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Estado de Minas

Infectologista da UFMG diz que país tem estrutura para resposta rápida ao ebola

Brasil fica sabendo hoje se tem o primeiro caso de infecção pelo vírus, com o resultado do exame feito em africano. Especialista da ONU afirma que não há como controlar a doença


postado em 11/10/2014 06:00 / atualizado em 11/10/2014 06:58

O africano com suspeita de contaminação foi transportado, com todos os cuidados recomendados, para o Rio de Janeiro(foto: FABIO CONTERNO/AFP )
O africano com suspeita de contaminação foi transportado, com todos os cuidados recomendados, para o Rio de Janeiro (foto: FABIO CONTERNO/AFP )

Depois de acender o alerta com a notícia de que um paciente, oriundo de Guiné, na África, deu entrada no hospital de Cascavel, no Paraná, com suspeita de contaminação pelo vírus ebola, o Ministério da Saúde espera hoje o resultado dos exames de sangue para confirmar ou descartar o caso. O laudo está previsto para ficar pronto até o fim da manhã. O paciente Souleymane Bah, de 47 anos, não apresentou febre ou outros sintomas típicos da doença ontem e manteve quadro estável, de acordo com o boletim médico divulgado pela Fiocruz. Em entrevistas coletivas ao longo do dia, o ministro da saúde, Arthur Chioro, evitou descartar a infecção do paciente pelo ebola, apesar da ausência de sintomas. A reportagem apurou que a área técnica trata o caso como “pouco provável”. Ainda assim, o ministro reforçou que somente após o resultado do exame será possível desmontar – no caso do africano – todo o aparato previsto no protocolo de identificação e tratamento de potenciais casos de ebola.

O ministro afirmou no início da noite que o africano não teve contato com pacientes da doença em Guiné, país de origem dele. Desde que foi internado, o paciente não apresentou mais febre e seu estado é estável. “No limite, tivemos um grande aprendizado ao pôr em prática nosso protocolo em uma situação concreta”, disse o ministro Chioro, para quem seria irresponsável e inadequado tratar um caso suspeito de outra forma que não seguindo todo o protocolo internacional.

“Temos que ser muito rigorosos na padronização de caso. Não podemos deixar na interpretação subjetiva do profissional de saúde. Foi isso que fez com que, nos Estados Unidos, um caso leve fosse mandado de volta para casa, depois confirmado para ebola”, explicou Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde. A amostra de sangue do africano foi testada para o vírus ebola no Instituto Evandro Chagas, em Belém. Conforme orienta o protocolo internacional, 48 horas depois do primeiro exame, o paciente fará um segundo teste para confirmar o resultado.

Souleymane Bah desembarcou no Brasil, vindo de Guiné e com escala no Marrocos, em 19 de setembro, via Guarulhos, segundo registros oficiais colhidos pelo governo federal. Deu entrada em uma unidade de saúde de Cascavel (PR) na tarde de quinta-feira, alegando sentir febre, dor de garganta e tosse. Apesar de não apresentar quadro febril quando chegou à unidade de pronto-atendimento (UPA), foi classificado como o primeiro caso suspeito de ebola no país por seu histórico de viagem nos 21 dias anteriores e pelo relato de febre. Ele foi isolado e transferido em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio, na madrugada de ontem.

Ainda está pouco clara a rota do paciente, que se diz refugiado político, até chegar a Cascavel. O governo explica que, em termos de saúde pública, porém, é de pouco interesse esse trajeto, já que o ebola só é transmitido após o início dos sintomas, o que, nesse caso, ocorreria a partir da última quarta-feira. "Quero destacar que a situação está sob controle, todos os procedimentos do protocolo foram efetivamente aplicados com muito êxito”, disse o ministro.

O ministro Arthur Chioro espera o diagnóstico para definir próximo passo(foto: Antônio Cruz/Agência Brasil )
O ministro Arthur Chioro espera o diagnóstico para definir próximo passo (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil )

Apesar da situação de alerta geral, o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambas, afirma que um ponto é positivo. “A doença não tem contágio aéreo. A transmissão ocorre por meio de fluidos do paciente infectado. Já Enfrentamos o H1N1e a resposta foi adequada. Além disso, a rede pública de saúde é bem capilarizada no Brasil inteiro e tem estrutura capaz de atender com resposta rápida e eficiente”, diz.

Técnicos do ministério enviados ao Paraná identificaram, em conjunto com a secretaria local, 64 pessoas que estiveram em contato com Bah desde o início dos sintomas. Dessas, 60 estavam dentro da UPA e quatro compartilhavam moradia com o paciente. Três dos contatos da UPA são profissionais de saúde que tiveram acesso direto ao africano e terão suas temperaturas conferidas duas vezes ao dia; os demais terão a temperatura medida uma vez por dia, durante 21 dias. Nenhum ainda apresentou sintomas.

O governo mantém ações para a identificação do ebola no Brasil. Jarbas Barbosa argumenta que medidas como o controle de temperatura de viajantes, na chegada ao país, têm pouco efeito prático, já que eventuais passageiros infectados podem chegar assintomáticos. Segundo ele, é mais eficaz fortalecer alertas nos serviços de saúde. Em nota, o ministério informou que notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o primeiro caso suspeito de ebola no Brasil.

Ainda segundo o ministério, o Brasil vai ampliar a ajuda humanitária a Guiné, Serra Leoa e Libéria, com a oferta de mais 10 kits para o atendimento às vítimas – cada um dá para cuidar de 500 pacientes por três meses – e cerca de R$ 13,5 milhões em arroz beneficiado e feijão. Nova ajuda em dinheiro deve ser anunciada na próxima semana, para se somar a US$ 500 mil já doados.

Mortes passam de 4 mil

Genebra – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou seu mais recente relatório sobre a epidemia de ebola que atinge a África Ocidental e começa a se disseminar por outros continentes. Segundo a entidade, o número de pessoas mortas subiu para 4.033, em 8.399 casos em sete países, até 8 de outubro – 2.316 na Libéria, 930 em Serra Leoa, 778 na Guiné, oito na Nigéria e um nos EUA. Há ainda um caso na Espanha e outro em Senegal, mas nenhuma morte.

O representante especial da ONU para o ebola, David Nabarro, afirmou que o número de casos provavelmente vai dobrar a cada três ou quatro semanas. Disse que a resposta precisa ser 20 vezes maior do que está sendo até agora, para controlar o rápido avanço do vírus (veja como ele age na arte acima). Nabarro alertou a Assembleia Geral da ONU que é preciso uma mobilização maciça em todos os países, todas as organizações doadoras e grupos não governamentais para apoiar a África Ocidental. “Será impossível controlar a doença e o mundo vai ter de viver com ebola para sempre.”

O vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson, lamentou que apenas um quarto do US$ 1 bilhão que as agências da ONU pediram para controlar o ebola tenha sido doado. “Agora, apelo a todos os Estados membros para agir depressa.”. Ontem, o Congresso dos EUA liberou US$ 750 milhões para o combate ao vírus. Na Espanha, onde ocorreu o primeiro caso de contaminação fora da África, mais sete pessoas, totalizando 14, foram internadas na área de isolamento do Hospital Carlos III, em Madri.

O Peru reforçou ontem um plano de prevenção de saúde, que inclui uma simulação de tratamento, diante da eventual propagação do vírus no país, coincidindo com o surgimento de um caso suspeito no Brasil.


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