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Estado de Minas

Má alimentação compromete crescimento das crianças

Enfraquecimento de ossos e colesterol alto são problemas enfrentados por crianças devido ao consumo diário de refrigerantes e alimentação inadequada. Dica é mudar cardápio


postado em 05/08/2012 07:00 / atualizado em 05/08/2012 07:07

O menino G., de 12 anos, evita legumes e toma refrigerante todos os dias: exame mostrou que ele tem idade óssea de 10 anos e meio(foto: euler júnior/em/d.a press)
O menino G., de 12 anos, evita legumes e toma refrigerante todos os dias: exame mostrou que ele tem idade óssea de 10 anos e meio (foto: euler júnior/em/d.a press)
Aos 12 anos, o garoto G. cresceu comendo apenas um grupo restrito de alimentos. Na hora do almoço, no prato do adolescente, morador de prédio no Bairro Belvedere, só cabe arroz, carne e batata frita. Nada de feijão, legumes e verduras de espécie alguma. Ao longo do dia, aceita bem três tipos de fruta e suco de caixinha de um único sabor (morango), mas a preferência é sempre por refrigerante, que os pais tentam limitar aos fins de semana. Durante as últimas férias de julho, em viagem com a família a Nova York, o consumo de Coca-Cola saiu do controle e G. tomou refrigerante todos os dias. No único em que escapou da rotina liberada das férias escolares, sentiu dor de cabeça provocada pela abstinência da bebida. O resultado da alimentação desregrada apareceu no exame médico: apesar de praticar esportes, G. está com idade óssea de apenas 10 anos e meio.

“Se o exame dele permanecer nessa curva de crescimento , ele vai se tornar um homem baixinho e franzino. Se G. viesse de uma família de baixa estatura, mas com ossos bons, não haveria problema, mas não é esse o caso”, compara a ultrassonografista pediátrica Maria Tereza Figueiras. Ela detectou o problema por meio de um novo exame de ultrassom (osteossonografia), capaz de prevenir alterações ósseas a partir dos quatro anos de idade, em menos de 10 minutos. “Cerca de 90% da massa óssea é formada até os 20 anos e os 10% restantes até os 35. Quem teve uma boa ‘poupança’ óssea tem baixo risco de desenvolver osteoporose o futuro”, explica a médica.

“No meu ambulatório, posso afirmar que já existem lesões ortopédicas em crianças provocadas pela obesidade”, denuncia a pediatra Virgínia Resende Silva Weffort, presidente do departamento de nutrologia infantil da Sociedade Brasileira de Pediatria. Em seu trabalho no ambulatório do Hospital Universitário da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) é comum receber crianças obesas reclamando de dores nos joelhos. “Com o excesso de peso, as pernas vão arqueando e os joelhos ficam voltados para dentro. Além da dor, a criança fica com as perninhas tortas e passa a ter mais dificuldade para andar”, diz a médica. “Ela tem mais preguiça de fazer atividade física e fica só sentada dentro de casa, vendo tevê. Se essa criança é obesa e tem dificuldades alimentares, pode apresentar osteoporose na idade recente de 20 anos, que só seria encontrada em um adulto de 60”, completa.

Comida nova

Renata Giancotti capricha na sala depois que Igor teve colesterol alto:
Renata Giancotti capricha na sala depois que Igor teve colesterol alto:"Fiz uma revolução no cardápio" (foto: beto magalhãesem/d.a press)
Desde que interrompeu a natação e o futebol, passando a estudar em tempo integral para os exames do Colégio Militar, Igor Giancotti, de 10 anos, engordou 10 quilos em cinco meses. “ A alimentação da família era macarronada, lasanha e pizza. Não tenho ajudante e fazia o que era mais prático para mim e o que mais agradava a todo mundo. Agora, estou fazendo uma revolução nos cardápios. Na primeira semana, houve uma insatisfação da parte deles, mas não senti resistência”, conta a mãe, a dona de casa Renata Gonzaga Giancotti, 41, que tem também Vítor, 12, e Eliel, 9. Ela admite ter saído chorando do consultório da pediatra ao receber o resultado dos exames de sangue de Igor, que, além do ganho de peso, demonstraram alteração no colesterol (221, quando o desejável para uma criança é de 170) e baixa na vitamina D (19,07). Em um mês de mudança, Igor já emagreceu 800 gramas, cresceu 1,5 centímetro e está mais feliz. “Ele chupava um picolé todo os dias e nessas férias, foram só dois”, comemora o pai, o gerente de vendas Amarílio Giancotti, de 47.

“Os pais estão matando a sede da criança com suco de caixinha, que contém muito sódio, além do açúcar em excesso. Quem tem sede tem de beber água”, reforça a nutricionista Ermelinda Lara, com 22 anos de experiência no Hospital das Clínicas da UFMG. Usado para realçar o sabor, o sódio provoca ainda mais sede. Com isso, a criança pede cada vez mais o suco pronto e rejeita o natural. O excesso de suco de caixa e de carboidratos refinados (biscoitos recheados, sanduíches e massas instantâneas) faz inchar o abdômen. O aumento da gordura abdominal, por sua vez, predispõe ao aparecimento de doenças degenerativas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e colesterol alto. “É melhor oferecer porções menores de frutas do que dar suco adoçado. Uma tampinha de laranja, um gomo de mexerica ou três uvas é melhor do que uma mamadeira de suco”, completa.

Uma recomendação da nutricionista é proporcionar condições para os filhos voltarem a brincar. “As mães reclamam que o menino só fica no computador, mas criança não joga bola sozinha. É preciso combinar com os vizinhos do prédio um horário para as crianças descerem para brincar ou levar para a pracinha ou ao clube ”, avalia.

Diabetes  ganha força

Aos 10 anos, Anna Luíza já toma remédios para prevenir a diabetes mellitus tipo 2, que antes era doença rara na infância e só aparecia entre adultos de meia-idade e idosos. Sua mãe, a funcionária pública Claúdia Gomes Fonseca Panda, de 45 anos, concordou em dar entrevista com o objetivo de alertar outros pais para os maus hábitos de muitas famílias. Até descobrir o diagnóstico, a menina era sedentária, apesar de morar no Condomínio Ibisco, em Contagem, não crescia e estava oito quilos acima do peso. Tinha o costume de dormir tarde e levantar por volta das 11h, tomar um banho, almoçar e ir direto para a aula. Não sobrava tempo para se exercitar.

“Estou mais feliz. Fico com vontade de tomar Toddynho, mas eu bebo Gold (dietético), que é uma delícia”, confessa Anna Luíza. Ela passou a andar na esteira e a usar a bicicleta no condomínio. Também entrou para a aula de natação (além do balé que já fazia), na mesma academia onde os pais se matricularam no pacote para a família inteira. Em seis meses, Anna emagreceu três quilos e cresceu quatro centímetros.

Calcula-se que, atualmente mais de 200 crianças e adolescentes desenvolvem o diabetes mellitus tipo 2 a cada dia no mundo, em decorrência da epidemia de obesidade e sedentarismo. Nos Estados Unidos, 8% a 45% dos novos casos de diabetes em crianças são do tipo 2. Na Ásia, em países como Taiwan, os casos de diabetes tipo 2 em crianças já são duas a seis vezes maiores do que os do tipo 1.

“As crianças veem as propagandas e ficam malucas para experimentar as guloseimas. Estou orgulhosa da minha filha porque ela entrou de cabeça na reeducação alimentar”, elogia a mãe. Anna Luíza é acompanhada de perto por ginecologista, endocrinologista e pela educadora em nutrição Natália Fenner Pena. Só este ano Natália atendeu, entre 300 pacientes, 16 crianças e pré-adolescentes que apresentavam taxa de glicose no limite (99, 100 e 101 mg/dL) para acompanhamento nutricional e controle do peso. A taxa de glicose normal em crianças é de 70 a 99mg/dl. No diabetes tipo 2, o corpo não responde normalmente à insulina.

Miopia mais cedo

Na geração anterior, a idade-chave para o aparecimento da miopia costumava ficar entre 10 e 15 anos. Atualmente, os pediatras indicam o primeiro exame de visão para crianças a partir dos 7 anos. A maior exigência de enxergar “de perto”, justamente na fase de desenvolvimento anatômico, está levando a uma epidemia de miopia, segundo a médica paulista Célia Nakanami, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica. Os últimos dados mostram que a maior cobrança por estudo e a mudança dos hábitos de lazer – com mais atividades em locais escuros como tevê e jogos – leva ao aparecimento do grau e a sua progressão cada vez mais cedo.

“Se existe a predisposição e um dos pais é míope, a chance aumenta muito, de 20% a 30%. Se os dois são míopes, a probabilidade chega a 40%”, compara. Ela explica que o processo de acomodação dos olhos para enxergar de perto com boa nitidez e foco induz a um crescimento do diâmetro posterior do olho. De forma leiga, o esforço repetitivo de prestar atenção no game “força o olho”. “Os músculos trabalham mais para focar, o que aumenta o diâmetro do globo ocular. E um olho ‘grande’ é um olho míope. Essa é uma das hipóteses para justificar o aumento do aparecimento da miopia nessa faixa etária”, completa.


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