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Estado de Minas

Mais de 40 mil árvores foram cortadas em seis anos na capital

Legislação exige que, a cada supressão, sejam plantadas de duas a 15 mudas. Só na Região Noroeste foram 7.294 cortes


postado em 13/04/2014 06:00 / atualizado em 13/04/2014 07:22

Árvore é cortada na Rua Rio Doce, no Bairro São Lucas: legislação diz que a cada exemplar suprimido, de dois a 15 devem ser plantados (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
Árvore é cortada na Rua Rio Doce, no Bairro São Lucas: legislação diz que a cada exemplar suprimido, de dois a 15 devem ser plantados (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)

Em seis anos, a força da motosserra derrubou 40,8 mil árvores em Belo Horizonte, segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). O montante corresponde a 8,7% da cobertura vegetal da capital, que um dia já foi considerada “cidade jardim”, estimada atualmente em 465 mil exemplares. A legislação que regula a supressão exige o plantio de duas a 15 mudas para cada corte – a exceção são árvores idosas, com risco de queda ou que ameacem o patrimônio público. Apesar disso, a prefeitura não tem o levantamento de quantas mudas plantou na cidade nesse período, mas afirma ter cultivado pelo menos 59,5 mil unidades, de 2011 para cá, e garante que BH não está sendo desmatada. Ambientalistas questionam método de supressão adotado pelo poder público, afirmam que mudas não substituem árvores e pedem mais transparência em relação ao plantio de novas espécies.

O balanço das supressões, a que o Estado de Minas teve acesso, se refere ao período de 2008 a 2013. A maior parte (44%) ficou concentrada em 2011 e 2012, quando foram abaixo 18.057 árvores na cidade. De acordo com a SMMA, nesse intervalo, as supressões foram intensificadas para diminuir riscos potenciais de quedas em momentos de chuvas e ventos. Vale lembrar que, em janeiro de 2011, uma mulher morreu depois que uma árvore de grande porte caiu sobre ela no Parque Municipal Américo Renê Giannetti, no Centro de BH, motivando uma força-tarefa pró-supressões.

No acumulado dos seis anos, a Região Noroeste foi a campeã de cortes, com 7.294 árvores. De acordo com a administração regional, as supressões coincidem, principalmente, com avenidas que passaram por obras, como a Antônio Carlos, que recebeu o BRT/Move, a Pedro II, onde está sendo implantada faixa exclusiva para o BRT, e a Presidente Carlos Luz (Catalão). Famosa pelas áreas verdes e beleza natural, a região da Pampulha ficou em segundo lugar, com a perda de 6.671 exemplares. A mais célebre das derrubadas ocorreu na reforma do Estádio Mineirão, quando houve a derrubada de 650 exemplares para dar lugar a uma esplanada para eventos na parte externa do estádio.

“Em anos recentes, BH entrou numa política de higienização arbórea, mas cortavam e não plantavam nada. Acionei o Ministério Público por causa disso. A prefeitura tem que dar satisfação da compensação ambiental”, afirma o pós-doutor em ecologia Sérvio Pontes Ribeiro, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Segundo o especialista, do ponto de vista ecológico, para cada corte, deveria haver o plantio de pelo menos cinco mudas, com a garantia, portanto, do cultivo de pelo menos 200 mil árvores nos últimos seis anos. “Mudas não substituem árvores adultas, pois não têm a capacidade de drenar água, criar um microclima ameno. A substituição de espécies deveria ser feita de forma planejada”, diz.

Integrante do movimento Fica Fícus, criado em defesa de árvores infestadas por pragas nas avenidas Bernardo Monteiro, Barbacena e na Igreja da Boa Viagem, Patrícia Caristo pede transparência. “As supressões, muitas vezes, são injustificadas. Não sabemos por que estão cortando e onde estão plantando essas novas árvores. Temos o direito da informação. A prefeitura deveria dar uma prova concreta dos plantios e criar um canal de comunicação mais transparente”, afirma.

O engenheiro agrônomo da Cemig Pedro Mendes Castro ressalta que o pico de remoções ocorreu também para reduzir o número e a duração de interrupção de energia elétrica na capital. “Durante muito tempo, a prefeitura não agiu na remoção de árvores. Nos últimos três anos, houve um trabalho conjunto de substituição de árvores entre Cemig e prefeitura. A duração das interrupções estava acima do limite”, afirma o técnico, que ressalta que o problema maior era o apodrecimento causado por fungos, predadores e lesões em geral.

SUBSTITUIÇÃO Sem o balanço do plantio de mudas, a gerente de gestão ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, Márcia Mourão, garante que a substituição de espécies faz parte da política de arborização urbana da capital e que BH, que perdeu 40,8 mil exemplares em seis anos, está com sua cobertura vegetal preservada. “Se tirou uma árvore, ela precisa ser reposta. Dessas árvores suprimidas, parte adoece, envelhece, sofre acidentes de colisões com veículos, é um ciclo natural de um ser vivo que está num ambiente inóspito a ele”, ressalta a gerente, que considera dentro da normalidade a média de 6,8 mil árvores suprimidas ao ano.

Apesar de garantir a reposição ambiental, a SMMA não sabe quantas árvores foram plantadas na cidade nos últimos anos. De acordo com Márcia, esse levantamento está em elaboração e considera tanto o plantio rotineiro quanto ações de compensação ambiental. Na compensação do Mineirão, por exemplo, foi exigida colocação de 11,4 mil mudas nas ruas e avenidas da Pampulha.

O balanço do plantio também está levando em conta programas de arborização como o BH Mais Verde, que introduziu 48 mil mudas desde 2011 e promete chegar a 54 mil até o fim do ano. “Estamos melhorando a cobertura vegetal. No BH Mais Verde, há um monitoramento do plantio de cada muda por seis meses. Vamos tornar essa medida uma obrigação no município”, afirma Márcia.

O professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Wilson, reconhece que o plantio tem melhorado na capital, mas afirma que ainda há bastante a ser feito. “A morte das árvores é um processo normal e até acelerado em ambiente urbano, por causa da poluição. A prefeitura tem melhorado o plantio, mas ainda é insuficiente. É preciso pensar em outros tipos de árvores, eles continuam plantando espécies inadequadas”, destaca.


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