Verdes, vermelhos, amarelos, rosas. Onde eles chegam fazem sucesso e chamam a atenção das crianças. Vendidos a R$ 2, os pintinhos coloridos desaparecem rapidamente das feiras que acontecem nas cidades da região do Vale do Aço, em Minas Gerais. No entanto, a alegria dos novos donos não dura muito. As pequenas aves acabam morrendo dias depois de serem adquiridas. O que os clientes não sabem é que a tinta usada nos pintinhos é altamente tóxica para eles. A prática configura crime de maus-tratos, previsto no artigo 32 da Lei 9.605 de 1998, com pena que varia de três meses a um ano de prisão e multa.
O caso veio à tona na semana passada, quando dois homens foram presos vendendo as aves em uma feira na cidade de Timóteo. Com sede em Coronel Fabriciano, o Pelotão de Meio Ambiente do Vale do Aço recebeu informações de que o comércio estava acontecendo em feiras de bairro há alguns dias. Por meio das redes sociais, a população começou a divulgar muitos casos em que os filhotes estavam morrendo, o que levantou a suspeita de que a tinta aplicada neles poderia ser tóxica.
“Na última sexta-feira, recebemos informações de que eles estariam vendendo em Timóteo. Fomos pra lá e fizemos a apreensão de todos os pintinhos coloridos”, explica o comandante do Pelotão, tenente Átila Porto. Dois homens, naturais de Pernambuco, foram presos. Eles estavam com quase 700 aves. “Pedimos que a bióloga da região examinasse, e ela constatou que tratava-se de anilina, que é altamente tóxica para os pintinhos. Fatalmente levaria à morte, como já está levando."
Ainda na sexta-feira, 680 pintinhos foram levados para o Centro de Biodiversidade da Usipa (Cebus), em Ipatinga, onde são acompanhados pela bióloga Cláudia Diniz e um veterinário. As aves estão no setor de quarentena, com uma lâmpada para manter a temperatura. Além da alimentação normal, eles estão recebendo um suplemento vitamínico. Mesmo com todos os cuidados, 60% dos pintinhos morreram, mas, de acordo com a bióloga, o número de mortes está diminuindo.
“A anilina produz um complexo que evita a ligação do oxigênio com a hemoglobina. Então, eles morrem por asfixia”, explica Cláudia Diniz. Segundo ela, em grandes dosagens, a tintura – que é usada na indústria alimentícia e têxtil – pode ser tóxica para seres humanos. Na quantidade aplicada, a substância é letal apenas para as aves. “Como o pintinho é recém-nascido, ele não tem as defesas do organismo." Entre as vitaminas oferecidas aos filhotes na Cebus está a B12, que forma nova hemoglobina, segundo Cláudia.
ALERTA Diante da repercussão do caso, a Coordenadoria Regional de Governador Valadares do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) encaminhou uma circular para os outros 11 escritórios da região alertando sobre a venda das aves.
“O produto (tinta) utilizado na pintura dos referidos animais é desconhecido quanto a sua origem, composição e possível inexistência de testes em animais, podendo causar problemas nessas aves, de ordem fisiológica (neurológicas, respiratórias, circulatórias, neuromotores, desde outras), morfológicas, comprometimento e/ou lesões em locais como pele, olhos, penas, entre outras) e ainda comprometimento de tecidos e órgãos”, diz a nota do IMA. “Salienta-se ainda efeito desconhecido dessa tinta ao homem, considerando a interação que existe entre essas aves e os seres humanos, principalmente as crianças”, finaliza.
O fiscal estadual agropecuário do IMA em Valadares, Marcelo de Aquino, explica que a regional não foi informada oficialmente sobre o produto usado para tingir as penas das aves e ainda não foi feito um teste ou análise do material pelos técnicos do instituto no município. Além do memorando, o IMA regional também divulgou uma carta à população sobre o caso. Aquino também afirma que a regional aguarda a orientação da sede, em Belo Horizonte, para saber quais outras atitudes devem ser tomadas.
DENÚNCIA Ainda de acordo com o tenente Átila Porto, as aves vieram do Nordeste. “A argumentação é que eles adquiriam os pintinhos de alguém que vinha de Pernambuco para Valadares, colocavam numa caminhonete, que é um veículo mais rápido, e vendiam. Depois que essa ocorrência veio à tona na mídia, tivemos notícias de que eles estiveram em outras cidades próximas. Eles estavam rodando especialmente em cidades pequenas”, explica o tenente, que desconfia que as aves eram repassadas para outras pessoas, além dos homens detidos. O militar foi informado de que a dupla deve responder ao processo de crime ambiental em liberdade.
O tenente Átila Porto destaca que, quem tiver alguma informação sobre a venda dos pintinhos coloridos, ou outros crimes ambientais no Vale do Aço, deve fazer a denúncia no (33) 3825-7633, ou pela internet no portal da 12ª Região da Polícia Militar, no link Net Denúncia, de forma anônima. Em outras regiões do estado, é preciso ligar para o Disque Denúncia 181.