Acordado durante a madrugada pelo telefone celular, o engenheiro paranaense Pedro (*), de 46 anos, que mora em um condomínio de alto luxo no Bairro da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, viveu ontem horas de pânico sob a ameaça de falsos sequestradores. Ao ouvir gritos do outro lado da linha, que seriam de sua filha Sofia, de 14, que mora com a mãe dela no Paraná, e estaria em poder de sequestradores, o engenheiro não pensou duas vezes. Avisou a atual esposa, Cláudia (*), de 33, e o filho pequeno e saiu com o carro da família em disparada para o Rio de Janeiro, seguindo ordens dos bandidos.
Eles exigiram os números dos telefones fixos do apartamento dele e do celular da atual mulher. Com a mesma história do sequestro, mantiveram todos os números ocupados, impedindo que alguém da família conseguisse ligar para a casa da garota no outro estado e checar se ela estava bem. Apavorado, em nenhum momento o homem percebeu que estava caindo no golpe do falso sequestro. Pedro foi convencido pelo relato dos criminosos, que disseram que a filha dele havia sido sequestrada e que se determinada quantia não fosse imediatamente depositada ela seria morta. A performance teatral dos golpistas incluiu gritos de uma criança ao fundo da ligação, que bastaram para convencer o engenheiro, além do fornecimento de dados precisos a respeito da menina, como o endereço onde morava com a mãe no Paraná, o nome completo e a idade.
Depois de sair de casa, Pedro permaneceu desaparecido por mais de três horas. Não fez contato com ninguém da família e também não atendia ligações. Seu telefone celular permanecia ocupado o tempo inteiro. “Eu já estava desconfiada de que devia ser golpe. Cheguei a gritar com Pedro, mas ele não me ouviu. Estava louco de preocupação. Só pensava em salvar a filha. Logo que ele saiu com o carro da garagem, consegui falar com a menina no Paraná”, explicou a dona de casa, que acionou imediatamente a polícia. A mulher orientou a filha a continuar ligando para o pai e mandando mensagens. Enquanto isso, ela saiu dentro da viatura percorrendo a cidade, tentando encontrar o marido.
Mensagem
“Meu marido podia estar em uma favela no Rio, podia ter batido o carro ao sair dirigindo desnorteado e falando ao celular, ou talvez tivesse sido sequestrado ao se deparar com o suposto sequestrador. Não sabia mais o que pensar”, desabafa a mulher, bastante assustada. Depois de três horas, a própria filha conseguiu falar com o pai. “Como ele estava dirigindo em uma região serrana, onde a linha caía muito, ela conseguiu comunicação por mensagem, avisando que estava bem. Ele então ligou, confirmando a informação”, conta Cláudia. Segundo ela, o marido já havia feito uma parada em uma cidade do interior com a intenção de fazer o depósito na conta exigida. Mas não chegou a haver transferência de dinheiro em conta, apenas de créditos para o telefone dos assaltantes no valor de R$ 400, que usavam um pré-pago com prefixo do Rio de Janeiro.
“Antes de fazer qualquer transação com bandidos, tem de avisar à polícia”, alerta o sargento Paulo Breno de Oliveira Armani, da 127ª Companhia de Polícia Militar, que pertence ao 22º Batalhão de Polícia Militar. Ele só encerrou a ocorrência às 7h40, com o retorno de Pedro à residência, bastante abalado e sem condições de dar entrevista. “O golpe é relativamente antigo, mas acaba pegando a pessoa de surpresa porque os criminosos buscam se informar antes sobre detalhes da família. Depois, as pessoas se sentem constrangidas ao cair na conversa deles”, conclui o militar.
(*) nomes fictícios
FIQUE ATENTO
A primeira ação dos golpistas é tentar convencer o interlocutor de que uma pessoa da família foi sequestrada. Nas ligações, geralmente se ouvem gritos ao fundo e, sem perceber, os golpistas conseguem detalhes da suposta vítima, como o nome e onde está.
Antes de entrar em desespero, procure checar a informação sobre o sequestro. Se o número da pessoa com quem está tentando falar estiver ocupado, ganhe tempo, e se necessário, desligue na cara dos golpistas logo no início da conversa para deixar a linha disponível para tentar contatar a pessoa.
Não se deixe amedrontar pelas ameaças e considere que quando os golpistas disserem que não pode desligar, é exatamente porque não querem que você tenha a chance de verificar o que eles afirmam.
De forma geral, durante a conversa, nunca forneça ou confirme qualquer dado seu ou de seus familiares, endereços ou local de trabalho. Se forem verdadeiros sequestradores já saberão tudo, se não forem é melhor não muni-los de informações sobre você e sua família.
Uma vez verificado que é golpe, o conselho é ligar para a polícia denunciando o fato, fornecendo inclusive o número de origem da ligação, sempre um celular.
Não atenda nunca mais telefonemas vindos daquele número, em hipótese alguma. Lembre-se que estará tratando com criminosos e provavelmente presidiários.
Fonte: PMMG