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Estado de Minas

Saiba como foi a vitória dos "claudianos" que resultou no retorno de frei às missas

De acordo com os superiores da ordem, frei presidirá a missa das 19h, realizada às sextas-feiras, e a de domingo, realizada às 11h


postado em 04/02/2014 06:00 / atualizado em 04/02/2014 07:19

Após manifestação de fiéis contra suspensão da missa dominical das 11h, ordem dos carmelitas autoriza frei Cláudio a retomar celebração(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 25/8/13)
Após manifestação de fiéis contra suspensão da missa dominical das 11h, ordem dos carmelitas autoriza frei Cláudio a retomar celebração (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press - 25/8/13)

Frei Cláudio van Balen vai retornar, já neste domingo, como celebrante da tradicional missa das 11h na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Bairro do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A decisão foi tomada, nessa segunda-feira, pela Província Carmelita de Santo Elias, responsável pela paróquia, depois de reunião com o religioso, de 80 anos. De acordo com os superiores da ordem, frei Cláudio presidirá a missa das 19h, realizada às sextas-feiras. “A suspensão foi consequência de uma reação lamentável ocorrida durante a missa das 11h, de 26 de janeiro. Tivemos o encontro com o frei Cláudio e ficou acertado o retorno da celebração eucarística e a volta dele como sacerdote. Sempre mantivemos o diálogo. O cancelamento foi temporário”, disse, ontem, o pároco frei Evaldo Xavier Gomes, recém-eleito prior provincial (superior) da Ordem dos Carmelitas no Brasil para as regiões Sul e Sudeste. Ele adiantou que comunicou a decisão às autoridades diocesanas.

Diante da “nota de esclarecimento” divulgada anteontem pela Arquidiocese de Belo Horizonte, “na qual se reconhece ser da responsabilidade dos freis a definição de horários de missas e seus celebrantes”, a Província Carmelita informou estar “em sintonia com esse conteúdo e concorda com a permanência do frei no altar”. A decisão de cancelar os cultos dominicais foi decidida pelos superiores da província e da Arquidiocese de BH, no dia 27.

“Prevaleceu o bom senso”, afirmou ontem, diante da Igreja do Carmo, o engenheiro ambiental Cláudio Guerra, paroquiano e amigo há mais de três décadas do frei holandês. Organizador, em parceria com Mauro Passos, do livro Artesão de fé, Guerra ficou feliz com a decisão de manterem o religioso no altar. “A bandeira dele é a mesma do papa Francisco; falam a mesma língua”, comentou o engenheiro, lembrando que, em 46 anos, o frei vem se dedicando ao trabalho na paróquia e, principalmente, às pessoas. “Fizemos um levantamento sobre os serviços gratuitos oferecidos na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo e verificamos que ela atende cerca de 35 mil pessoas por ano. Há profissionais voluntários para as áreas médico-odontológica, farmácia, fisioterapia e psicologia para toda a comunidade, incluindo os moradores das favelas”, afirmou o engenheiro.

Admirador das ações do religioso, a quem conhece desde 1981, Guerra lembrou que frei Cláudio nunca foi personalista e não teve nada a ver com o que ocorreu na missa do dia 26. “Não estou falando que ele é santo, pois todos nós temos defeitos”, ponderou. Pessoas ligadas a frei Cláudio informaram que ele ainda não vai se manifestar sobre a voltas às missas. O Estado de Minas entrou em contato, por telefone, com o religioso, e ele disse que somente o prior provincial se manifestaria a respeito da decisão.

"A bandeira dele é a mesma do papa Francisco; falam a mesma língua" - Cláudio Guerra, engenheiro ambiental e organizador de livro sobre frei Cláudio (foto: Rodrigo Clemente/EM/D. A Press)

CONFUSÃO
A relação entre a Paróquia do Carmo e frei Cláudio se tornou conturbada nos últimos quatro anos – em 2010, os frequentadores das missas chegaram a fazer abaixo-assinado para mantê-lo na Igreja do Carmo, tendo em vista a ameaça de ele ser afastado das celebrações. A missa do dia 26, geralmente frequentada por mais de 1 mil católicos, foi a gota d’água nessa história. Um grupo de fiéis impediu a realização do culto por não concordar com a ausência do frei no altar. De acordo com a ordem carmelita, o horário, por ter mais fiéis, em especial as famílias, foi escolhido para comunicar o nome do novo pároco, o padre Wilson da Mota Fernandes, de 31 anos, e que o frei Evaldo foi eleito prior provincial (superior) da Ordem dos Carmelitas no Brasil para as regiões Sul e Sudeste.

Um vídeo postado por um anônimo na internet mostra cenas que misturam gritos, vaias aos sacerdotes que iriam presidir a celebração, bate-boca, rostos amedrontados e lágrimas. A Polícia Militar foi chamada e ninguém se machucou, não se registrando danos ao patrimônio da igreja. Na quarta-feira, frei Cláudio divulgou o texto “Um esclarecimento necessário”, no qual explica que “estava ausente de BH, quando ocorreram manifestações imprevistas. Informo que nada disso foi planejado. O que houve foi uma explosão emocional pelos fiéis, que estranhavam a presença, previamente não anunciada, do pároco, frei Evaldo, que não costuma presidir a celebração nesse horário. Eu, responsável por ela, fui informado por terceiros de que estaria liberado da celebração. Ao saber disso, resolvi acompanhar um casal amigo à sua residência na vizinhança de BH”. Anteontem, pela manhã, mais de 200 pessoas deram um abraço na Igreja do Carmo, em solidariedade ao frei Cláudio, pedindo a sua volta às antigas funções.

Ações sociais e sermões engajados

Em mais de quatro décadas na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, que começou em 8 de dezembro as comemorações do seu cinquentenário de fundação, frei Cláudio van Balen conquistou uma legião de fiéis admiradores com sermões engajados e, muitas vezes, controversos. No dia a dia, sempre estimulou a prática de ações sociais e desfiou assuntos polêmicos, tanto para a Igreja Católica quanto para a ciência, como aborto, eutanásia, homossexualismo, divórcio e até a transposição do Rio São Francisco, tema que virou presépio ocupando quase toda a nave da igreja.

Nascido na Holanda, coube ao garoto Jildert – nome de batismo – a escolha de vir para o Brasil, aos 16 anos, ainda na condição de seminarista, com um grupo de sete jovens holandeses, estudantes carmelitas da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Dos oito, quatro concluíram a formação sacerdotal e, desses, dois perseveraram no sacerdócio. Frei Cláudio é o único sobrevivente no Brasil.

Após dois anos de estudo ginasial em Itu (SP), um ano de estágio em Mogi das Cruzes (SP), três de filosofia e quatro de teologia em São Paulo, ele também se formou em letras clássicas. Foi ordenado em dezembro de 1959. De 1960 a 1964, quando se encontrava em Roma, preparando-se para o doutorado em teologia dogmática, conviveu com o clima de renovação que iria desembocar no Concílio Vaticano II. Ele conta que, na ocasião, teve a oportunidade de presenciar “uma significativa – embora passageira – mudança na Igreja Católica, em doutrina e pastoral”. No retorno ao Brasil, depois de três anos por São Paulo, foi transferido para Belo Horizonte, onde daria aulas de teologia e trabalharia na paróquia do Carmo.


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