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Estado de Minas

Árvores de BH estão cobertas de concreto, furadas e queimadas

Plantas sofrem com a falta de consciência ambiental da população. PBH diz que práticas são proibidas e passíveis de multa


postado em 09/05/2014 06:00 / atualizado em 09/05/2014 09:06

Na Avenida Silviano Brandão, troncos foram decorados para uma promoção(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Na Avenida Silviano Brandão, troncos foram decorados para uma promoção (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A mesma capital que já foi chamada de cidade jardim agora estrangula, sufoca, corta e queima suas árvores. Apesar de desempenharem um importante papel na produção de oxigênio e na manutenção da paisagem natural, elas têm sofrido em ruas e avenidas. Na Rua Frei Leopoldo, no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, dezenas de pregos perfuram o tronco de uma árvore para segurar tampinhas usadas em um enfeite de Natal no ano passado. No Barro Preto, Centro-Sul, plantas tiveram as raízes concretadas, tampando a área de infiltração de água. Em 2013, das 702 vistorias feitas, foram emitidas apenas 40 advertências que resultaram em 21 multas.


A situação passa praticamente despercebida pela multidão que diariamente visita o polo da moda, no Barro Preto. Segundo denúncia feita ao Estado de Minas, comerciantes locais colocaram cimento nas raízes das árvores na calçada. No local, no entanto, ninguém assume o problema. Dono de um restaurante no quarteirão da Rua Guajajaras há 13 anos, o empresário José Gonçalves Teixeira, de 62 anos, diz se lembrar de um pequeno jardim feito com tijolos à vista ao redor de uma das árvores em frente ao seu estabelecimento. “Mas não sei o que aconteceu. De um dia para outro, o pé da planta amanheceu com concreto”, diz. Ele garantiu que vai fazer uma obra nos próximos dias na calçada e irá cercar novamente, com área permeável, o entorno do tronco. “Vou quebrar todo o piso e aproveitar para retirar o cimento também”, afirma.

O vizinho Alexandre Santiago, de 44, divide o passeio com José, na Rua Guajajaras, onde tem uma loja de bordados. O empresário confessa que não tinha se atentado para a mudança e nega que tenha sido ele o responsável pela colocação do cimento. Inclusive se posiciona contrário à atitude. “Toda planta precisa de água para viver. Do jeito que está, terá uma vida útil muito menor.” Indignado com o sufocamento enfrentado pelas árvores na Rua Guajajaras, o consultor de propriedade industrial Roberto Batista, de 64, criticou a colocação do cimento. “Quem fez isso só pode ser uma pessoa sem noção. Sou completamente contra qualquer ação que prejudique o meio ambiente”, disse.

Outro ponto onde a terra foi trocada por concreto, que agora sufoca a parte inferior dos troncos, é na Rua Goitacazes, entre Araguari e Mato Grosso. O EM esteve no local para checar a denúncia feita por uma moradora do entorno. Na calçada que cerca um shopping, várias árvores foram cimentadas na base, cobrindo toda a área permeável no seu entorno. “A prefeitura precisa fazer uma vistoria no local para tomar as devidas providências”, cobra a moradora.

ESTACIONAMENTO


Alguns moradores ainda torcem o nariz para muitas espécies e dizem que elas atrapalham as vagas de estacionamento ou servem apenas para estourar o cimento da calçada. “Ela não deveria estar aqui. Na hora em que os carros vão entrar e sair da vaga, fica muito apertado, e os motoristas têm dificuldade”, conta a funcionária de uma lanchonete na Rua Conceição do Mato Dentro, no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha. A planta, além de ter que se adequar à fiação elétrica, tenta se manter hidratada, já que teve todo o entorno de suas raízes concretado.

Inerte à ação do homem, as árvores são ainda alvo do fogo, da retirada de suas cascas, ou do corte inadequado. Na Avenida Bernardo Vasconcelos, esquina com Rua Ibertioga, no Bairro Cachoeirinha, Região Nordeste, uma grande amendoeira tem marcas pretas, depois de ter sido queimada nas raízes. A planta está ainda cercada de lixo e entulhos e com o tronco à mostra, pois perdeu parte da cobertura do caule.

No Bairro Ouro Preto, as tampinhas pregadas no tronco de uma árvore na Rua Frei Leopoldo, em frente ao número 117, passam imperceptíveis aos olhos da fiscalização. Segundo a moradora da casa em frente, a aposentada Conceição do Carmo Souza, de 72, elas foram colocadas para um enfeite de Natal, mas permanecem cravadas na árvore, que também tem concreto nas raízes. Na Rua São Paulo, no Lourdes, uma árvore sustenta objetos de decoração de uma loja, que não tem autorização. A PBH informou que vai vistoriar o local.

Mesmo sabendo da irregularidade, o gerente de uma loja de móveis na Avenida Silviano Brandão, Antônio Rodrigues da Cruz, de 38, não se intimidou em fixar plásticos verdes e amarelos nos troncos das árvores do canteiro central bem em frente ao ponto comercial. O “enfeite” fez parte de uma promoção relâmpago durante o fim de semana, mas até a terça-feira ainda permanecia. “Antes de pregar eu já sabia que era proibido. Mas coloquei porque era somente de sexta a domingo. Vou providenciar a retirada”, disse.


Regional deve autorizar

Causar danos à flora é infração prevista no decreto municipal nº 5.893/88 e é passível de multa, que vai de R$ 2.490,71 a R$ 17.298,32, segundo a Secretaria Municipal de Fiscalização. Em BH, as vistorias são setorizadas e feitas pela gerência de Parques e Áreas Verdes de cada uma das nove regionais. “Tudo o que causa dano, como a poda irregular, ainda que dentro de uma propriedade privada, é considerado infração”, explica a gerente de Áreas Verdes e Arborização Urbana da Secretaria de Meio Ambiente, Joseane Toledo.

Segundo ela, todas as intervenções em qualquer espécie requerem autorização prévia. “Cada regional tem uma equipe que pode analisar se determinada atividade pode ser feita”, diz. Ela deixa claro, no entanto, que ações como anexar faixas nas plantas em via pública ou fincar pregos no caule são atitudes proibidas.

Vistoria feita pela prefeitura na Rua Goitacazes concluiu que há pelo menos 10 árvores com as raízes abaladas pela implantação do passeio ou pela colocação de restos de cimento e de asfalto. Segundo a PBH, técnicos da Regional Centro-Sul vistoriaram o local e constataram que realmente não há espaço para infiltração de água para alimentar as raízes. “A situação é irregular, e as medidas cabíveis já estão sendo tomadas. Conforme previsto no Código de Posturas, os responsáveis serão notificados para que retirem o cimento e façam a construção do anel ecológico conforme padrão do município, dentro do prazo legal”, informou a regional por meio de nota.

Caso descumpram a notificação, será aplicada multa para cada árvore prejudicada. Esse valor poderá ser duplicado, segundo a PBH, em caso de reincidências. Ressalta-se que também há previsão de penalidade na legislação ambiental do município, que, de acordo com o dano causado, pode sujeitar o infrator a multa de até R$ 38 mil, diz o documento. Danificar a flora também é considerado um crime ambiental, de acordo com a prefeitura. O órgão informou ainda que vai fazer uma vistoria nas árvores da Rua Guajajaras.


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