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Estado de Minas

Uma residência é assaltada a cada dois dias em BH e moradores apelam para a fé

Com mais um roubo a residência, outubro atinge a média de um ataque a cada dois dias em BH. Últimas vítimas, irmãos rendidos na Pampulha se agarraram à devoção para superar momentos de pânico


postado em 13/10/2012 07:20 / atualizado em 13/10/2012 08:14

 

Com a padroeira que teve seu dia celebrado ontem, Claúdio relembra assalto:
Com a padroeira que teve seu dia celebrado ontem, Claúdio relembra assalto: "Foi ela quem intercedeu por nós" (foto: Alexandre Guzanshe/EM)

Um ataque a residência a cada dois dias em Belo Horizonte. É essa a média de outubro – mês em que seis casas já foram assaltadas em apenas 12 dias. Em todas elas, bandidos armados fizeram moradores reféns, espalhando terror em bairros das regiões Centro-Sul, Leste e Pampulha. Considerados os últimos 30 dias, já são oito episódios de roubos. O mais recente deles, registrado na noite de quinta-feira, no Bairro Braúnas, Região da Pampulha, foi o décimo em menos de três meses. Dessa vez os criminosos surpreenderam um representante comercial que abria a garagem. Com o irmão, que já estava em casa, ele foi mantido refém por cerca de 40 minutos.

Da calçada da casa, na Avenida Dora Tomich Laender, para dentro foram instantes de tensão e medo. Com o portão enguiçado, bastou um minuto de desatenção para que o imóvel fosse tomado de assalto por três ladrões com capacetes de motoqueiros. Na véspera do feriado, por volta das 20h30, os homens liderados pelo assaltante com pistola automática ameaçaram de morte a família. Guilherme Oliveira, de 34 anos, rendido quando voltava da mercearia, relata o terror: “‘Se você gritar, você morre’, ameaçaram, enquanto iam entrando como se conhecessem a casa”.

Na sala, o irmão Claúdio Oliveira, de 40, ouvia música. Ao ver o mais novo chegar com as mãos na cabeça, imobilizado, sentou-se próximo à imagem de Nossa Senhora Aparecida e apegou-se à fé, na véspera do dia da padroeira. “Não tenho dúvida de que foi ela quem intercedeu por nós”, considera. O vendedor conta que, instintivamente, reagiu segurando a mão do bandido para proteger, no bolso, a chave do Fusca branco de estimação. “Ele levantou a arma para me dar uma coronhada. Peguei firme com Nossa Senhora e ele desisitiu”, ressalta. Depois de verem os cômodos ser revirados pelo trio, Cláudio e o irmão foram trancados no escritório, que teve a fiação do telefone arrancada. “Eles poderiam ter feito o que bem entendessem da gente. Quando você vê, sua vida está nas mãos deles.”

Guilherme não esconde o desgosto com a violência. Conta que em 2007 a família vendeu a casa no Bairro Alípio de Melo, na Região Noroeste, e juntou economias para comprar o novo imóvel. “Sempre tomamos o maior cuidado. Adotamos uma série de medidas, como ter sempre alguém acordado, esperando por quem está para chegar.” Não adiantou. Os assaltantes levaram R$ 1 mil, além de aparelhos eletrônicos e relógio.

Diante de maleta com segredo, novo momento de tensão. Os ladrões insistiram pedindo o código. “Dissemos que a gente não sabia, porque pertence ao meu pai, que estava viajando, mas eles insistiram. Vendo que a gente não sabia, pegaram uma faca e começaram a rasgá-la”, conta Guilherme. Sobre a mesa da sala, diante da imagem da padroeira do Brasil, ficou a valise destruída, que não continha nada de valor. O trio de capacete, sem moto, fugiu pelo muro dos fundos.

Do lado de fora, nas casas vizinhas, repercute o sentimento de impotência e revolta. Em um imóvel de esquina, a placa de “vende-se” é destaque. São muitas nas cercanias. O vizinho de 17 anos que ajudou a socorrer os irmãos Oliveira, na companhia do pai, comenta que, pouco antes do assalto, falou com a mãe que estranhou os três homens a pé, subindo a avenida, com capacetes nos braços. O pai, de 36, conta ter socorrido policial em apuros a quatro quarteirões dali, no início do ano. “Tentaram assaltá-lo e ele atirou na perna de um dos bandidos. O outro conseguiu fugir.”

VERGONHA Vizinho de quadra, o artista plástico Fernando Pacheco é outra vítima na região. Enquanto aguardava a mulher buscar documento em um cômodo da casa, ele foi rendido e teve o carro levado, com tudo de valor que havia em casa. Inclusive o cão Winny – um pug, preto, de estimação. Fernando lamenta a atual situação da Pampulha, patrimônio de Belo Horizonte. Para o artista, vizinho de integrantes da banda Pato Fu, a vulnerabilidade da região é um desrespeito à memória da cidade. “Recebemos aqui pessoas de várias partes do mundo. É um constrangimento ter que pedir para que nossos visitantes tomem cuidado ao chegar e ao deixar a rua”, lamenta.

Atrás das grades fechadas por cadeado de grosso calibre, Fernando acredita na retomada da região como referência cultural. Diz com tristeza ver seus amigos artistas trocando BH por Nova Lima e por Brumadinho, na Região Metropolitana. Criticando a falta de segurança, cita a morte trágica da atriz Cecília Bizzotto. “Você vê o meu vizinho. Por muito pouco não perdeu a vida nas mãos desses marginais, como aconteceu com a nossa amiga Ciça Bizzotto”. Há 30 anos próximo à lagoa, Fernando Pacheco não perde a esperança de uma outra Pampulha, bucólica e cultural, “como nos tempos das árvores e dos passarinhos”.

População cobra direito à proteção


Enquanto a ação de bandidos que aterrorizam moradores da capital continua a desafiar a segurança pública de BH, a população pede ações rápidas e rigorosas para retomar o sossego e a tranquilidade, objetivos básicos de quem escolhe uma casa para viver. O presidente da União das Associações de Bairros da Zona Sul da capital, Marcelo Marinho, diz que a prioridade é melhorar a situação da Polícia Civil, que tem poucas condições para identificar as quadrilhas. “Os bandidos continuam agindo, porque sabem que não serão presos. Temos que investigar para dar respostas rápidas à sociedade”, diz. Ele acredita que a precariedade também atrapalha os militares. “As viaturas que poderiam estar patrulhando chegam a ficar horas na delegacia por conta de uma ocorrência. Esse processo tem que ser mais célere.”

A onda de assaltos faz com que moradores retomem a defesa da instalação das guaritas de segurança, pois a presença de vigias treinados pode ser um fator a mais para inibir a violência. Apesar de a estrutura encontrar obstáculos na legislação, direitos constitucionais já serviram para embasar decisão favorável da Justiça de BH às guaritas. Em 2008, a 4ª Vara da Fazenda Pública permitiu a colocação dos equipamentos na Rua Carraras, Bairro Bandeirantes, na Região da Pampulha, com base no artigo 5º da Constituição Federal, que garante a inviolabilidade do direito à vida.

A sequência de roubos a residências fez o comando das forças de segurança de Minas anunciar medidas para tentar frear o ímpeto dos bandidos. Em reunião com a cúpula da PM, o secretário de Defesa Social, Rômulo Ferraz, garantiu o aumento do policiamento ostensivo nos bairros que estiverem sofrendo com a incidência dos assaltos e apostou no estreitamento das relações entre militares e a comunidade. O objetivo é ampliar a Rede de Vizinhos Protegidos e lançar até o fim do ano um policiamento mais personalizado, com a designação de um policial para cada bairro da cidade.

ESCALADA DO MEDO
17/7 Quatro bandidos armados invadem a casa de um engenheiro no Bairro Mangabeiras e dominam os moradores. O filho do dono do imóvel escapa e chama a PM. Quatro suspeitos, um deles menor, são presos.

23/7 Homens armados assaltam residência na Rua Professor Carlos Pereira da Silva, no Bairro Belvedere. Com as vítimas trancadas em um quarto, os ladrões levam joias, telefones celulares, televisores e computadores.

15/9 Dois homens armados fazem arrastão em prédio de três andares na Rua Rio Verde, no Bairro Anchieta. Depois de render e trancar os moradores os criminosos fogem com dinheiro e objetos de valor.

26/9 Casa na Rua José Batista Ribeiro, no São Bento, é invadida por quatro homens armados. Os ladrões dominam a dona da casa e o filho dela e roubam dinheiro e joias. A polícia chega pouco depois e consegue prender um
dos ladrões.

3/10 Dois homens armados rendem um jardineiro em uma casa no Bairro São Bento, dominam mais cinco pessoas e levam joias, dinheiro, armas antigas e um aparelho de TV de 47 polegadas.

5/10 Três homens armados invadem uma casa no Condomínio Alphaville, em Nova Lima, rendem moradores, roubam objetos de valor e levam uma mulher de 58 anos como refém. A vítima é libertada pouco depois, em outra região da cidade.

7/10 Três homens dominam a atriz Cecília Bizzotto, o irmão dela, Marcelo Bizzotto Pinto, e a namorada dele, Alexandra Silva Montes, quando as chegavam em casa, no Bairro Santa Lúcia. Os criminosos invadem o imóvel e começam a procurar objetos de valor. Um deles, ao surpreender Cecília ligando para a polícia, atira duas vezes contra ela. A vítima morre no local e os ladrões fogem levando três celulares.

7/10 Dois homens invadem casa no Bairro Belvedere, dominam a dona da casa, duas filhas dela e um empregado, fugindo com joias, dinheiro e aparelhos eletrônicos.

11/10 Dupla de assaltantes aproveita um portão aberto para invadir uma casa no Bairro Sagrada Família, Região Leste da capital. O dono, de 72 anos, estava fazendo o pagamento referente ao reabastecimento de gás da residência e foi mantido refém com a mulher, de 65, e o prestador do serviço. Os assaltantes contaram com a ajuda de mais duas pessoas e levaram R$ 1,7 mil, joias e celulares, além de R$ 150 do entregador de gás.

11/10 Três homens aproveitam a chegada de um representante comercial em casa no fim da noite de quinta-feira, no Bairro Braúnas, Região da Pampulha, para abordá-lo no momento em que abria o portão da garagem. Com o irmão, que já estava em casa, ele é mantido refém no escritório. Os ladrões fogem com R$ 1 mil, videogames, celulares, um computador e uma câmera fotográfica.


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