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Estado de Minas

Parentes da motorista de micro-ônibus morta na queda de viaduto cobram punição

Os familiares voltam a trabalhar na linha que passa pela Pedro I e tentam superar trauma. Eles cobram responsabilidades


postado em 22/08/2014 06:00 / atualizado em 22/08/2014 07:23

Tiago Carlos dos Santos dirige novo micro-ônibus da família perto da área interditada por queda de viaduto: depois da morte da irmã, tem sido dolorido para ele passar pelo local(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Tiago Carlos dos Santos dirige novo micro-ônibus da família perto da área interditada por queda de viaduto: depois da morte da irmã, tem sido dolorido para ele passar pelo local (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O motorista Tiago Carlos dos Santos, de 28 anos, começou a chorar ao volante. Pelo espelho retrovisor, percebeu que lágrimas também escorriam pelo rosto da tia, a cobradora Teresa Cristina Santos, 48. Na terça-feira, os dois circularam pela primeira vez no novo micro-ônibus da família. As lembranças se avivaram quando eles passaram perto da área interditada onde permanece de pé a alça norte do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I. No dia 3 de julho, a alça sul caiu e esmagou parte do antigo coletivo, matando a condutora Hanna Cristina Santos, de 25, irmã de Tiago. “Estamos tentando voltar ao trabalho, mas está sendo muito difícil”, diz.

O micro-ônibus destruído pelo desabamento, da linha Suplementar 70 (Conjunto Felicidade/Shopping Del Rey), era o que garantia a renda de Hanna e seus parentes. Desde o incidente, a família estava impedida de trabalhar. Pago pela construtora responsável pela obra do viaduto, a Cowan, o novo veículo foi entregue no dia 8. Na última terça-feira, depois de 46 dias parado e resolvidas algumas pendências burocráticas, Tiago retomou o posto de motorista. Antes, ele dirigia o coletivo durante a manhã e a irmã, no turno da tarde. Agora, o rapaz não tem com quem revezar. “Estou trabalhando porque preciso, é o que dá nosso sustento, mas não sei se vou continuar. Não estou feliz”, diz.

A função de cobrar as passagens deixou de ser feita pela mulher de Tiago, Débora Nunes Reigada, de 30, que trabalhava no momento do acidente e ainda se recupera dos ferimentos – fraturou o maxiliar, quebrou um dente e teve cortes na testa e na boca. “Ela parou de tomar remédio para a dor, mas talvez tenha de fazer uma cirurgia para corrigir o maxilar. Ela está fazendo acompanhamento psicológico. Acho que não volta ao emprego”, conta Tiago. Débora dividia o posto de cobradora com uma irmã de Tiago e Hanna, Priscila dos Santos, que desistiu do trabalho. “Ela não tem condições, está muito abalada”, explica Cristina, que se alterna no cargo com um irmão de Débora.

No dia do acidente, consternada, Cristina faltou ao emprego de motorista em uma empresa de transporte de passageiros. “Não voltei mais e eles me demitiram”, relata. Ela aceitou a função de cobradora para auxiliar a família, mas não sabe por quanto tempo prosseguirá. A interdição da Pedro I mudou o trajeto do micro-ônibus, mas ele ainda passa próximo ao que resta do viaduto. Nos três primeiros dias, o cenário fez a mulher chorar. Ontem, ela vestia uma camisa com uma foto de Hanna sorridente e a frase: “Hanninha, nossa heroína guerreira, saudades eternas... Te amamos pra sempre!”. “Ela podia estar passando o que fosse, mas sempre tinha um sorriso. Não tinha jeito de ficar triste perto dela”, lembra a tia.


Filha
Cristina é irmã da dona de casa Analina Soares Santos, de 52 anos, mãe de Hanna, Tiago e Priscila. A filha de Hanna, A.C., mora com Priscila, Analina e o avô materno, o aposentado José Antônio dos Santos, de 61. A criança completou 6 anos no dia 7 deste mês. “A Hanna já estava planejando a festa. Não havia clima, mas decidimos realizar a vontade dela”, diz Cristina. A celebração ocorreu em um sítio da família no município de Florestal, na Região Central mineira. Os parentes produziram um vídeo com fotos de Hanna, desde quando ela era um bebê. Outro vídeo tinha imagens da moça com a filha. Ambos foram exibidos em um telão.

A criança estava no micro-ônibus no momento do desabamento e sofreu ferimentos leves. A mãe tinha levado a garota, que estava de férias, para lhe fazer companhia. Ela está sendo acompanhado por uma psicóloga. Às vezes, pede para ver fotos da mãe. “Ela sabe o que aconteceu, mas não sabe o que é a morte. Sabe que um viaduto caiu em cima da mãe, mas não a consequência disso. Acha que a mãe vai voltar um dia”, diz Cristina. A família tenta explicar aos poucos, com delicadeza. “A gente diz que ‘papai do Céu’ precisou da mãe dela, que virou uma estrela”, relata a mulher. Uma noite, a menina olhou para cima e perguntou: “Aquela estrela que tá brilhando é minha mãe?”. Cristina respondeu: “É, sua mãe sempre vai estar ao seu lado”.

A psicóloga que acompanha Débora e a filha de Hanna está sendo paga pela Cowan, segundo Tiago. Ele diz que a construtora também se comprometeu a ressarcir os familiares pelos dias em que não trabalharam por falta de um micro-ônibus. O veículo é o quinto da família. José Antônio é permissionário desde 2001, mas se aposentou anos mais tarde, ao ser diagnosticado com câncer na garganta, do qual conseguiu se recuperar. Analina, que era cobradora, abandonou o posto na mesma época, para ajuda o marido a se tratar. “Meu pai é mais reservado. Ele está sofrendo, mas você não vê ele chorando. A primeira e única vez que vi ele chorar foi quando viu Hanna no caixão”, conta o filho.

Laudo As investigações da Polícia Civil sobre o desabamento são coordenadas pelo delegado Hugo e Silva. O inquérito concluiu que o bloco de fundação sob esse pilar se rompeu, o que fez a estrutura ruir. Não se sabe, porém, por que o bloco se partiu, embora a Cowan aponte erros de cálculo no projeto executivo, feito pela Consol, que nega as falhas. Cristina se queixa da demora para os culpados serem punidos: “Os responsáveis botam a cabeça no travesseiro e dormem tranquilamente, o que não conseguimos fazer desde o acidente. É revoltante”. Procurada pelo EM, a Cowan informou por meio de nota que “desde o dia 3 de julho está prestando total apoio às vítimas e a seus familiares”. O desabamento também matou Charlys Frederico Moreira do Nascimento, de 25, e deixou feridas 23 pessoas.

"Estamos tentando voltar ao trabalho, mas está muito difícil"
Tiago dos Santos, irmão de Hanna, morta no acidente

"Ela sabe que um viaduto caiu em cima da mãe, mas não a consequência"
Teresa Cristina, tia de Hanna, sobre a filha da motorista


Enquanto isso...
...Demolição sem data

O trecho da Avenida Pedro I interditado desde o desabamento da alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes segue isolado e sem data para ser liberado, segundo a Prefeitura de BH. O prefeito Marcio Lacerda afirmou na segunda-feira que há um “consenso informal” entre Executivo municipal, o Ministério Público e a Polícia Civil de que a demolição da alça norte é a “melhor solução”, em sua palavras. Porém, a prefeitura informou ontem, por meio da assessoria de imprensa, que qualquer intervenção na estrutura remanescente será realizada somente após o término do inquérito da Polícia Civil.


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