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Estado de Minas

Entidades de classe de médicos e enfermeiros reconhecem aumento nos erros médicos

Categorias dizem que a culpa é da falta de estrutura das redes pública e privada. Coren quer exame para enfermeiros


postado em 30/08/2012 06:00 / atualizado em 30/08/2012 06:43

A piora na prestação de serviços de saúde em Belo Horizonte, o aumento de erros nos procedimentos e a falta de condições hospitalares são admitidos pelas presidências do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG) e do Conselho Regional de Enfermagem (Coren). De acordo com os órgãos que regulam as profissões diretamente ligadas ao acolhimento dos pacientes, a soma desses fatores fez com que aumentassem em 88,6% as internações por atendimentos inapropriados na rede de saúde. O CRM aponta o sucateamento como problema central na rede pública. Nas instituições particulares, o excesso de clientes, que deveria se traduzir em mais recursos, não é revertido em ampliação da assistência. “As pessoas migraram para os planos de saúde achando que estariam mais seguras, mas não houve contrapartida na ampliação dos hospitais. Médicos atendem cada vez mais pacientes e a qualidade vem caindo”, alerta o presidente da entidade de classe, João Batista Gomes Soares.

O Coren vai além e culpa a falta de capacitação pela piora dos serviços. “O excesso de instituições de formação de profissionais de enfermagem trouxe gente menos capacitada para atuar nessa área tão sensível”, afirma o vice-presidente do conselho, professor Lúcio José Vieira. Um dos processos que podem ajudar a barrar o ingresso de profissionais pouco qualificados no mercado é a criação de um exame específico para o exercício da atividade. “Estamos nos mobilizando nacionalmente para viabilizar isso. Seria como a Ordem dos Advogados do Brasil, que só permite que advogue quem passa no exame da instituição”, disse Vieira.

Os presidentes dos dois conselhos afirmam que os profissionais atuam em número insuficiente para a demanda que recebem e que isso os expõe a maior probabilidade de erros. “Há procedimentos cirúrgicos que precisam de mais enfermeiros para instrumentação e auxílio, mas os hospitais não respeitam isso, expondo a categoria a uma piora na prestação do serviço, devido à sobrecarga”, afirmou o vice-presidente do Coren.

Ainda pequeno demais para entender exatamente o que aconteceu, o garoto Alan Breno Castro Novais, de 2 anos, que recebeu por via oral ácido em vez de sedativo, mostra para a mãe as cicatrizes deixadas pelo tratamento equivocado. As marcas na barriga dos tubos que recebeu e no pescoço, da traqueostomia que o permitiu respirar por meio de aparelhos, chamam a atenção. “O Breno não sabe bem o que aconteceu, mas me mostra as marcas e fala que foi a moça. Fala da técnica em enfermagem que o atendeu e deu o ácido”, conta a mãe, Érica Aparecida de Castro Novais, de 31 anos.

Israel Lopes, pai que denunciou a administração de leite na veia do filho, com a mãe da criança:
Israel Lopes, pai que denunciou a administração de leite na veia do filho, com a mãe da criança: "Fiquei um mês no hospital e perdi três empregos" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 16/4/12)
Outro erro no momento de ministrar a medicação em Belo Horizonte ocorreu oito dias depois do incidente que vitimou Alan. Foi no Hospital da Baleia, quando o bebê Davi Emanuel de Souza Lopes, então com apenas 4 meses recebeu, como conta a família, leite materno na veia em vez de soro, enquanto era tratado de um princípio de pneumonia. “Meu filho ainda tosse e ronca. Chia muito quando respira. O pior foi que o hospital não admitia o que aconteceu. Fiquei um mês no hospital e perdi três empregos até meu filho sair”, lamenta o pai do bebê, Israel Abraão do Amaral Lopes, de 21 anos. As duas famílias atualmente processam os hospitais, pedindo indenizações pelos danos à saúde dos filhos e pelos prejuízos que tiveram devido aos tratamentos.

Secretaria questiona dados

A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Belo Horizonte minimiza o aumento das internações por erros e falta de condições no acolhimento em saúde, ainda que ele seja admitido por representantes das próprias categorias. A pasta responsável pela administração dos hospitais e postos de saúde da capital considera que “os dados obtidos pelo sistema do Ministério da Saúde são frágeis, porque muitas vezes não retratam a patologia que motivou a internação”, ou seja, não definiriam qual a doença que levou a pessoa ao atendimento médico.

A secretaria argumenta que “nem todas as internações registradas como complicações são causadas por erro médico”, sendo que algumas são “estatisticamente esperadas, inerentes ao próprio procedimento ou às condições do paciente”, o que não esclarece as falhas de equipamentos, assepsia e troca de medicamentos, entre outros aspectos.

Todas as internações hospitalares em Belo Horizonte, de acordo com a secretaria, são auditadas pela Supervisão Hospitalar e quando há alguma suspeita de desvio ético, o supervisor encaminha à Auditoria Assistencial da secretaria para conhecimento, apuração e envio ao Conselho Regional de Medicina, órgão responsável pela apuração de erro médico.

A pasta afirma que monitora as internações e as reinternações por complicações de cirurgias eletivas, sendo esse um indicador para o repasse adicional que é pago pelo Fundo Municipal de Saúde como incentivo para essas cirurgias. Hospitais que apresentam mais de 3% de reinternações por complicações provenientes das operações perdem parte do incentivo financeiro em seus procedimentos cirúrgicos.

O Hospital da Baleia informou que deu toda a cobertura ao bebê que recebeu leite materno em vez de soro, mas que não ajuda mais a família, já que os pais passaram a cobrar assistência por meio jurídico. A enfermeira que acidentalmente trocou as substâncias não foi demitida, por ter 28 anos de trabalho e muitos elogios, mas é investigada pela Polícia Civil e pelo Coren. Procurado, o Hospital Infantil São Camilo não respondeu à reportagem.

Memória

Minas tem altas taxas de erros

O caso das duas crianças que foram internadas em BH por receberem medicamentos trocados refletem a situação do estado, um dos que mais têm registros de complicações na assistência à saúde e erros médicos que culminam em internações e mortes, segundo registros do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 18 de abril, o Estado de Minas mostrou que, na comparação com estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Distrito Federal, Minas Gerais tem proporcionalmente mais registros de imperícia. A taxa de erros mineira é de 1,16 caso por 100 mil habitantes, quantidade 3,4 vezes superior à fluminense; 2,3 vezes maior que a de São Paulo; e 1,5 vez mais elevada do que a do Distrito Federal e da Bahia. O levantamento do SUS, relativo a  2011, considera como complicações objetos estranhos deixados no corpo de paciente, hemorragias em cuidados cirúrgicos, falta de assepsia, medicamentos contaminados, erros de dosagem, entre outros.


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