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Estado de Minas

Trânsito matou mais de 3 mil pessoas no estado em 2013

Imprudência de motoristas, fiscalização insuficiente, estradas ruins e lentidão da Justiça para punir estão por trás das tragédias que mataram 3 mil pessoas em Minas em 2013


postado em 19/01/2014 00:12 / atualizado em 19/01/2014 07:22

Guilherme Paranaiba e Luana Cruz

Batida entre carro e carreta deixou quatro mortos na BR-381, em Barão de Cocais(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Batida entre carro e carreta deixou quatro mortos na BR-381, em Barão de Cocais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Ibituruna, no Centro-Oeste de Minas, tem 2.923 habitantes. A vida pacata, típica de uma cidade do interior, contrasta com a carnificina diária nas estradas e nos centros urbanos. Em 2013, o número de mortes (3.184) no estado foi maior do que a população de Ibituruna, por exemplo. E superou bastante a projeção feita pelo Estado de Minas em abril, de que 2.178 vidas seriam ceifadas até o fim do ano se fosse mantida a média de acidentes em todo o estado no primeiro trimestre de 2013. As mortes no trânsito são quase duas vezes maiores que os 1,7 mil assassinatos registrados na Grande BH entre janeiro e novembro do ano passado. Se a comparação for estendida à capital, a diferença é ainda maior. Cinco vezes mais pessoas morreram no trânsito em 2013 em relação ao total de homicídios entre janeiro e novembro. Enquanto o poder público culpa o mau comportamento dos motoristas pelas tragédias nas estradas, especialistas responsabilizam a imprudência dos condutores, as más condições das estradas e a fiscalização insuficiente.

Vidas e sonhos perdidos entre ferragens retorcidas, latarias amassadas, vidros estilhaçados e destruição generalizada em meio ao asfalto das rodovias e da cidades. Esse foi o destino de pelo menos 3.184 pessoas em Minas Gerais em 2013, segundo levantamento feito pelo Estado de Minas. A mortandade é 46% superior à estimativa feita pelo EM em abril para o ano inteiro baseando-se nos números do primeiro trimestre. E mais preocupante ainda, pois é maior do que a soma dos assassinatos na Grande BH e nas 21 cidades do interior do estado com mais de 100 mil habitantes (2.454 homicídios entre janeiro e novembro de 2013).

O balanço considera dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) e da área urbana de 237 municípios sob atuação da Polícia Militar. Nesse caso, todos os óbitos ocorreram no local do acidente. Além disso, a pesquisa feita pelo EM incluiu quem morreu em acidente de trânsito nos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e não é incluído nas estatísticas da polícia.

O advogado Carlos Cateb, que participou da elaboração do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), acredita que quatro fatores são responsáveis pelo “cenário de guerra”. Ele aponta a imprudência de motoristas, seguida pelas cobrança pesa das transportadoras sobre motoristas. “Essas companhias cobram metas, o que exige que os caminhoneiros rodem por muitas horas seguidas. Hoje, o caminhão é uma arma no Brasil. Além disso, elas não fazem avaliação correta na hora de escolherem os condutores dos veículos pesados”, diz Cateb.

O especialista diz ainda que o poder público se omite e não investe devidamente em educação para o trânsito e não faz fiscalização ostensiva: “Parte do que se arrecada com multas e impostos dos veículos tem que ser investido na educação. Além disso, não se vêem policiais nas estradas”. Por fim, ele chama a atenção para a morosidade do Judiciário para julgar crimes de trânsito. “Os processos chegam à Justiça e morrem, deixando infratores impunes”, completa.

Já na avaliação do inspetor Aristides Júnior, assessor de comunicação da PRF em Minas Gerais, a maior causa da carnificina nas estradas e nas cidades é o mau comportamento dos motoristas. O agente garante que só o investimento em mais equipamentos e policiais não resolveria o problema. “A agressividade e o desrespeito às normas criam um cenário em que se torna necessário um planejamento maciço e cotidiano em educação de trânsito. Nenhuma polícia é onipresente e não consegue estar em todos os lugares”, afirma. Ele chama a atenção para o fato de que a conscientização deve ser feita nas escolas também, pois o motorista do futuro segue o exemplo que vê hoje.

CAMPANHAS EDUCATIVAS

O governo de Minas garante que investe em educação para o trânsito. Segundo a assessoria de comunicação, a Polícia Militar, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) desenvolvem programas de prevenção de acidentes. Em 2013, o DER fez 465 blitzes educativas. Ainda segundo a assessoria, a Seds mantém a campanha Sou pela vida, dirijo sem bebida”, que aplica o teste do bafômetro para flagrar motoristas embriagados ao volante. De 14 de julho de 2011 até 16 de janeiro foram mais de 100 mil testes aplicados, com 1.222 motoristas flagrados acima de 0,34 miligramas de álcool por litro de sangue, o que significa crime de trânsito, e 2.950 infrações, casos em que o teste aponta entre 0,05 mg/l e 0,34 mg/l.

O diretor do Detran, delegado Oliveira Santiago Maciel, também responsabiliza o motorista como o principal responsável pelos acidentes. Segundo ele, o órgão trabalha para reduzir os números. “No ano passado mais de 1,2 mil instrutores de autoescola passaram por reciclagem no Detran, 15 mil motoristas tiveram carteira suspensa e mais de 1 mil inquéritos por embriaguez foram abertos”, informou. Ele atribui ao Legislativo estadual o fato de as escolas não terem disciplina para ensinar crianças e adolescentes a agir no trânsito. “Existe um projeto tramitando há dois anos na Assembleia. Os deputados precisam torná-lo lei”, afirma.

Quem acaba pagando caro são os parentes e amigos de vítimas de desastres, caso do corretor de imóveis e pastor evangélico Edivaldo Corrêa Durães, 51 anos, morador do Gama (DF). Ele é irmão do eletricista e também pastor Evaldo Corrêa Durães, de 39, que perdeu a vida no último dia de 2013, depois de se envolver em acidente que matou oito pessoas em três veículos. Nenhum dos envolvidos sobreviveu à batida no km 112 da BR-040, em Lagoa Grande, no Noroeste do estado. Com Evaldo estavam a mulher e dois filhos. “A dor causada pela falta do meu irmão vai demorar muito tempo para ser desfeita. Os carros hoje chegam a 200 km/h e nossas estradas são as mesmas de 50 anos atrás. Não vemos campanhas educativas de grande porte, os condutores fazem o que querem e as grandes cidades estão abarrotadas de veículos”, desabafa Edivaldo.

Estradas não protegem motoristas

A maior parte das mortes no trânsito ocorre nas estradas. Os números foram puxados pelas rodovias fiscalizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e também pelas estradas de menor movimento, aquelas onde a responsabilidade é da Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Juntas, as BRs e as MGs somaram 2.447 óbitos, o que, para especialistas, têm relação direta com as condições de infraestrutura viária. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pelas rodovias federais do estado, refuta essa constatação, argumentando que as BRs mineiras são as mais movimentadas do país e têm recebido atenção especial do órgão em investimentos para melhoria das condições de segurança. No que diz respeito ao tráfego urbano, Belo Horizonte os acidenters diminuíram entre 2012 e 2013, segundo dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).

O sociólogo e consultor em segurança de trânsito Eduardo Biavati considera que as estradas estão defasadas e precisam de muitas intervenções. “As estradas não matam sozinhas, mas também não protegem os motoristas”, diz.

Segundo ele, a malha rodoviária do Brasil é muito antiga e os gestores das estradas também são responsáveis pela carnificina. “Se pudéssemos oferecer condições rodoviárias perfeitas, a gente poderia dizer que temos o que há de melhor e o motorista não respeita, mas não é isso que acontece”, pontua.

Biavati também chama a atenção para o fato de que 466 pessoas morreram entre janeiro e outubro de 2013 nos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas, vítimas de acidentes de trânsito. “Se a pessoa morre depois, no hospital, significa que a lesão é realmente grave. E se é tão grave ao ponto de causar a morte, podemos dizer que a velocidade no momento da batida também era alta”, afirma.

Para o superintendente do Dnit em Minas Gerais, Álvaro Campos de Carvalho, a posição geográfica do estado favorece a maior circulação de veículos e, consequentemente, o maior número de acidentes. Carvalho cita ainda o relevo montanhoso de Minas, que também favorece as batidas, e afirma que o Dnit está providenciando melhorias para as rodovias mineiras. “Temos mais de 200 contratos em vigor de manutenção e restauração de rodovias. Toda a malha viária do Dnit em Minas também já está contemplada pelo programa BR Legal, que vai implantar nova sinalização nas estradas e garantir a manutenção das placas por cinco anos”, diz ele.

BELO HORIZONTE

Enquanto em 2012 a capital mineira registrou 182 mortes em batidas nas ruas e avenidas da cidade, o número caiu 47% no ano passado, quando foram 96 óbitos. Também acompanharam a redução o número de feridos, que diminuíram mais de 30%, e o de acidentes com vítimas, que recuaram mais de 15%. Em 2013, mais de 65 mil colisões, capotamentos, atropelamentos e demais ocorrências aconteceram em toda a cidade.

 

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)
 


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