Todos estão de prontidão, afinal, a qualquer momento, podem nascer os mais novos filhotes do zoológico de Belo Horizonte. Sob olhares do mundo inteiro, os funcionários da Fundação Zoo-Botânica (FZBH) começaram a contagem regressiva para a chegada dos gorilas de Lou Lou, de 10 anos, e Imbi, de 14, ambas grávidas do macho Leon, de 16. Eles são aguardados inclusive pela comunidade internacional de atenção aos primatas, já que, em 2013, apenas 28 gorilas da espécie, ameaçada de extinção, nasceram no mundo. Neste ano, foram oito até junho. O primeiro a nascer é o de Lou Lou e representa a primeira reprodução da espécie na América do Sul.
A Fundação Zoo-Botânica trabalha com datas médias. A expectativa é de que o filhote de Lou Lou nasça em meados de agosto e o de Imbi, no meio de setembro. A gestação do primata é semelhante à humana. Mas, de acordo com o protocolo interno, que segue padrões internacionais, na data mínima do nascimento, dia 31, estará tudo pronto para atender qualquer situação. “Em caso de necessidade, estamos preparados para as mais diversas intervenções, como montar um berço ou comprar o leite especial se alguma delas não puder amamentar”, afirma o diretor da fundação, Gladstone Araújo.
A quantidade de feno também foi reforçada para garantir um ambiente confortável para a hora do parto, que demora de 20 minutos a oito horas. Há caso de uma gorila que ficou três dias em trabalho de parto. A equipe foi treinada com base nos protocolos internacionais e assistiu até a vídeos de nascimentos de gorilas em zoológicos mundo afora. Eles mostram que, imediatamente depois de dar à luz, as mães limpam os filhotes e elas mesmas cortam o cordão umbilical.
A fundação, que faz intercâmbio com vários zoológicos, teve acesso aos protocolos de sete instituições. Caso algo saia do previsto e seja necessária a ajuda de algum especialista, dois médicos-veterinários estrangeiros estão de sobreaviso: um do Parque de Animais Silvestres de Hawletts, na Inglaterra, de onde veio o trio de gorilas, e outro do zoológico de Fort Worth, no Texas (Estados Unidos).
FUNCIONÁRIOS A rotina do zoológico foi completamente alterada para a chegada dos bebês. A escala de férias dos funcionários mudou para que, nesse período, seja garantida a presença de um tratador que tenha contato com os gorilas. A opção feita desde que a gravidez de Lou Lou foi descoberta, de tratá-la da forma mais natural possível, está mantida. Nada de exames, ultrassonografias ou qualquer intervenção que signifique sedação ou mudança de hábitos.
Por causa disso, os visitantes provavelmente não conhecerão tão cedo os novos moradores do zoológico da capital. “A tendência é que as fêmeas se isolem, por isso, deve demorar um pouco para que seja possível ver os filhotes. Levará um tempo para ela sair e, assim, termos a foto dele”, avisa Araújo. Ele ressalta que o público ajudará muito nesse processo tendo paciência e deixando a área com menos barulho. “Quanto mais tranquilidade houver na região, mais rápido o animal se sentirá seguro para sair.”
As duas gorilas passam uma gestação bem calma, mas às vezes recusam algum tipo de comida. Houve reforço na alimentação delas, feita à base de frutas – abacaxi, uva, melão, morango e laranja, principalmente –, legumes, verduras e muito suco.
Crias devem ficar em BH por oito anos
Os filhotes de Lou Lou e Imbi ficam em Belo Horizonte até completarem 8 anos, segundo Gladstone Araújo, diretor da Fundação Zoo-botânica. Depois, ficam independentes da mãe. E a partir daí, se tornam adolescentes, dependendo do sexo. “Na natureza, ficam cerca de quatro anos no bando”, explica o diretor da Zoo-botânica. Ele acrescenta que os primatas superiores, caso dos gorilas, não cruzam entre parentes, assim, quando entram na puberdade, as fêmeas saem para formar um novo grupo, e os machos, para compor seu bando.
Assim como a FZBH recebeu os pais por empréstimo, os bebês poderão ser destinados a outros zoológicos daqui a oito anos pelo fato de a fundação fazer parte de um grupo internacional de conservação de gorilas. Além disso, pesa a questão da conservação genética: a linhagem de cada instituição é conhecida e, por isso, os animais nunca vão para onde há familiares. “O olhar é mundial em termos de conservação. É uma população de gorilas em cativeiro que temos aqui. Não pensamos apenas no que é bom para o zoológico de BH, mas para a conservação da espécie”, destaca Araújo. “Quanto mais populações em boa situação e diversidade genética tiver em zoológicos, mais estará garantido o sucesso de programas de reintrodução. Quem sabe um dia um deles não irá para um parque nacional na África?”
Votação para escolha do nome
Por enquanto, os filhotes continuam sem nome. A Fundação Zoo-botânica enviou comunicado à Aspinall, fundação na Inglaterra que firmou o convênio de empréstimo de Lou Lou, Imbi e Leon, informando que a tradição da instituição mineira é levar à votação popular nomes que fazem referência ao local de origem dos animais. Se a entidade inglesa concordar, valerá o mesmo procedimento.