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Estado de Minas PATRIMÔNIO

Recursos do PAC Cidades Históricas chegam com atraso a Cachoeira do Campo

Igreja que, segundo o governo federal, seria a primeira a receber recursos do PAC Cidades Históricas mas não foi contemplada, ganha agora um alento para prosseguir restauração


postado em 24/11/2012 07:52

Restauração no interior da matriz em Cachoeira do Campo e a manifestação dos moradores no início do mês cobrando os recursos prometidos (foto: Euler Junior/EM )
Restauração no interior da matriz em Cachoeira do Campo e a manifestação dos moradores no início do mês cobrando os recursos prometidos (foto: Euler Junior/EM )

A comunidade de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, volta a respirar aliviada e manter a esperança. Depois do susto de ver paralisada a restauração da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, do início do século 18, por falta de repasse de verba federal à empresa responsável pela obra, os moradores do distrito recebem agora a garantia de que o serviço será concluído conforme o contrato. Em reunião em Brasília, o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Carlos Antônio Vieira, assegurou ao titular da paróquia, padre Oldair de Paulo Mateus, que a segunda parcela, no valor de R$ 124.740, já foi depositada na conta da Germec Construções. Há dois anos, a igreja foi escolhida pelo governo federal como a primeira a receber recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, o que não ocorreu, já que o dinheiro provém de emenda parlamentar. Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, o PAC também não funcionou, e dois prédios estão sendo cobertos com dinheiro do ICMS Cultural.

“Estamos satisfeitos, mas continuaremos atentos, pois a obra não pode parar mais”, disse, ontem, o padre Oldair, presente à reunião na companhia do assessor político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Geraldo Martins, e dos representantes da comunidade, Sebastião Evásio Bonifácio (coordenador de patrimônio da paróquia), Willian Luiz de Castro (coordenador de comunidades), Francisco Xavier da Costa e Vicente Pedrosa Junior. No dia 11, o Estado de Minas mostrou a frustração e tristeza dos moradores diante da paralisação da obra, que, segundo os empreendedores, tem 80% do serviço no telhado e 35% dos elementos artísticos prontos. A igreja é tombada desde 1949 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Padre Oldair informou que Vieira garantiu “todo o empenho” para pagamento da obra, orçada em R$ 1,8 milhão e prevista para terminar em dezembro de 2013. Dessa forma, o compromisso será honrado tão logo cheguem ao ministério os boletins com as medições dos serviços executados no templo católico. Os valores pagos correspondem a 20,43% das medições, conforme o ministério. O secretário municipal de Patrimônio e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto, Gabriel Gobbi, conta que 90% para o restauro são federais e 10% referentes à contrapartida da prefeitura. Ele adianta que a terceira e quarta parcelas, totalizando R$ 396 mil, foram autorizadas pelo Iphan, Caixa Econômica Federal, agente financeiro responsável pelo repasse do dinheiro, e prefeitura local. A expectativa é de que esses recursos sejam liberados até o fim do ano. A quinta parcela, segundo Gobbi, está em processo de autorização pelas instituições.

Mesmo confiante, a comunidade continua mobilizada. O presidente da Associação dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic), Rodrigo da Conceição Gomes, lembra que o movimento para recuperar a igreja começou há mais de 10 anos: “A nossa atitude será de mais fiscalização, para evitar que os serviços sejam interrompidos novamente”. Ele lembra que a igreja tem grande importância espiritual em Cachoeira do Campo e ocupa lugar de destaque na história de Minas. Diante dele, no início do século 18, foi travada, em 1708, uma das batalhas mais sangrentas da Guerra dos Emboabas, a disputa por poder e ouro das minas, envolvendo os emboabas – grupo formado por portugueses, baianos e pernambucanos, também chamados de reinóis e forasteiros – e os paulistas.

LONAS Encarregado da restauração dos elementos artísticos, o especialista Silvio Rocha Viana de Oliveira destaca a importância do templo barroco, dono do primeiro forro pintado em perspectiva de Minas, de autoria do artista português Antonio Rodrigues Belo, em 1751. Há duas semanas, durante a paralisação da obra, ele lembra, o cenário foi de tristeza para os moradores, pois as peças em recuperação, devido à ação dos cupins, foram cobertas de lonas pretas como forma de proteção. “As pessoas viram nisso um sinal de luto e não deixam de ter razão, pois a igreja é um bem de grande valor cultural e todos temem pela sua deterioração”, disse. O templo estava completamente tomado pelos cupins e, para exterminá-los, foi feita a desinfestação. “Trocamos a maioria das peças, mas há algumas, como um dos esteios do altar, que precisam ser retiradas e substituídas”, diz Silvio, mostrando a madeira carcomida pelos insetos.

Emboabas


No início do século 18, os paulistas, descobridores das minas, estavam estabelecidos nos arraiais que iam de Caeté a São João del-Rei. Atraídos pelas riquezas, os emboabas chegaram em massa, invadindo a área e revoltando os pioneiros. A disputa pelo ouro e poder – a guerra foi, acima de tudo, uma disputa política, em torno dos principais cargos e postos da administração montada na região – levou a conflitos armados e à escolha, em 1707, de um emboaba para governador, à revelia da coroa portuguesa. A guerra abriu caminho para uma série de levantes, como a Sedição de Vila Rica (1720) e Inconfidência Mineira (1789) e criação das primeiras vilas do ouro. Diante da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo, foi travada, em 1708, uma das batalhas mais sangrentas. Hoje, em frente à matriz, há um cruzeiro de pedra. Conforme documentos, foi ali que ficou exposto um dos braços de Felipe dos Santos, martirizado na Sedição de Vila Rica. Um dos principais líderes da revolta contra o controle da coroa portuguesa e o pagamento do quinto do ouro, ele foi preso no adro da igreja por ordem do governador da Capitania de Minas e São Paulo, conde de Assumar. Depois de enforcado, teria, conforme a tradição oral, o corpo dilacerado ao ser amarrado, pelos pés e mãos, a dois cavalos que correram pelas ruas de Vila Rica (ex-Ouro Preto).


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