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Estado de Minas

Criador do famoso rochedão se afasta do Bar Bolão

Pai do tradicional PF e de receita de macarrão que alimentam a boemia de BH se afasta de tradicional restaurante do Bairro Santa Tereza devido a problemas de saúde


postado em 23/10/2014 06:00 / atualizado em 23/10/2014 07:09



“Agora, sou o garoto propaganda.” Assim, José Maria Rocha, de 65 anos, brinca sobre o afastamento da linha de frente de um dos bares mais tradicionais de Belo Horizonte, o Bolão. Devido a problemas de saúde, ele está nos bastidores, a sociedade foi desfeita e é tocada agora parte pelo irmão Sílvio Rocha, que o representa, e parte pelos sobrinhos. O Bar Bolão, um dos mais tradicionais da capital, encravado no coração do Bairro Santa Tereza, Região Leste, foi batizado com a alcunha que José Maria recebeu quando garoto, aos 6 anos. “Uma empregada da dona da casa na qual minha família morava, no quintal ao fundo, me aconselhou a não deixar ninguém me colocar apelido, porque iria pegar.” A alcunha não só lhe caiu com uma luva, como se tornou parte da identidade do empreendedor e um dos símbolos da capital nacional dos bares. “Nunca achei ruim ser chamado de Bolão. Fico bravo é se me chamarem pelo nome.”

A marca se tornou sinônimo de boa comida, o que possibilitou a expansão com a abertura de outras quatro filiais. A primeira delas, na rua Mármore, no final da década de 1980. A segunda, no Bairro Coração Eucarístico e, este ano, mais duas: no Funcionários e São Pedro, ambos na Região Centro-Sul. A expansão ocorre no momento em que é desfeita parte da sociedade familiar. O irmão Sílvio Rocha assumiu administração do Bolão 2 e das filiais, enquanto o casarão histórico, na Praça Duque de Caxias, passou a ser gerenciado pelos sobrinhos. Nos tempos áureos, Bolão servia cerca de 500 refeições por dia, quase 15 mil pratos em um mês. Atualmente, o Bolão 2 e as três filiais comercializam cerca de 700 refeições por dia. Os bares não se rendem à moda gourmet. “Não gosto dessa história de ervas não sei o quê. Não gosto de alecrim, manjericão. Gosto de sal, alho e cebola e também de folha de louro”, afirma.

Parte do charme da marca se deve a ele, homem de 1,75m, sorriso aberto e de mineiridade que se mostra na fala e na hospitalidade. Graças à habilidade de prosear com os clientes, o bar foi um dos primeiros a funcionar na madrugada. Era passagem obrigatória para quem estendia a noite, como artistas. Entre os frequentadores, músicos do Clube da Esquina, na década de 1970, e, a partir dos anos de 1990, artistas que tiveram projeção nacional e até internacional, como as bandas Skank, Sepultura e Pato Fu.

Devido a problemas de saúde, entre os quais complicações resultantes de diabetes, Bolão não fica mais à frente do bar como gostaria. Mas como o principal relações públicas, como ele se autodefine. Costuma passar as tardes proseando com a vizinhança e com clientes que frequentam o estabelecimento do Santa Tereza há décadas. Sentado na calçada, de tempos em tempos alguém se aproxima para bater papo.

O espaguete e o rochedão (arroz, feijão, batata, bife e ovo) são o carro-chefe do Bolão. As receitas foram criadas sob a batuta de José Maria. Tanto para quem mora na cidade, como para quem vem a passeio, não se pode conhecer a capital sem passar pelo bar. A ideia de servir espaguete surgiu em 1966, quando outro estabelecimento na região, que vendia a iguaria italiana, fechou as portas. Os clientes pediam e Bolão resolveu oferecer. “Aprendi a preparar. Por muitos anos, eu fazia tudo sozinho, gostava de fazer tira-gosto, como peixe frito, pé de porco e frango ao molho pardo. Aprendi a preparar com minha mãe, Maria dos Passos Rocha.”

Boa prosa

Sem atrativos, como música ao vivo, o bar conquistou a clientela pelo cardápio e pela boa prosa com Bolão. “Tinha uma turma de 40 médicos que vinha conversar, tomar cerveja e comer. Outro grupo de 25 policiais frequentava todas as sextas-feiras para cantar. Muita gente saia de festas e ia para lá”, lembra. No início, ele fechava às 20h, depois passou para as 22h, 1h, 2h. “Um dia, um freguês chegou às 4h e eu disse a cozinha estava fechada. E mostrei o relógio. A partir de então, enchi o lugar de relógios.” Eram cerca de 150 pendurados na parede, muitos deles presenteados por clientes. Mesmo com o fim na sociedade, os relógios também ficaram no casarão administrado pelos sobrinhos. “Fiquei lá 48 anos, mas foi melhor desfazer a sociedade.”

Nascido e criado em Santa Tereza, Bolão não se imagina em outro bairro. “Esse lugar é a minha vida. Toda hora passa alguém, me cumprimenta e vem conversar.” No local onde nasceu, atualmente há uma padaria. A vocação para lidar com o público já se mostrava na infância. Ainda menino trabalhou como entregador de um armazém no bairro. Por causa do diabetes, ele precisa comer de maneia comedida o espaguete a bolonhesa. Também precisa reduzir a quantidade de doces, a sua paixão. Pai de dois filhos e avó de três netos, de vez em quando ele descumpre a ordem médica. Mas, se quiser desagradá-lo, basta convidá-lo para comer frango com quiabo. Quiabo e jiló estão entre as coisas que menos gosta.

LINHA DO TEMPO

1961 - Abertura do Bolão em Santa Tereza

1970 - O bar se torna ponto de encontro dos músicos do Clube da Esquina

1989 - Abertura do Bolão 2, na Rua Mármore na esquina com a rua Tenente Durval

1994 - O bar ganha o primeiro das dezenas de relógios pendurados nas paredes. Foi criado o rochedão, prato que se tornou um clássico

2011 - Abertura da unidade no Coração Eucarístico

2014 - Abertura das unidades do Funcionários e do São Pedro


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