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Estado de Minas TERAPIA PARA ANIMAIS

Especialistas se dedicam a serviços voltados para comportamento de cães

Proposta é de promover um relacionamento melhor entre o bicho de estimação e o seu dono


postado em 01/04/2014 06:00 / atualizado em 01/04/2014 07:26

"Nenhum cão pode ser levado para casa como um eletrodoméstico" Jean Cloude, reabilitador (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Seu cão pode precisar de terapia. É sério. E o tratamento vai passar por você. Especialistas indicam que está no dono a maior parte dos problemas psicológicos dos animais domésticos. Cresce o número de terapeutas caninos em Belo Horizonte, e o assunto, levado às tevês internacionais há quase duas décadas, já está na grade da produção local. O fato é que a psicologia canina tem ajudado donos desesperados e feito muita gente mudar de emprego. Profissionais como Humberto Araújo e Caio Mansur trocaram as carreiras nas áreas de comunicação e corretagem de imóveis pela imersão no mundo dos bichos. Já Jean Cloude, o reabilitador de cães da TV Alterosa, praticamente cresceu no canil da família e, cheio de cicatrizes, impressiona no trato com os animais mais ferozes.

O terapeuta canino não é apenas uma versão moderna do adestrador. O Estado de Minas acompanhou o trabalho dos três profissionais, para entender melhor quem é e o que faz o encantador de cães. A primeira grande mudança está no comportamento humano. Quem está disposto a ter um relacionamento melhor com o seu cão de estimação precisa ter disposição para aprender. O que propõem esses profissionais está bem acima de impor ao bicho obediência. Os comandos de dar a patinha, sentar, deitar e rolar são ultrapassados. Os cães precisam de disciplina, tanto quanto de respeito e carinho. Um dos erros mais comuns é a humanização. O dono coloca roupinha, sapatinho e leva o bicho para o sofá e para a cama. Alisa-o durante horas no colo. Isso, de acordo com estudiosos, provoca enorme confusão mental nos animais.

“Uma pessoa não pode tratar outra pessoa como cão. Assim como não pode tratar um cão como pessoa. É, no mínimo, desrespeitoso”, diz Jean Cloude, de 35 anos. Com mais de 20 anos de dedicação exclusiva aos bichos, o reabilitador de cães, natural de Salvador, cresceu junto ao pai, dono de canil. A paixão pelos bichos vem da infância e o fez estudioso da natureza. O primeiro grande desafio como encantador ele não esquece: “Foi com o Cadilo, um pastor alemão. Eu tinha 16 anos. Era o maior cão pastor que eu tinha visto. Ele havia sido treinado para o ataque. Era de uma senhora. Ela mudou de ideia e o queria mais sociável. Foram seis meses de muita dedicação. Aprendi muito com ele. Foi quando conheci os livros do dr. Bruce Fogle”, revela.

Bruce Fogle, autor, entre outros, de 100 perguntas que seu cão faria ao veterinário e Entenda o seu cão, é um escritor e médico veterinário canadense, residente na Inglaterra. É considerado pelos entendidos a maior autoridade do planeta em comportamento animal, com sua obra traduzida em 35 idiomas. Jean Cloude, estudante de medicina veterinária da PUC Minas, sabe bem das pesquisas do PhD e corrobora na prática muitas das observações encontradas nos livros do dr. Bruce. No Centro de Psicologia Canina (CPC), em Lagoa Santa, na região metropolitana, Jean tem 14 cães – dois mestiços e 12 das raças bull terrier, buldogue inglês, chiuaua, blue heeler, red heeler e pastor alemão.

Cicatriz

A psicologia canina, de acordo com Jean Cloude, defende que, independentemente da raça, qualquer pessoa pode ter um cão equilibrado em casa – desde que o respeite e não o humanize. “Trabalhamos o respeito, sem estereótipos. Não é porque é pit bull que vai ser agressivo, nem porque é chiuaua que vai ser dócil”, diz. Os dois problemas mais comuns, identificados pelo reabilitador, são a empolgação e a agressividade, geralmente ligados à criação, ao trato inadequado com a raça. Nas mãos e braços de Jean são muitas as cicatrizes. “Troféus do trabalho. Cada marca dessa é um aprendizado”, sorri. A maior cicatriz é a mais recente. Um bull terrier tentou atacar um golden e Jean interceptou o bote, recebendo os dentes da braveza no pulso.

“Nenhum cão pode ser levado para casa como um eletrodoméstico”, critica o reabilitador. Jean não tem dúvidas de que lidar com os cães é bem mais simples do que lidar com o ser humano. “As pessoas, na maior parte do tempo, estão presas ao passado e à ideia de futuro. Já os animais são 100% presente”, considera. O apresentador de TV lista os três princípios básicos para a saúde mental de um cão: “Atividade física, com o devido respeito às particularidades da raça; regras – todo cão tem necessidade de disciplina – e carinho. Carinho não é só afeto. É comida, água, passeio e brincadeira”, pontua.

Personal bom para cachorro


Caio Mansur não pensou duas vezes antes de trocar a carreira promissora como corretor de imóveis pela dedicação aos cães dos outros. Sem olhar para trás, deixou o cargo de gerente de imobiliária e assumiu o papel de adestrador e terapeuta canino. Não se arrepende. Tanto que transformou a casa em que mora no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, em hotelzinho para os bichos. Parceiro de pet shops e de criadores, tem a agenda disputada, com poucas brechas para os cursos de especialização fora de Minas.

Libertadores, a Lili, é a mascote de Thiago, atleticano apaixonado. A cadela é uma jovem golden, de oito meses, linda, esperta e cheia de energia. Caio é o personal de Lili. Para o treinamento do dia, na Praça da Assembleia, o terapeuta preparou um par de patins para dar conta do fôlego da mocinha. Os outros cães passam e parecem cansados só de ver a disposição da bela golden alvinegra.

Mimados

Caio conta que, há quatro anos, começou a treinar os cães dos amigos por hobby. “Depois, vi que era um mercado em crescimento e que, com ele, poderia unir o útil ao agradável”, diz. Como adestrador, Caio trabalha comando e obediência. Como terapeuta, comportamento e reabilitação. “É bem comum o dono dar só carinho. Não funciona. Sem disciplina, mimado, o cão passa a mandar na casa”, avalia.

Para o terapeuta, de fato, é mais simples lidar com os cães. “Primeiro, porque eles são extremamente fiéis. É um relacionamento sem mentiras, porque o animal lê muito claramente a nossa emoção”, explica. Como Jean Cloude e Humberto Araújo, Caio descarta qualquer método de aprendizado por punição.

Caio recorreu aos patins para acompanhar o pique de Lili, de quem é treinador(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Caio recorreu aos patins para acompanhar o pique de Lili, de quem é treinador (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

O som da recompensa

No apartamento de Humberto Araújo, de 46, na Floresta, Região Leste, não parece ter cachorro. Não há bagunça, latido, rastro ou cheiro de bicho. Sissy, Verdell, Dalai Lama, Angelina Jolie e Sweet são exemplos de bom comportamento. Mesmo com a presença da reportagem, o quarteto se manteve silencioso na área reservada para eles. Sissy, a mais velha, dócil e curiosa, foi a única a choramingar discretamente pela atenção dos visitantes. O terapeuta, jornalista e ex-locutor de rádio, trouxe o método clicker há 12 anos para BH. Clicker é um pequeno aparelho que produz um som, que está associado ao acerto do animal e à recompensa por merecimento.

O método foi desenvolvido nos EUA nos anos 1950. Humberto é contrário ao aprendizado por obrigação. O especialista identificou no clicker o instrumento ideal para a boa terapia canina. Contudo, a pequena ferramenta de educação é um detalhe. Para o terapeuta, o problema do cachorro não é o cachorro. É o dono. “Sempre pergunto para os meus clientes: ‘Você está disposto a mudar o que está errado?’. Se você muda, o animal muda”, ensina. Humberto é parceiro de mais de 30 pet shops e ainda trabalha com casting de cães dos mais variados tamanhos e raças para programas e comerciais de TV.

Mudança

A história com os cães representa uma mudança radical na vida de Humberto. Em 2002, o ex-locutor, dono de voz privilegiada, ganhou a Sissy, uma lhasa apso encantadora. “Disse para mim mesmo: ‘Já que vou ter um animal de estimação, quero entender como é que posso educá-lo’. Decidi estudar como se trata um cachorro para que a nossa conviência fosse a melhor possível”, explica. Na leitura do livro Adestramento inteligente, escrito pelo dr. Pet Alexandre Rossi, descobriu a paixão pelo trabalho e o amor ainda maior pelos animais. Três anos depois, Sissy teve os trigêmeos Verdell, Dalai Lama e Angelina Jolie.

“O ideal é você ter dois cachorros. Um cachorro apenas, sem referência de outro semelhante, que vive só com pessoas, com certeza vai ter problemas de comportamento. O ser humano costuma humanizar o cachorro. Os cães precisam viver como cães. Não podem ser os donos da casa”, ensina. De acordo com Humberto, muitas pessoas não estão preparadas para ter um cão. Leva-o para casa simplesmente por carência. “Sem dúvida, é a melhor companhia que você pode ter na vida. Mas você precisa estar preparado para isso”, adverte.

Serviço

Reabilitador de cães
Com Jean Cloude, na TV Alterosa
Aos sábados, às 13h10, com reprise aos domingos, às 9h – (31) 8646-3244

Humberto Araújo
www.omelhoramigodoscaes.com
(31) 9776-1718

Caio Mansur
Facebook.com/educaodo
(31) 8809-1421

VIDA DE CÃO

– Os cachorros não gostam de ficar sozinhos. São sociáveis e não acham natural ficar sem atividade ou companhia.
– Quando deixados sozinhos, os cães podem se comportar de maneira totalmente imprevisível, roendo e rasgando coisas, sujando tudo em casa. São sinais de ansiedade e tristeza, e não atos de vingança.
– Sozinho, sem estímulo físico ou mental, o cão pode desenvolver rotinas estereotipadas. Ele pode andar de um lado para o outro ou subir e descer as escadas, latir incessantemente ou mesmo urinar e defecar dentro de casa.
– O mais manso e gentil dos cães pode morder quando está sentindo dor.
– O latido contínuo e ritmado é uma das manifestações mais comuns da frustração que os cães sentem quando são deixados sós.
– Os cães constroem relações instintivamente, tanto em sua matilha como entre a sua e outras matilhas. Há uma habilidade hereditária de perceber a hierarquia, e os cães se comunicam continuamente para reforçar a ordem.
– Os machos urinam em objetos verticais, como as árvores. As marcas ficam no nível do nariz dos outros cães. O odor permanece mais tempo em locais verticais que no solo.
– Os cães podem fazer até 80 marcações em uma hora, e sempre têm urina de reserva.
Fonte: 100 perguntas que seu cão faria ao veterinário e Entenda o seu cão, de Bruce Fogle


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