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Estado de Minas

Conheça a trajetória de mais de 60 anos da Feira dos Produtores em BH

Feira se mudou da Avenida Pedro II para a Avenida Cristiano Machado na década de 1980, onde funciona até hoje


postado em 15/03/2014 06:00 / atualizado em 15/03/2014 07:07

Feira dos Produtores, na Avenida Cristiano Machado, já mudou de endereço e diversificou perfil de lojas ao longo de mais de 60 anos, mas mantém clientela fiel(foto: Arquivo/Feira dos Produtores %u2013 Década de 1980)
Feira dos Produtores, na Avenida Cristiano Machado, já mudou de endereço e diversificou perfil de lojas ao longo de mais de 60 anos, mas mantém clientela fiel (foto: Arquivo/Feira dos Produtores %u2013 Década de 1980)

Eles vinham de todos os cantos do estado e se concentravam no início da Avenida Dom Pedro II, exatamente onde hoje é a estação de metrô da Lagoinha. Com mercadoria fresca, produtores de hortifrutigranjeiros montavam em frente à rodoviária uma verdadeira feira livre em tempos que a Ceasa ainda não existia. O vaivém de passageiros e os tempos áureos da boêmia mineira na região fizeram com que a pequena feira se consolidasse, atraindo cada vez mais expositores. Foi ali, em meados da década de 1940, que começou a ser delineada o que seria, anos depois, a Feira dos Produtores, hoje instalada na Avenida Cristiano Machado, no bairro Cidade Nova, região Nordeste da capital.

Nos primeiros anos, a infra-estrutura se resumiu a barraquinhas que disputavam espaço numa área que ultrapassava os 5 mil metros quadrados. Na virada da década de 1950, a prefeitura decidiu oficializar a existência da feira e estabelecer o pagamento de uma taxa mensal para exposição dos produtos. Foi criada então a Cooperativa de Administração e Construção Ltda dos Feirantes do Mercado de Emergência, que não demorou para ganhar o nome de Feira dos Produtores. Além da tributação, as mudanças incluíram a delimitação da área ocupada pelos produtores, que foi toda cercada.

João Durcecino da Silva abriu sua barraca de tábua e lona em 1954. Dos 12 filhos, ele escolheu José Edmundo Silva, o famoso “Pé de Alface”, para ajudá-lo a tocar a venda dos queijos vindos do Serro. “Ele foi em 1954 e eu continuei trabalhando como torneiro mecânico. Mas meu pai resolveu me levar para a feira e, em 1956, comecei a trabalhar com ele”, lembra José Edmundo, hoje com 73, sendo 58 de feira. Durante muitos anos, o grande temor dos comerciantes eram as fortes chuvas que elevavam o nível da água do Ribeirão Arrudas e inundavam toda a região. “Em uma enchente, a água chegou a subir um metro e meio, mas por um milagre, dentro da feira só subiu 10 centímetros”, conta “Pé de Alface”.

Na primeira metade da década de 1960, o prefeito Jorge Carone decidiu propor aos comerciantes instalados ali a compra da área de 5.744 metros quadrados até então de propriedade do município. Os produtores que tiveram condições não pensaram duas vezes e garantiram a compra do que se tornaria um patrimônio para a família. José Edmundo e o pai entraram na sociedade e compraram a área da barraca que já ocupavam, assim como dezenas de outros feirantes fizeram.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )

Mudança
A grande reviravolta na história da feira viria no início da década de 1980, com a apresentação do projeto de construção do metrô de Belo Horizonte, que previa a passagem dos trilhos pela Avenida Dom Pedro II, exatamente onde a feira estava consolidada. “O local foi desapropriado e a prefeitura nos ofereceu o terreno na Avenida Cristiano Machado. Na época houve muita resistência e desconfiança e alguns produtores venderam sua parte”, conta Ricardo Mageste Vieira, gerente geral da Feira dos Produtores desde 1998. O comerciante Afonso Barbosa Jorge, de 81 anos, reconhece que, no início, foi contra a mudança. “Ali onde estávamos era um lugar muito central, perto da rodoviária”, lembra.

 

 Não foram só os feirantes que torceram o nariz para a decisão. O então vereador Olavo Leite Kafunga – ex-jogador do Atlético Mineiro – liderou uma campanha contra a instalação da feira na área onde, na época, morava com a família. “Para que o local fosse definido, era preciso passar por aprovação na Câmara Municipal por unanimidade”, conta Ricardo. Para ele, o grande temor dos moradores da região era que a mesma estrutura a céu aberto e dominada por barracas de lona instalada próxima à rodoviária migrasse para o bairro. “Foi preciso apresentar um projeto, mostrando o que seria a feira, para que contássemos com o apoio da Câmara”, relembra Mageste.

Diante da proposta de fechar a área e garantir infraestrutura mais adequada, a aprovação não tardou. A indenização recebida da prefeitura pela desapropriação foi toda revertida para as obras e em menos de um ano os feirantes tinham casa nova. Afonso, proprietário do Armazém São Jorge, logo mudou de ideia ao ver o grande movimento. “No início era excelente”, lembra. Ricardo conta que dava até fila de clientes na porta esperando a abertura da feira. “Às vezes, por volta de 14h já não tinha mais mercadoria. Fomos nós que impulsionamos o comércio da região que, até então, não existia”, afirma Ricardo.

Concorrência Nos primeiros anos o centro de compras reinou soberano no bairro, mas logo se instalaram concorrentes na área e os comerciantes viram o movimento cair. Diante da disputa acirrada, principalmente com os supermercados, não houve outra alternativa a não ser diversificar os produtos expostos. “Hoje temos de tudo nas 125 lojas, de autoescola a conserto de roupa”, afirma Ricardo. Da década de 1990 para cá, a feira passou por uma série de melhorias que foram desde a ampliação dos estacionamentos até reforma da fachada, repaginação dos boxes e aumento da comodidade para os clientes. Sem fins lucrativos, toda a renda arrecadada é revertida na modernização do espaço que luta, junto à Belotur, para ser incluída como ponto turístico da capital.


Perfil
– 1: expositor ainda vende mercadoria que ele mesmo produz. Ao longo do tempo, os produtores que deram nome à feira abandonaram a atividade e se dedicaram apenas ao comércio
– 50%: das lojas estão com famílias que compraram o terreno na década de 60
– 125: é o total de lojas, todas elas estão ocupadas
– 30 mil: pessoas passam por mês pelo mercado


Linha do Tempo
– 1940: Produtores do estado se reuniam na Avenida Dom Pedro II para vender as mercadorias no melhor estilo das feiras livres
– 1950: A prefeitura municipal oficializou a feira, que ganhou a razão social de Mercado Dom Pedro II de Belo Horizonte
– 1963/1965: O prefeito Jorge Carone propôs aos produtores comprar área de 5,7 mil metros quadradros da prefeitura
– 1980: Por causa da construção do metrô, produtores negociaram com a desapropriação com a Rede Ferroviária Federal
– 1981: A feira foi reinaugurada na Avenida Cristiano Machado, no bairro Cidade Nova, em área de 4.170 metros quadrados
– 1990: Diante da concorrência, os hortifrutigranjeiros começam a abrir espaço para novas mercadorias e a diversificar vendas
– 2004: Grande reforma para construção de estacionamento com capacidade para 80 carros, além de mais banheiros, lojas e elevador
– 2014: Estudo em andamento para nova ampliação do estacionamento, para 120 vagas. As obras devem começar este ano


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