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Estado de Minas

Feira de artesanato fica cercada de camelôs aos domingos

Camelôs que durante a semana ocupam imediações da Praça Sete aproveitam o domingo para migrar para a Afonso Pena, onde concorrem com expositores vendendo material industrializado


postado em 04/11/2013 06:00 / atualizado em 04/11/2013 07:08

 

(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

As ruas da Bahia e Guajajaras são o limite da Feira de Artes e Artesanato de Belo Horizonte, que ocorre todos os domingos na Avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte. Mas a exposição e venda de produtos não está limitada a esses quarteirões. Os passeios da avenida, em direção à rodoviária, estão tomados por vendedores que dizem ser artesãos, mas que expõem ali produtos bem diferentes de artesanato. O que impera nos panos pretos estendidos pelo chão são colares e pulseiras de aço, produtos de grande procura por quem passa por ali.

A venda irregular pode ser vista também nos passeios da própria feira. De acordo com o presidente da Federação Mineira de Artesãos (Femeart), Apolo Costa, além dos ambulantes que pegam carona na liminar que permite a atividade dos hippies, há inclusive expositores legalizados que contratam pessoas para expor seus produtos na calçada. “A feira é um espaço demarcado e legalmente reconhecido por meio de uma licitação pública. Espalhar o comércio pelos passeios do Centro é uma ação contrária a toda a organização montada para a realização dela”, defende Apolo. Ele ainda critica o comércio de camelôs, porque entende que eles praticam uma venda que deixa a cidade suja e que atrapalha a passagem dos pedestres. “Eles estão expondo de qualquer jeito. E como não tem uma pessoa na fiscalização para diferenciar o que realmente é artesanato, continuam vendendo suas correntinhas do Paraguai à margem da lei.” O presidente da Femeart cobra uma ação fiscal mais efetiva da prefeitura para fiscalizar o devido cumprimento da liminar que favorece hippies e artesãos.

Questionados pela reportagem do Estado de Minas, os ambulantes sabem bem que estão na ilegalidade. Um deles, M.T., de 53 anos, diz ser artesão desde os 7, mas admite misturar peças artesanais e industrializadas, porque precisa ter lucro no negócio. “Quando meu filho quer o leite, ele não quer saber se o dinheiro vem do artesanato ou da fuleragem”, ironiza ele, que usa o termo para referir-se ao comércio irregular. A infiltração de camelôs na Avenida Afonso Pena, segundo ele, vem desde dezembro passado, pouco tempo depois de a Justiça ter concedido direito aos hippies de expor nas ruas do Centro.

M. afirma que não há como fugir da venda de produtos industrializados, uma vez que há muita procura por esse tipo de mercadoria. “Alguns produtos feitos à mão têm saída sempre, como brinco e anel de coco. Mas temos que seguir a tendência de mercado, porque se mantiver só artesanato a gente não vende quase nada. As pessoas querem os produtos industrializados”, afirma.

A concentração do comércio ambulante aos domingos é maior na esquina da Avenida Afonso Pena com Rua dos Tupis. No local, pelo menos 10 pessoas expõem produtos perceptivelmente industrializados. O agente de fiscalização, que com o rádio poderia avisar o fiscal sobre a presença dos camelôs, esteve por lá na manhã de ontem, mas nada fez. Quando perguntado por que não atuava nesse sentido, chegou a dizer que eles podiam por serem artesãos. Mas, depois, admitiu: “Não temos orientação para mexer com esse pessoal aí”.

Enquanto isso, ambulantes como O. L., de 53 anos, aproveitam para vender pulseiras de couro, correntes de aço, brincos de plástico e outros materiais expostos no passeio. “Tenho carteira de artesão. Mas quem vive só de arte hoje? Antigamente dava, mas hoje não, porque o que tem saída é industrial”, diz. Ele ainda critica o trabalho de parte dos artesãos que ficam nos arredores da Praça Sete. “Prefiro trabalhar do meu jeito a ficar expondo três peças que eu mesmo fiz, bebendo cachaça e perturbando as pessoas na rua, como muitos fazem.”

TRENZINHO MALUCO

Ainda mais ousado que os ambulantes que colocam objetos à venda nos panos estendidos sobre os passeios, um casal montou uma banquinha na calçada da Avenida Afonso Pena, no mesmo quarteirão, para vender um brinquedo infantil. Sem a presença da fiscalização a dupla se sentia livre para anunciar o produto: “Trenzinho maluco. É R$ 10, é 10”, dizia a mulher. Ela afirma que há mais de nove anos trabalha como camelô, mesmo sabendo que a atividade é irregular. “Está dando certo para mim. Por que eu vou sair da rua?”


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