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Estado de Minas

SUS vira opção para quem tenta gravidez difícil

Para realizar o sonho da maternidade, casais de maior poder aquisitivo têm cada vez mais procurado serviços de reprodução assistida como o do HC/UFMG. Na rede privada, tentativas custam até R$ 20 mil


postado em 06/10/2013 06:00 / atualizado em 06/10/2013 07:16

O Hospital das Clínicas tem qualidade reconhecida, mas pacientes ainda arcam com custo de medicamentos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O Hospital das Clínicas tem qualidade reconhecida, mas pacientes ainda arcam com custo de medicamentos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Três anos de espera e uma tentativa sem sucesso estão sendo substituídos pela expectativa de que a cegonha chegue em breve à casa da médica Fernanda Gomes dos Reis, de 36 anos. Por lá, o clima é de torcida pelo sucesso da próxima fertilização in vitro, marcada para este mês no Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte. O preparo do quarto do bebê também é aguardado pela fisioterapeuta K.N.F.M, de 35. Ela acabou de ser chamada pelo HC para dar início ao processo de reprodução assistida, após três anos e meio na fila. Unidas a essas mulheres pelo sonho da maternidade, a consultora hospitalar Lisete Beatriz Nunes Bárbara, de 35, e a analista de recursos humanos Poliana Nara Moreira Castro, de 33, passarão por nova tentativa de engravidar. Em comum, Fernanda, K., Lisete e Poliana têm mais do que a vontade de ser mães. As quatro, com dificuldade para engravidar naturalmente, fazem parte de um grupo da classe média que trocou os tratamentos particulares de alto custo pela busca do sonho da maternidade na rede pública. Com os maridos, estão em uma fila de mais de 1,2 mil casais que aguardam o procedimento na única unidade do estado a oferecer a reprodução assistida gratuita. Para lidar com a espera, se apoiam no exemplo de quem percorreu todo o caminho com sucesso, como a assistente administrativa Fernanda Lemos, de 24, que comemora o sétimo mês de gravidez.


A inspiração é importante, principalmente porque as pacientes sabem que o tempo é o maior inimigo no processo, já que as chances de engravidar diminuem com a idade. Mas outro motivo que as encoraja é não se disporem mais a pagar os valores cobrados na rede particular. Nas poucas clínicas em Belo Horizonte que trabalham com reprodução humana assistida, o atendimento é imediato, mas os valores variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil por tentativa de fertilização in vitro (veja características das técnicas na página 22), independentemente do sucesso.

O preço inclui gastos com medicação, cerca de 25% do total do tratamento. Mesmo na rede pública, os pacientes precisam arcar com o valor dos remédios, que custam de R$ 3 mil a  R$ 5 mil. “Estamos tentando engravidar há 10 anos. Nesse período, passamos por duas inseminações na rede particular e duas fertilizações in vitro e já investimos cerca de R$ 13 mil”, conta Lisete. A consultora reconhece a comodidade da rapidez nas clínicas privadas, mas diz que continuar o tratamento pago implicaria a venda de bens da família. “Teríamos que abrir mão de algumas conquistas e, por isso, preferimos aguardar na rede pública”, diz Lisete, que tem o aval do marido na decisão.

Poliana e Rodney: depois de vender um carro para custear tratamento, esperança renovada no HC(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Poliana e Rodney: depois de vender um carro para custear tratamento, esperança renovada no HC (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Antes de buscar o Hospital das Clínicas,  Poliana Castro também já tinha sentido nas finanças da família o custo do tratamento, gastando pelo menos R$ 15 mil na primeira tentativa de fertilização in vitro na rede particular. “Precisamos vender o carro, mas ter um filho é um sonho e, para isso, vale a pena”, diz Poliana. Além do fator financeiro, o marido dela, Rodney Passagli, de 37, lembra o desafio psicológico do processo. “O impacto emocional é muito grande, principalmente para a mulher. Parece que a vida da gente para por um tempo”, diz.

Como eles, há cerca de 2,5 mil casais inscritos para fecundação in vitro no Laboratório de Reprodução Humana Aroldo Fernando Camargos, do HC/UMFG. Destes, 1,3 mil já foram chamados. O restante espera uma vaga. Nesse universo, antes quase todo formado por casais de baixa renda, torna-se cada vez mais frequente a presença de pessoas com maior poder aquisitivo, como informa o subcoordenador da unidade, Francisco de Assis Nunes Pereira. “Há pacientes que relatam terem passado pela iniciativa privada e, diante da impossibilidade de continuar a pagar, se inscrevem na fila da rede pública”, explica. Na lista dessas novas pacientes, segundo ele, há advogadas, médicas, arquitetas, engenheiras, entre outras profissionais.

Uma delas é a fisioterapeuta K., de Itaúna, na Região Central de Minas. Com o marido, o empresário A., de 36 anos, ela já investiu cerca de R$ 10,5 mil na esperança de ouvir o chorinho de bebê em casa. Unidos há sete anos, desde 2008 eles tentam engravidar. Em uma clínica particular da capital, arcaram com os custos de dois procedimentos para reversão de vasectomia e uma inseminação artificial, mas não obtiveram sucesso. Depois de três anos na fila do HC, foram chamados na terça-feira para a primeira reunião sobre a técnica da fertilização in vitro.

O casal pretende fazer apenas uma tentativa no HC, por dois motivos: o estresse do processo e o custo da medicação. Pelo menos terão uma chance, já que não teriam condições de pagar pela fertilização na rede particular. “Se não tivéssemos a rede pública, já teríamos desistido. O tratamento é muito caro”, afirma K. Durante a conversa nos corredores do HC, o marido lembra que a irmã dele já gastou mais de R$ 50 mil com tentativas de engravidar. “Não temos condição de fazer o mesmo.”

No caso da médica Fernanda Gomes dos Reis, de 36, foi a certeza da qualidade do serviço na rede pública que pesou na decisão de entrar na fila do HC. Durante os três anos de espera, ela e o marido tentaram sem sucesso a gravidez natural. A médica já passou por uma fertilização in vitro no HC, que não foi bem-sucedida. Agora, prepara-se para implantar embriões que foram congelados na época da primeira intervenção. “Se não der certo, ainda tenho mais duas tentativas. Trabalho na saúde pública e conhecia um pouco do serviço e da qualidade. O fator financeiro também pesou na hora de fazer a escolha pelo HC, pois os valores cobrados nas clínicas particulares são muito elevados”, afirma a médica.

Onde pousa a cegonha
Confira o passo a passo para ter acesso aos serviços de fertilização

NA REDE PÚBLICA DE BH

>> O casal que tem dificuldade para engravidar deve procurar o serviço público de saúde para se consultar. O primeiro passo é se dirigir ao posto de saúde de sua região
>> Constatada a infertilidade, é feito encaminhamento ao PAM Sagrada Família, onde o casal passa por exames e avaliação
>> No Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) os candidatos fazem novos exames e dão início aos tratamentos
>> O protocolo de atendimento exige que seja cumpridas todas essas etapas. Não é possível recorrer diretamente ao HC
>> Apesar de o tratamento ser gratuito, os pacientes precisam bancar o custo da medicação, em torno de R$ 5 mil, por tentativa
>> A espera no HC dura até três anos

NA REDE PARTICULAR
>> A marcação é feita diretamente nas clínicas. O atendimento é pago e imediato

REPRODUÇÃO ASSISTIDA GRATUITA NO BRASIL

>> Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte
>> Hospital das Clínicas de São Paulo
>> Hospital Pérola Byington, em São Paulo
>> Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP)
>> Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre
>> Hospital das Clínicas de Porto Alegre
>> Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, em Recife
>> Maternidade Escola Januário Cicco, em Natal
>> Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), em Brasília


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