas Gerais, é destaque na muralha em construção.

Modelo dos 13 aos 20 anos, Criola encontrou no grafite força e voz de contraposição no ambiente urbano. “É um trabalho político e social. Pinto para contrapor à publicidade nas ruas. É uma manifestação. Na moda, fui contratada muitas vezes porque era a ‘negra da pele mais clara’ e isso sempre me incomodou”, diz. No corpo, a roupa desenhada à mão é estampa de parte da obra no paredão.

Criola está também em outros pontos de Belo Horizonte. Alguns de seus grafites estão no Bairro Taquaril, no morro do São Lucas e na Praça Floriano Peixoto. Ela já soma mais de 10 obras espalhadas pela capital. Recém-formada, a grafiteira revela passar por “momento de introspecção”. Sonha trabalhar com Ronaldo Fraga e quer concluir a obra iniciada na Rua Timbiras, nas costas do Colégio Imaculada Conceição.

 Henry Pablo é outro poeta das ruas. Morador do Bairro Guarani, na Região Norte, Henry se prepara para lançar Noithem, com 274 poemas distribuídos em sete capítulos. “Em Noithem, a ficção esbarra na realidade e a realidade tempera a ficção com a acidez da vida cotidiana. O livro serve como um retrato de alguns dos males da sociedade contemporânea, como o individualismo, a solidão, a angústia existencial e o narcisismo”, revela.

Henry não usa o spray – como Criola – para a manifestação social e política. Faz da pena sua principal ferramenta de protesto e opinião. Também ator e performer, o multiartista faz uso do corpo para compor imagens e dar movimento aos textos. Assíduo em saraus de praças e ruas, Henry é integrante de vários coletivos de arte em Belo Horizonte.

Para o poeta, as pessoas estão aprendendo a gostar da cidade e estão ocupando com propriedade os espaços públicos. “Cresci ouvindo que em Belo Horizonte não há nada para se fazer, e isso está mudando”, observa. Henry avalia que BH não é mais lugar de passagem. “Vários pontos públicos da cidade já são espaço de destino e permanência”, conclui. (JFC)


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