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Estado de Minas

Escolas de BH sofrem com os altos níveis de ruído

Barulho atrapalha a vida de estudantes e professores em escolas sem isolamento acústico e próximas de vias movimentadas


postado em 01/10/2012 06:47 / atualizado em 01/10/2012 06:54

Medição no pátio da Escola Paulo Mendes Campos aponta mais de 85dB de barulho(foto: (Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A. Press))
Medição no pátio da Escola Paulo Mendes Campos aponta mais de 85dB de barulho (foto: (Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A. Press))
Hora do recreio. A sirene toca e a meninada sai da sala de aula para o momento mais divertido do horário escolar. O pátio e os espaços de lazer da escola ficam cheios. É lá que as crianças correm, ouvem música, jogam bola, ensaiam passos de dança e gritam. Gritam muito. Enquanto isso, em escolas que fazem o revezamento do intervalo, e têm três ou até quatro recreios, outros estudantes tentam se concentrar diante de tanta barulheira. Nas unidades próximas de vias de trânsito movimentadas, o sofrimento é o mesmo. Estudantes também se esforçam para ouvir o professor, que eleva o tom da voz para superar o ruído intermitente do arranca e para e das buzinas dos veículos no trânsito. Tarefa difícil em um ambiente que exige silêncio e concentração, já que as salas de aula de Belo Horizonte estão com nível de ruído acima do considerado aceitável e até mesmo tolerável segundo as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

De acordo com as regras da ABNT, o ruído de fundo de até 40 decibéis (dB) é considerado confortável, enquanto o limite aceitável é de 50 decibéis, segundo estabelece a norma NBR 10.152, de 1987, ainda em vigor. Entretanto, o nível de barulho em algumas escolas da capital chega a 70dB, o que pode trazer problemas de saúde para professores, com desenvolvimento de doenças de fala e audição, e prejuízo no aprendizado dos alunos, que não conseguem se concentrar e têm o desenvolvimento cognitivo prejudicado.

A explicação para tamanha barulheira está dentro da própria escola. De acordo com o professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em acústica Marco Antônio Vecci, os prédios onde funcionam as escolas não foram projetados para reduzir os impactos do som externo, seja do trânsito, da movimentação dos alunos ou de um evento esporádico, como uma obra, por exemplo. O resultado disso é ensurdecedor. “É muito comum termos níveis sonoros altos dentro de sala de aula no Brasil. Em Belo Horizonte não é diferente. Isso ocorre porque quem contrata os projetos de escolas e os profissionais que executam esse trabalho não preveem o tratamento acústico na obra”, ressalta Vecci, afirmando que falta conscientização a respeito do tema. “Quando o condicionamento acústico entra no início do projeto, as intervenções ficam muito mais em conta. Consertar uma obra depois de pronta é sempre mais caro”, diz.

De posse de um sonômetro – aparelho que faz a medição dos níveis de ruído –, o Estado de Minas conferiu o volume do barulho em duas escolas da rede pública municipal de Belo Horizonte: o Colégio Marconi, que não tem tratamento acústico; e a Escola Municipal Paulo Mendes Campos, que desde 2006 tem as salas de aula isoladas acusticamente. O Colégio Marconi funciona em prédio erguido em 1937, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital. A construção, com elementos arquitetônicos do estilo art déco, típicos da época, foi feita com materiais nobres, como mármore e metais de qualidade e, durante muito tempo o barulho não foi problema para quem estudou lá.

Trânsito intenso
Entretanto, com o crescimento da capital e o aumento do número de veículos em circulação, manter o barulho do lado de fora tornou-se inviável. Hoje, a realidade é complicada. “O prédio está em uma região de trânsito intenso, bem em frente à Avenida do Contorno. Ouvimos todo o barulho dos ônibus que arrancam e param no ponto aqui na porta. Além disso tem as sirenes, buzinas e todo o ruído do trânsito”, afirma a diretora do colégio, Áurea Lanna. Na escola, o ruído de fundo (medido em uma sala vazia) foi de 68 decibéis na hora do recreio e de 70 nos locais onde o ruído do trânsito é mais intenso. O pico registrado na sala, no horário de aula, chegou a 72 decibéis. No corredor, o incômodo foi ainda maior, alcançando 80dB.

Depois de 13 anos funcionando cercada pelo barulho intenso do trânsito, a Escola Municipal Paulo Mendes Campos, localizada na Avenida Assis Chateaubriand, no Bairro Floresta, na Região Leste de BH, conseguiu em 2006 o tão esperado tratamento acústico, o que transformou a realidade de professores e alunos. Antes da intervenção, o nível de ruído nas salas de aula chegava a 77dB. Atualmente, os índices estão dentro dos limites considerados toleráveis, de 45 decibéis nas salas próximas ao pátio e de 50dB nos ambientes mais próximos da avenida, por onde circulam diariamente milhares de carros, motocicletas e ônibus.

“O barulho era insuportável. Atrapalhava os professores no dia a dia e deixava os alunos agitados”, afirma o diretor da unidade, Antônio Augusto Horta Lisa. Na reforma, as janelas de estrutura metálica e vidro, estilo basculante, foram retiradas e o espaço foi preenchido por tijolos de vidro. Paredes e teto também receberam forro com tratamento. Atualmente, o barulho só incomoda nos corredores e no pátio, onde a medição alcançou 85 decibéis. A algazarra dos alunos e o rock n’ roll que saía das caixas de som no horário do intervalo contribuíram bastante para chegar a esse volume.

Enquanto isso...
..Sem tumulto, mas no calor

A obra para implantação do isolamento acústico na Escola Municipal Paulo Mendes Campos resolveu o problema do barulho causado pela proximidade com o trânsito da Avenida Assis Chateaubriand. No entanto, não foi feita a climatização das salas de aula, o que trouxe outra dificuldade: o calor. Ventiladores foram instalados para diminuir a temperatura nas salas de aula, mas os equipamentos se transformaram em uma fonte geradora de barulho. Somente agora a prefeitura está instalando aparelhos de ar-condicionado em todas as salas da unidade escolar.


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