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Estado de Minas

Pescadores temem degradação do Rio São Francisco

Empresa garante apenas revitalização das margens do Velho Chico para evitar erosões, mas ambientalistas denunciam destruição e prometem campanha para o rio voltar ao seu leito


postado em 21/12/2012 06:00 / atualizado em 21/12/2012 06:12

Lagoa da Prata - A época é de piracema (período de desova dos peixes) e os pescadores estão longe das águas do Rio São Francisco e dos demais cursos d’água brasileiros. Mas, em qualquer tempo, permitido ou não pelas leis ambientais, o técnico em segurança do trabalho Gilson Maia, de 39 anos, se mantém afastado da localidade de Volta Grande. “Há uns 10 anos não consigo ver aquele lugar. Na última vez em que estive lá, chorei de tristeza”, diz Gilson, que sempre gostou de uma pescaria animada ao lado dos amigos. “Quando criança, era bom passear, mas agora ficou difícil. Que natureza vamos deixar para nossos filhos e netos?”, pergunta o pai de Arthur, de 8 anos, lembrando-se da degradação ambiental do trecho do Velho Chico.


Ao lado do amigo e colega de profissão Ricardo Leopoldino, de 45, pai de João Ricardo, de 13, Gilson espera que as autoridades e empreendedores responsáveis recuperem Volta Grande. Nessa localidade, a empresa, então de propriedade de Antônio Luciano Pereira, construiu, na década de 1980, um canal de 250 metros de extensão, com 50 a 80 metros de largura, para fazer um atalho para os seus caminhões e aumentar a área de plantio de cana em 164 hectares. O desvio tornou reto o curso d’água, destruindo as curvas e o ecossistema hídrico num trecho de 7,5 quilômetros.

Os tempos são outros, e a sede de preservação do Rio São Francisco, por parte da comunidade de Lagoa da Prata, continua a mesma, intensa e diversificada. Mas a recente decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), favorável ao Movimento Ambientalista Casca D’Anta, representado pelos advogados de Luz Gustavo Ferreira Carvalho e Mateus Botinha Oliveira - para indenização por desvios no rio na região -, não serviu para animar os integrantes da Associação dos Pescadores Amadores do Alto São Francisco (Aapa).

“Queremos ação efetiva. Já estamos cansados de esperar, de promessas. A nossa grande vitória será o dia em que o Rio São Francisco voltar ao leito normal, como era antes. Disso não abrimos mão”, afirma, com veemência, o presidente da Aapa, Saulo de Castro. Há ações impetradas pelo Ministério Público (MP) estadual, mas nenhuma conseguiu ainda barrar a degradação do Velho Chico ou determinar a recomposição do curso d’água.

 

Documentário

Na tarde quente de terça-feira, o pescador Damião Lopes olha o rio e vai mostrando cada detalhe da deterioração. “Aqui não tem mais peixes. Havia dourado, surubim, piau e outros. Agora, os barrancos estão desabando, as matas ciliares acabaram, o assoreamento tomou conta do leito e dezenas de lagoas marginais secaram. Depois, o resultado é enchente, poluição, inundação nas cidades, enfim, tragédia”, diz o pescador. Sob o sol forte, na beira do rio, ele se junta aos amigos Saulo e Sebastião Carlos de Miranda, o Miquita, todos da associação fundada há 10 anos para defender o patrimônio natural da região. “Se não houver atitude urgente, vamos perder o nosso Velho Chico”, diz Sebastião.

A próxima etapa da associação é fazer a sua luta ecoar Brasil afora. Assim, está gravando um documentário, produzido pela Fotossíntese Filmes, com recursos do Ministério da Cultura, para ser veiculado em canais públicos. O título do trabalho não poderia ser mais sugestivo - Rio interrompido - e é sempre com determinação que os pescadores dão depoimentos à equipe formada por Alan Russel, Júlio Mota, Lucas Ragome e Helder Clério. “Temos de mostrar essa realidade para todo o país”, alerta Saulo. Damião lembra que nada mudou desde 2003, quando foram feitas as primeiras denúncias que tiveram repercussão nacional e levaram autoridades federais à região.

Descaso

O promotor da comarca de Lagoa da Prata, Eduardo Almeida da Silva, explica que a empresa não cumpriu o termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado com o Ministério Público, em 2003, para a recomposição do leito e implantação de medidas de revitalização da área. Há muitas ações na Justiça a respeito do assunto e o promotor destaca que a empresa tem de cumprir o acordo.

Segundo informações da Empresa de Participação Oeste de Minas e Táxi Aéreo (Epomta), o trecho do São Francisco em Volta Grande terá as margens revitalizadas, para evitar mais erosão. A empresa espera o fim do período chuvoso para começar o serviço. A Epomta não pretende mexer no trecho onde houve o desvio, segundo um funcionário, pois cumpre determinação da Agência Nacional das Águas, que não teria concedido outorga para isso.

 

 


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