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Estado de Minas

Ônibus novo com jeito antigo vai circular em BH

BHTrans permite que concessionárias adaptem 1,2 mil coletivos simples e mais baratos, semelhantes aos atuais, para circular nos corredores do BRT ao lado dos veículos articulados


postado em 25/10/2012 06:00 / atualizado em 25/10/2012 07:19

Quase idêntico aos veículos tradicionais, o Chassi Volvo B270F, já testado na capital, é um dos modelos adequados para rodar nos novos corredores(foto: Bruno Freitas/EM DA Press)
Quase idêntico aos veículos tradicionais, o Chassi Volvo B270F, já testado na capital, é um dos modelos adequados para rodar nos novos corredores (foto: Bruno Freitas/EM DA Press)
Coletivos semelhantes aos tradicionais, de motor dianteiro, já usados nas ruas da capital, vão circular, ao lado dos ônibus articulados, nos corredores do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) – principal aposta de mobilidade urbana para Belo Horizonte nos próximos anos. De carona numa brecha do Decreto Municipal 15.019, documento de 53 páginas que detalha as especificações dos ônibus do sistema, fabricantes revelaram, em feira de transporte no Rio de Janeiro, a intenção de adequar os modelos básicos com equipamentos de acessibilidade e conforto, para se adequarem às exigências da BHTrans.

Tecnicamente inferiores em relação aos equivalentes de motor traseiro, que custam e consomem mais, os novos ônibus devem ser produzidos até o fim do ano. A expectativa da Mercedes-Benz, principal fornecedor dos consórcios de ônibus de BH, é de que eles sejam entregues às encarroçadoras até março. Serão necessários 90 dias para receber as carrocerias e rodar.

“Estamos fechando a venda de 1,2 mil ônibus num pacote direcionado ao Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) e ao Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram). Entre as exigências dos empresários está a aplicação de suspensão a ar, eixo 6x2, ar-condicionado e câmbio automático para uso no BRT”, revelou o diretor de Vendas e Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz, Gilson Mansur. Volvo e Iveco também confirmaram o desenvolvimento de produtos semelhantes.

Entre as exigências da BHTrans para os padrons, um dos três tipos básicos de ônibus para o BRT, estão carroceria com comprimento de 13,2m e 15m com piso alto. Como todos os ônibus de motor dianteiro oferecidos no mercado têm até 12 metros e suspensão por feixe de molas, as fábricas desenvolvem novas versões dos busões com suspensão a ar, capazes de alinhar a altura da carroceria com o acesso às estações do BRT, e terceiro eixo, o que possibilitaria coletivos ainda mais espichados, para garantir uma fatia de mercado entre os padrons do BRT.

BHTRANS ACEITA O aproveitamento desse tipo de veículo, conhecido nas garagens por “cabrita”, devido ao maior ruído de funcionamento do motor, que fica dentro da cabine, e o comportamento da suspensão, é permitido por uma brecha nas normas da BHTrans, que não aponta quais tipos de chassi devem ser usados no BRT.

A não especificação de chassi é justificada com o argumento de que a posição do motor não afeta a operação. "No caso do BRT, a posição do motor independe, porque a porta de acesso fica do lado esquerdo. A questão do motor dianteiro realmente atrapalha um pouquinho o embarque das pessoas na frente, mas no geral, não é necessário para um sistema BRT entrar nesse detalhe", argumenta o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas.

Segundo ele, se os fabricantes conseguirem adaptar os chassis de motor dianteiro ao sistema, não haverá problema. "Anos atrás tínhamos uma resistência muito grande a ônibus de motor dianteiro. Hoje, a indústria está mostrando que não é mais assim. O motor dianteiro de hoje não é mais um mero chassi de caminhão transformado em ônibus", aponta. Freitas argumenta ainda que a maior preocupação do usuário não é com o tipo de ônibus, mas com a agilidade. "A maior questão é a velocidade da viagem. O passageiro quer andar rápido", acrescenta o diretor da BHTrans.

RETROCESSO O pensamento da BHTrans é contestado pelo professor e coordenador-geral do Núcleo de Transporte da Escola de Engenharia da UFMG, Ronaldo Guimarães Gouvêa. Ele ressalta que o termo padron faz referência a um modelo de solução para o transporte. Desenvolvido pela extinta Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) no fim dos anos 1970, esse tipo de veículo trouxe como grande evolução a aplicação de motor na parte de trás como forma de reduzir o ruído e o aquecimento interno dos veículos. "Até então a maioria dos coletivos era montada sob chassis de caminhões. Não sei o que está sendo aperfeiçoado nos atuais chassis de motor dianteiro, mas é um retrocesso não manter os ganhos da idéia inicial", afirma o professor.

Para ele, a escolha desse tipo de coletivo deixa de levar o conforto em consideração para priorizar a viabilidade econômica do BRT. "Enquanto essa lógica não mudar, o transporte continuará sendo parametrizado pelo custo, a tarifa, e continuará sendo de má qualidade", alerta. O Setra-BH alega que ainda não fechou a compra de nenhum pacote de ônibus novos.

A diretora de Marketing do Sintram, Valéria Reis Couto, confirma a negociação de 1,2 mil ônibus. Segundo ela, as empresas estão solicitando os ônibus para trazer mais conforto ao usuário e convencer donos de automóveis e a usar os coletivos. "Os fabricantes estão fazendo os ajustes nos ônibus de acordo com a solicitação dos sindicatos. Estamos priorizando o máximo de conforto ao passageiro, por meio de ônibus diferenciados que atraiam os proprietários de carros com itens como ar-condicionado e suspensão mais leve", disse. É uma nova realidade que o passageiro vai pagar para ver.
 


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