Mateus Parreiras
O monte de poda no Bairro São Pedro foi fotografado em vários momentos e a ação do tempo mostra que as folhas foram amarelando, se desprendendo dos galhos e indo parar nas bocas de lobo que servem para receber a água das chuvas, mas que ficaram abarrotadas desse material. A lenha ressecada foi se acumulando na passagem de pedestres e impedia a abertura das portas dos veículos que estacionavam à esquerda. O descaso incentivou o descarte de mais lixo entre o emaranhado de galhos, exibindo embalagens plásticas, garrafas e objetos perigosos, como maços de cigarros, caixas de fósforos, isqueiros e outros materiais que remetem a perigo de incêndio. “Meu maior medo era esse. Imagine se aquele tanto de lenha seca pegasse fogo? Poderia atingir a fiação elétrica, os carros estacionados e até minha loja”, disse a dona do salão, que pediu para não ser identificada por medo de ser ainda mais prejudicada numa possível retaliação.
PAGAMENTO A mulher conta que ligou diversas vezes, mas nem a PBH e nem a Cemig enviaram alguém para recolher o lixo. Num desses dias, ela viu uma outra equipe fazendo uma poda ali perto e tentou pedir para que tirassem o material do passeio em frente à sua loja. “Os funcionários disseram que só recolheriam se eu pagasse R$ 10 para cada um deles. Fiquei indignada. Mas, depois de 16 dias, não suportei mais e paguei R$ 40 para um carroceiro. Já estava até perdendo fregueses”, reclama. Cliente de uma clínica próxima, a pedagoga Ivone Lins, de 56 anos, considerou a situação como descaso. “É um absurdo! Um abandono que vejo por toda a cidade. Além da sujeira das folhas, o lixo também ficou acumulado”, disse. Bocas de lobo comprometidas
Na Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Gonçalves Dias, no Bairro Funcionários, as chuvas fortes e ventos arrancaram de uma das árvores do canteiro central um galho frondoso, do tamanho de um carro, em 16 de abril. A madeira foi arrastada para o passeio da esquina e ali ficou por sete dias até ser recolhida, quando boa parte de suas folhas também já tinham ido parar nas drenagens pluviais da via. Dono de uma oficina mecânica da Rua Pitangueiras, no Bairro Santo Antônio, Fábio Koga diz ser comum ver não apenas no seu bairro, mas por toda a cidade, os montes de podas se acumulando e espremendo os pedestres pelos passeios. “Isso ainda se soma à falta de atitude dos moradores, que deveriam pelo menos varrer as portas de suas casas para impedir que tantas folhas se acumulem todos os dias e que entupam as bocas de lobo”, acrescentou.
Por 14 dias, o bancário Rodrigo Morais, de 35, acompanhou uma árvore que caiu com a ventania e as chuvas do dia 18 de fevereiro, se deteriorando aos poucos, enquanto bloqueava o passeio da Rua Tereza Mota Valadares, no Bairro Buritis. A PBH foi acionada, mas demorou tanto a mobilizar uma equipe que os trabalhadores de uma obra vizinha resolveram o problema removendo a madeira. “É uma situação estranha. O risco maior foi ter de descer e subir pelo meio da rua, porque a calçada ficou bloqueada. E pelo local passam muitos caminhões que trabalham em obras próximas”, disse.
FERIADO De acordo com a PBH, sempre que uma poda é feita, o material precisa ser recolhido no mesmo dia. Ontem, a reportagem acompanhou uma dessas podas na Rua do Ouro, no Bairro Serra, e tudo o que foi cortado foi levado pelo caminhão. Por meio de nota, a PBH informou que “nos casos de queda de galhos e/ou de árvores, assim que o setor responsável toma conhecimento da situação providencia o recolhimento o mais rápido possível”. Caso o serviço de recolhimento de resíduo de poda de árvore não tenha sido efetuado, o cidadão pode solicitar a retirada pelo telefone 156 ou pelo portaldeservicos.pbh.gov.br. A Cemig informou que o recolhimento dos resíduos foi prejudicado pelo recesso do feriado de Corpus Christi e, por nota, recomenda que a população solicite a retirada de podas feitas pelo órgão por meio do telefone 116 – Fale com a Cemig, e que, “de forma nenhuma, seja feito pagamento para que as equipes recolham resíduos de qualquer espécie”.