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Estado de Minas

Período de temporais mal começou e Minas já contabiliza tragédias

Um ano depois do dezembro mais chuvoso da história de BH e às vésperas de outro mês de muitas tempestades, Minas já registra o dobro de vítimas, mas verbas para prevenção não saem do papel


postado em 06/11/2012 06:00 / atualizado em 06/11/2012 06:38

Corpos das meninas Beatriz e Luíza, ambas de 9 anos, foram encontrados nessa segunda-feira por bombeiros a um quilômetro do local do acidente, na Serra do Cipó(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)
Corpos das meninas Beatriz e Luíza, ambas de 9 anos, foram encontrados nessa segunda-feira por bombeiros a um quilômetro do local do acidente, na Serra do Cipó (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)


O pior ainda está por vir, com muitas tempestades previstas pela meteorologia para dezembro, que inclusive podem superar o recorde histórico registrado no mesmo mês de 2011, quando choveu 720mm. Mas as mortes e o sofrimento de muitas famílias já são uma realidade cruel no estado, onde nove pessoas já morreram desde o início da temporada de chuvas, o triplo do último trimestre do ano passado. Na tarde de domingo, quatro crianças que estavam numa caminhonete morreram em Jaboticatubas, na região metropolitana, surpreendidas por  um temporal. E enquanto o medo se instala e as tempestades se aproximam, BH e o interior não receberam um centavo sequer do governo federal para obras de prevenção. Até agora são só promessas, por razões diversas. No interior, dos R$ 27,7 milhões previstos no orçamento do Ministério da Integração Nacional, apenas R$ 300 mil foram reservados, mas nada foi liberado. Já na capital, os atrasos no repasse de verbas para obras de recuperação levaram a prefeitura a usar recursos próprios. Dos R$ 25 milhões previstos, só R$ 6,2 milhões foram liberados.

Ainda em estado de choque e sem acreditar na tragédia que vitimou as quatro crianças no fim de semana em Jaboticatubas, familiares começaram a enterrar os corpos das crianças ontem à tarde. No Cemitério Parque da Colina, no Bairro Nova Cintra, na Região Oeste de Belo Horizonte, foi intensa a movimentação de parentes e amigos para o adeus a Miguel Julião Reis, de 4 anos, filho da neurologista Andréa Julião de Oliveira, de 41. Mancando e com ferimentos em um pé, ela passou os últimos momentos ao lado do corpo do filho e buscou amparo junto ao marido, Fernando Marcos dos Reis, médico também. Os dois cuidavam da filha sobrevivente da tragédia, Beatriz Julião dos Reis, de 9, que sobreviveu à correnteza ao se agarrar a um galho.

O sepultamento do corpo de Miguel ocorreu às 16h. Uma hora depois, chegava ao mesmo cemitério o corpo de Laura Sydney Quintino dos Santos, de 4 anos. Ainda às 17h, o corpo da irmã dela, Luíza Sydney Quintino dos Santos, de 9, dava entrada no Instituto Médico Legal (IML) para necropsia. Marcado para ontem, o enterro de Laura foi transferido para as 10h de hoje, para que os corpos das duas irmãs fossem enterrados juntos. As meninas são filhas da administradora de empresas Daniela Correa Sydney e de Gustavo Quintino, casal que também estava no local do acidente. Somente Daniela estava na caminhonete, já que Gustavo e Fernando (pai de Miguel e Beatriz) voltariam andando para o sítio, conforme informaram familiares. A mãe das meninas foi socorrida no HPS João XXIII e recebeu alta ontem.

Desaparecidos desde a tarde de domingo, os corpos de Beatriz Calábria e Luíza Julião Reis, ambas de 9 anos, foram encontrados na manhã de ontem, a cerca de um quilômetro do local do acidente. Até a tarde de segunda-feira, os pais de Beatriz Calábria permaneciam internados sob cuidados médicos. O psicólogo Breno Calábria, que dirigia a caminhonete, sofreu uma fratura no maxilar e teve traumatismo no tórax. Por causa da pancada, precisou receber um dreno para expelir líquido que se acumulou no abdômen. No dia da tragédia, ele foi socorrido no Hospital Odilon Behrens, em BH, e às 17h de ontem foi transferido para o Hospital Lifecenter (Centro-Sul) onde a mulher dele, a dentista Andrea Coelho Viana, estava internada. Ela quebrou o braço e teve escoriações no corpo. Conforme a assessoria de imprensa da unidade hospitalar, o estado de saúde dela é estável.

O casal foi informado ontem sobre a morte da filha, mas conforme um familiar não deve ir ao velório e ao sepultamento da criança. “Eles estão arrasados e não estamos tratando dessas questões com eles. A avó materna está tomando as providências e resolvendo o que é melhor para toda a família”, contou o tio de Andrea, Márcio Magalhães. Segundo ele, parentes de Beatriz Calábria estavam providenciando a liberação do corpo da menina.

O acidente

Os três casais e as cinco crianças passavam o feriado em Jaboticatubas, a cerca de 60 quilômetros de Belo Horizonte, onde Breno Calábria e Andrea Coelho Viana têm um sítio. A amizade do grupo surgiu na escola infantil Recreio, em que Luíza, Beatriz Calábria e Beatriz Julião Reis estudaram. No domingo, as 11 pessoas foram a uma cachoeira nas proximidades, conhecida como cachoeira do Bené, na serra de mesmo nome.

Por volta das 13h, com a ameaça da chuva, Breno, as três mulheres e as cinco crianças entraram na caminhonete, uma Mitsubishi L-200 cabine dupla, para retornar ao sítio. Gustavo e Fernando ficaram na casa de um amigo próximo à cachoeira e voltariam depois. No caminho, ao passar por um trecho alagado da estrada de terra, Breno foi surpreendido pela força das águas, que arrastou a caminhonete de mais de duas toneladas. O veículo ficou prensado entre um barranco e uma árvore.

Laura, de 4, morreu presa entre o veículo e a árvore e as demais crianças foram levadas pela correnteza. Beatriz Julião Reis agarrou-se a um arbusto e foi a única que conseguiu se salvar. Todos os adultos sobreviveram.

Tristeza sem fim

Em poucas palavras, a irmã de Andréa Julião, a jornalista e advogada Luciana Julião, contou que todos estavam muito chocados. Sobre o acidente, ela explicou que ninguém estava imaginando estar fugindo de uma tromba-d’água. “Acharam que evitavam a chuva para as crianças não griparem”, disse com voz trêmula de tristeza. Luciana explicou que todos os adultos e crianças estavam na cabine do veículo e que não havia ninguém na carroceria. “Se eles estivessem na carroceria, talvez fosse melhor porque um dos problemas foi que a água começou a entrar no carro e eles tiveram que tentar abrir as janelas para tirar as crianças”, afirmou Luciana.

O socorro, conforme a mulher, foi pedido pela irmã dela, que saiu correndo pela estrada após conseguir sair do veículo. “Ela correu machucada por dois quilômetros até encontrar um homem que estava passando em um Fusca. Ele ajudou e depois chegou mais gente. Essas coisas acontecem e ninguém sabe exatamente como é”, lamentou.


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