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Estado de Minas

Crescimento de Belo Horizonte vai além das ideias de Aarão Reis

A capital ganhou prédios, muitas árvores e grandes avenidas. Cresceu tanto que agora tenta conter o crescente trânsito. Do bonde ao BRT, o transporte de massa passou a ser prioridade


postado em 12/12/2012 07:06 / atualizado em 12/12/2012 08:40

(foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)
(foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)



Belo Horizonte chega aos 115 anos decepcionando poetas e trovadores que ainda a invocam como acanhada musa recolhida entre montanhas. Isso teve um fundo de verdade na primeira metade do século passado, nos tempos de Cidade Jardim. Mas o destino de uma capital é traçado por sua representação. E BH está à frente de um dos mais ricos estados do país, terra de personalidades ilustres, de solo precioso, de matas exuberantes, serras, rios caudalosos e de uma gastronomia de dar inveja a chefs internacionais. Com esse currículo, BH cresceu inevitavelmente cortejada e tornou-se candidata a metrópole. Sufocou-se no despreparo para ser grande, mas não se rendeu. Reagiu para atender exigências modernas. Hoje, se não é mais a mocinha tímida de cantos e versos, procura não decepcionar seus moradores e abre perspectivas de que pode se transformar em um núcleo urbano propício à vida. Pede paciência com os aparentemente intermináveis canteiros de obras e promete se vestir de gala para desfilar entre as principais cidades com qualidade superior. É essa viagem de mais de um século e o salto rumo ao futuro que mostra este caderno especial.

Eram 12 mil habitantes. A Avenida do Contorno, então denominada 17 de Dezembro, delimita uma cidade planejada, com vias que se cruzam em traçado geométrico. Ali dentro, toda a estrutura urbana: transporte, educação, saneamento e saúde, prédios públicos e comércio. Além do limite, colônias agrícolas. E a Belo Horizonte projetada por Aarão Reis foi inaugurada em 12 de dezembro de 1897. Ainda estava em construção, mas quem passou a viver na antiga área de Curral del-Rei não imaginava qual seria o futuro da nova capital.

O traçado preestabelecido pela Comissão Construtora era diferente do que havia até então em Minas, nas cidades históricas como Ouro Preto, até então a capital. O contorno urbano da cidade era próximo ao de Paris, mas Aarão Reis teve como grande modelo La Plata, fundada em 1882 para ser a capital administrativa da Argentina. O plano não foi aplicado totalmente, mas em 1897 ela foi inaugurada. A Praça da Liberdade e o Centro foram quase totalmente ocupados, enquanto Lourdes e o Santo Agostinho receberam poucos habitantes.

“A cidade teve 20 anos de desenvolvimento lento. A área rural começou a ser ocupada nos anos 1920 e se formam vilas nas regiões dos bairros Pompeia, Horto, Sagrada Família, Aparecida”, conta o historiador do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte Raphael Rajão. A cidade começou a receber cada vez mais habitantes e, na década seguinte, problemas aparecem. Na administração de Otacílio Negrão de Lima foi construída a barragem da Pampulha para fins de abastecimento. O bonde era o principal veículo de transporte de massa, mas já precisava de complementos. Vieram os auto-ônibus e os carros já eram comuns nas ruas.

Avenidas começam a cobrir os córregos. Pedro II, Silviano Brandão e Amazonas marcaram a expansão da cidade para vilas erguidas nas redondezas. Nos anos 1930, a capital intensificou sua urbanização e iniciou o processo de verticalização. O primeiro, segundo o historiador Raphael Rajão, foi o Edifício Abaeté, na esquina da Rua São Paulo e Avenida Afonso Pena, no Centro.

Na década de 1940, a Avenida Pampulha, hoje Antônio Carlos, chegou à barragem e Juscelino Kubitschek liderou o projeto de ocupação de alto padrão na orla da lagoa. O arquiteto Oscar Niemeyer desenhou o que seria implantado nas margens: Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Cassino e o Iate Golf Clube. Venda Nova e Barreiro já estavam no mapa. A primeira região era considerada dormitório; a segunda, uma colônia agrícola. A Cidade Industrial fazia parte de BH e abrigava grandes fábricas. A Pampulha era a área de lazer.

Eleições

Politicamente, os moradores ainda não tinham votado em um administrador. O primeiro, foi Otacílio Negrão de Lima, em 1947. Ele já tinha sido prefeito em 1936. “A cidade ficou 50 anos sem um representante escolhido pelo povo. Isso criou dificuldade de entendimento entre o poder público e a sociedade”, afirma a historiadora e professora da UFMG Regina Helena Alves da Silva. Os belo-horizontinos votaram até 1964 e voltaram às urnas só depois da redemocratização.

A explosão demográfica veio nos anos 1950. Surgiram a Pedreira Prado Lopes, as vilas que hoje formam o Aglomerado da Serra, a Cabana Pai Tomás e o Morro das Pedras, além de conjuntos habitacionais como o IAPI. “O assunto passou a ser uma preocupação da política pública e a cidade continuou a viver um momento de intensa verticalização”, diz Raphael Rajão. Não demorou muito e a capital planejada para poucos habitantes viu a população passar de 1 milhão. A Avenida Carlos Luz, a Catalão, foi construída em cima de um córrego. No alto da Afonso Pena, favelas como a Pindura Saia, que ocupava a área onde hoje está o Bairro Cruzeiro, foram desocupadas.

Nos anos 1970, chegaram ao traçado da capital a Raja Gabaglia, a Prudente de Morais e a Cristiano Machado, além da Via Expressa, reflexo da necessidade de um planejamento metropolitano. E a cidade caminhou para o que o belo-horizontino vê hoje: com problemas de trânsito e criação intensa de viadutos e elevados. Chegaram os anos 1980 com moradores pedindo preservação ambiental e do patrimônio que restava da antiga construção. Ainda assim, nos anos 2000, áreas verdes como Buritis e Belvedere sofreram intensa ocupação. Os dois bairros são os únicos compostos apenas por prédios, sem nenhuma casa.

Quando a capital completou 100 anos, o então prefeito Célio de Castro definiu o que se poderia levar para todos os anos: “A capital desenhada por técnicos e engenheiros, estudada e planejada com rigor científico, era uma cidade – mais do que o traçado de suas ruas, mais que de prédios construídos – feita de pessoas. E é no movimento diário dessa gente, no trabalho, nas escolas, na luta do dia a dia, que ela ganha vida”.

Marcos e visitas

Em todos os anos de urbanização contínua, Belo Horizonte teve seus marcos. Foi Cidade Jardim, viu nascer destaques na literatura modernista, como Carlos Drummond de Andrade, que se reuniam no Bar do Ponto, em frente à estação central do bonde, na Rua da Bahia com Afonso Pena, assistiu a salas de cinema pipocarem nas ruas. Recebeu visitantes ilustres, como em 1920, quando chegaram à capital o rei Alberto e a rainha Elizabeth, da Bélgica. Para eles, o prédio da Praça da Estação foi refeito. Para os 100 anos da Independência Brasileira, a então Praça 12 de Outubro foi rebatizada e recebeu o nome de Praça Sete de Setembro, além de ganhar o Pirulito.

Na Revolução de 3 de outubro de 1930, a população viu troca de tiros entre revolucionários e forças federais, o fechamento do Poder Legislativo durante a ditadura do Estado Novo. Anos depois, se reuniu na Praça Raul Soares, construída para o 2º Congresso Eucarístico Nacional. Os belo-horizontinos já foram às ruas contra o preço do cinema, se juntaram para formar grupos caricatos e brincar o carnaval sem sair da cidade, ocuparam a Região Central para comemorar a conquista da Copa de 1970 e levou centenas para a Praça da Rodoviária no comício pelas Diretas Já.

Belo Horizonte também recebeu o papa João Paulo II, em julho de 1980, com mais de 1 milhão de pessoas aos pés da Serra do Curral; comemorou a eleição de Tancredo Neves à Presidência da República e chorou a sua morte logo depois.

TRÊS PERGUNTAS PARA o prefeito Márcio Lacerda

Qual característica histórica ainda marca a cidade?

Belo Horizonte tem como marca histórica um povo gentil, que adora receber visitantes e tem orgulho
da cidade. Pelo Brasil afora, e mesmo no exterior, as pessoas que aqui estiveram ou têm informações
sobre a capital mineira, citam como referência a hospitalidade. Esta é uma marca histórica da cidade. Às vésperas da Copa do Mundo de 2014, Bh se projeta nacional e internacionalmente, sobretudo pelos valores sintetizados no seu povo. A solidariedade e a hospitalidade são heranças dos antepassados. Temos ainda um povo que valoriza a cidadania e que é parceiro do poder público.

Em qual modelo de cidade a prefeitura se espelha para suas ações?

Nos últimos anos, Bh se inseriu no cenário internacional. Sediamos eventos internacionais, como o Congresso Mundial do ICLEI, considerado a Rio+20 das cidades, que foi realizado em junho. Técnicos de diversas áreas da prefeitura são convidados a participarem de congressos internacionais e recebemos a cada mês delegações de várias partes do mundo, que nos visitam para conhecer nossos programas e projetos em áreas como a da educação, com as Umeis, a de habitação, como o Vila Viva,a área de política alimentar, com os restaurantes populares. Nossas ações são fruto dessa troca de experiência , como também dos nossos acertos e erros, ou seja, do dinamismo que é governar uma metrópole como BH.

Como é a cidade que o prefeito espera ver no futuro e dar aos seus netos?

Tenho certeza de que nossos filhos e netos viverão em uma BH com muito mais qualidade. O planejamento pensado hoje com certeza terá efeitos positivos amanhã. No futuro, BH será reconhecida pela qualidade do seu capital humano e social, a cidade será um centro de criatividade, produção e difusão de conhecimento e intensa conectividade com o Brasil e o mundo. A capital mineira e sua região metropolitana serão reconhecidas pela sustentabilidade ambiental. BH oferecerá um padrão digno de qualidade de vida para todos, com elevados padrões de mobilidade e acessibilidade, sistema de transporte público de qualidade, enfim, uma cidade democrática, com inclusão e justiça social. E fico muito à vontade para fazer essas projeções, porque já estamos trabalhando para a construção da cidade que queremos ter no futuro. Vamos transformar BH em uma das melhores cidades do mundo.


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