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Estado de Minas

Amizades entre brasileiros e estrangeiros resistem ao fim da Copa

Mineiros que receberam ou conheceram pessoas de outras nacionalidades durante o Mundial garantem que a distância não vai enfraquecer os laços de amizade. Eles já estão sentindo falta dos hóspedes


postado em 20/07/2014 06:00 / atualizado em 20/07/2014 08:27

"Sinto falta dos estrangeiros. Foi muito bom conhecer pessoas de culturas diferentes " - Paulo Felipe dos Santos Pessoa, funcionário de um albergue (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press. Brasil)
No apartamento do Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ficaram lembranças que, tudo indica, o tempo não vai enfraquecer. Tem um divertido chapéu com uma bola de futebol no alto, como se fosse guizo, óculos estilo anos 1970 em vermelho, azul e branco com dois corações pendurados, e a bandeira do Chile deixada de presente pelos jovens moradores de Santiago Hernán, Juan, Christian e Diego. Vestida com a camisa da Seleção Brasileira, Marihana Santos, de 28 anos, olha com carinho para os seus guardados e sorri discretamente. “Importante mesmo foi o fortalecimento da amizade e a alegria de participarmos, juntos, da festa da Copa”, revela a advogada sobre a convivência com o quarteto hospedado em sua casa quatro dias durante o Mundial. Uma semana depois do fim do torneio, outros mineiros também contam histórias e falam sobre os laços afetivos firmados com os estrangeiros.

Sentada no sofá da sala, Marihana já está com saudade do período de efervescência vivido na capital, que recebeu cerca de 355 mil turistas – 200 mil visitantes de outros países e 155 mil de outros estados brasileiros, conforme os dados oficiais. “A gente andava nas ruas e escutava idiomas diferentes. Na Savassi, ouvimos música de todos os cantos e não sai da cabeça o grito ritmado das torcidas. Sempre havia algo para se fazer, enfim, foi a celebração da vida”, afirma ao lado a mãe, a professora aposentada Maride Santos. Para acomodar os chilenos, Maride conta que separou dois quartos para eles e dormiu com a filha no seu. “Os rapazes não deram o menor problema, ficavam praticamente o dia inteiro na rua.”

De diferente para os visitantes, só mesmo o momento das refeições. “No Chile, quem cozinha serve a comida aos que estão à mesa, acho que se trata de um costume passado pelas mães. E, geralmente, as pessoas fazem só uma carne e o acompanhamento, tipo salada. Não existe tanta variedade como a nossa, nem o self-service. Mas deu tudo certo e até trouxeram a bebida favorita, o pisco. Pena que as minhas amigas não puderam vir”, afirma a advogada.

Marihana diz que a amizade começou em 2012, quando morou no Chile. Fez muitos amigos, entre eles Hernán, que lhe ofereceu ingresso para o jogo Brasil x Chile, no Mineirão, em troca da hospedagem. “Foi curioso, pois, no estádio, naquele jogo de prorrogação e pênaltis, sentei no meio da torcida chilena com a camisa amarela. Mas ficamos unidos e vi que o futebol não pode atrapalhar a amizade.”

Hora da partida

Marihana hospedou quatro chilenos e tem saudade dos colegas que fez(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Marihana hospedou quatro chilenos e tem saudade dos colegas que fez (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Na noite de sexta-feira, com a Praça da Liberdade bem movimentada pela programação do Noturno nos Museus, que envolveu mais de 30 espaços culturais, a estudante de jornalismo Ana Clara Rodrigues, de 23, moradora de Nova Lima, e o relações públicas Adam Burns, de 27, natural de Cambridge, passeavam e iniciavam um ritual de despedidas. Amanhã, ele estará de volta à Austrália, onde reside. “Não somos namorados, nem simples amigos, nem ‘ficantes’. Só sei que estamos juntos”, disse a jovem, com bom humor, na companhia também do irmão Carlos Fernando, de 21.

Ana Clara e Adam se conheceram pela internet e desde então ficaram “grudados”. A trajetória do inglês, que veio para a Copa, encantou a mineira que morou na Europa e fala fluentemente o idioma de Shakespeare. Junto com três amigos, Adam caminhou de Mendoza, na Argentina, a Porto Alegre (RS), num total de 1.966 quilômetros, com o objetivo de arrecadar, no percurso, 20 mil libras para projetos sociais. A saga iniciada em 3 de março e denominada Walk to the World Cup (Caminhada para a Copa do Mundo) ganhou espaço nas redes sociais e teve um fato inusitado. Ao passar pelo Uruguai, a turma foi seguida por uma cão de rua, logo batizado de Jefferson Ramsey Moore, em homenagem aos lendários craques Alf Ramsey e Bobby Moore, respectivamente técnico e capitão do time da Inglaterra campeão do mundo em 1966.

Adam traduz a experiência no Brasil como fantástica. “O período da Copa pareceu um grande festival de música, numa ótima atmosfera”, compara o relações públicas, que adorou a Savassi e aprendeu algumas palavras em português – bom dia, obrigado e “uma cerveja, por favor”. Sentados num banco da Alameda das Palmeiras, os dois se lembraram dos bons momentos nas últimas semanas: o passeio a Ouro Preto – “conheci uma república de estudantes, diz Adam” – banhos de cachoeira em Rio Acima, na Grande BH, e encontro com o príncipe Harry, no Minas Tênis Clube, em BH. “O Adam é um cara legal e virou torcedor do Vila Nova”, entrega Carlos Fernando.

Culturas unidas

Na porta interna do Ginga Hostel, albergue no Bairro Serra, na Região Centro-Sul da cidade, ainda estão placas com as bandeiras de vários países e palavras cordiais escritas pelos ex-hóspedes. Satisfeito, o funcionário Paulo Felipe dos Santos Pessoa, de 23, diz que a ocupação chegou a 100% com visitantes de mais de 20 países. “Estou sentindo falta. Foi muito bom conhecer pessoas de culturas diferentes e ver que todos conviveram com tranquilidade. Recebemos até gente de Kiribati, na Oceania.”

No dia a dia, Paulo Felipe e demais funcionários aprenderam sobre os costumes dos gringos, as rivalidades entre alguns países da Ásia, hábitos alimentares e comportamento de cada um. “Muitos falavam português, o que facilita o contato, embora eu fale inglês. No fim das contas, a melhor palavra para resumir a temporada é bem-vindo.”


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