Guilherme Paranaiba e Pedro Rocha Franco
A BHTrans confirma o desrespeito: segundo dados oficiais da empresa, apenas 28% dos motoristas que usam as 21.231 vagas físicas do sistema na capital obedecem as normas. A maior aposta para mudar esse quadro é a combinação de fiscalização mais ostensiva com um sistema eletrônico inovador. Até o fim de 2016, segundo a empresa, o condutor vai comprar créditos, por celular, para o ponto onde quer estacionar. O fiscal poderá consultar um banco de dados para saber se determinado carro está habilitado no sistema e emitir a autuação em caso de irregularidade.
Segundo a empresa municipal, o sistema eletrônico vai acabar com a figura do atravessador do talão do Rotativo, além de eliminar a desculpa usada por motoristas, segundo a qual é difícil encontrar uma folha para o estacionamento na correria do dia a dia. Como essa tecnologia sozinha ainda demandaria a presença dos fiscais, a empresa diz estar reajustando as vistorias por áreas da cidade. O objetivo é fazer com que equipes visitem os locais mais visados duas vezes por dia. Está em estudo ainda um método de fiscalização que também usa tecnologia para reduzir a necessidade da presença de agentes de trânsito.
De acordo com o superintendente de Implantações e Manutenção da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira, já está previsto no planejamento estratégico da prefeitura até o fim da gestão do prefeito Marcio Lacerda o funcionamento do novo sistema eletrônico de validação de créditos via celular. “Dessa forma, acabamos com a intermediação. A negociação do motorista é feita diretamente com o computador. Isso já foi pensado e agora estamos definindo como fazer a contratação”, afirma.
CONIVÊNCIA
Mas, enquanto a tecnologia não vira realidade, o festival de desrespeito se espalha pelas ruas, patrocinado principalmente pela presença de flanelinhas e pela conivência da população e de autoridades com as normas ditadas pelos “donos das ruas”. Segundo a BHTrans, o sistema foi projetado para dar oportunidade de estacionamento a 98.532 motoristas. As normas para cada quarteirão variam entre uma, duas ou cinco horas em que o estacionamento é permitido com a mesma folha, vendida por R$ 3,40 em bancas de jornal e pontos comerciais.
O problema é que o talão é facilmente encontrado nas mãos dos lavadores de carros. Como eles estão em praticamente todos os quarteirões onde há vagas, os motoristas acabam optando pela facilidade. Em muitos casos, condutores entregam as chaves para que o próprio flanelinha coloque a folha, o que normalmente só ocorre quando aparece a fiscalização.
Na Rua dos Guajajaras entre as ruas Paracatu e Ouro Preto, atrás do Fórum Lafayette, no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, depois que a equipe de reportagem do EM verificou a situação de quatro carros, um flanelinha logo interveio para saber qual era o motivo do trabalho. “Anotando as placas?”, perguntou, para saber se os “clientes” seriam multados. Não satisfeito com a resposta, o “dono da rua” ameaçou chamar a polícia.
Na última quinta-feira, o Estado de Minas encontrou uma equipe da Guarda Municipal fiscalizando o Rotativo na Rua Mato Grosso, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de BH. O inspetor João Marinho explicou que a cena mais frequente nessa situação é a correria dos flanelinhas. “É comum encontrarmos vários carros marcados com o mesmo horário, o que indica que foi o flanelinha quem anotou os dados na folha e a colocou quando viu a fiscalização chegar”, afirma. “Não podemos multar se a folha está preenchida. Mas, se conseguirmos flagrar o flanelinha colocando a folha, podemos emitir a autuação”, completou.
Apesar do desrespeito generalizado, a BHTrans sustenta que o Rotativo cumpre seu papel, já que das 98 mil possibilidades criadas pelo uso alternado das vagas físicas, a taxa de ocupação diária chega a 75,8%, com 74.708 veículos.