A Comissão Especial para o Enfrentamento ao Crack vai apresentar ao estado proposta para tratamento de dependentes químicos que cometem pequenos crimes baseada em modelos semelhantes aos adotados por Portugal e pela Flórida, nos Estados Unidos. O relatório elaborado pela comissão, que será apresentado em agosto, prevê ações de conscientização, cobra investimentos na prevenção e defende que os esforços de repressão policial se concentrem no combate à lavagem de dinheiro, atingindo, assim, os grandes traficantes. Ontem, a Assembleia Legislativa organizou ato contra o crack e outras drogas, reunindo cerca de 5 mil estudantes da rede pública para um de show Wilson Sideral.
Presidente da comissão, o deputado estadual Paulo Lamac (PT) diz que o estado gasta mais com o dependente preso que comete pequenos delitos – em torno de R$ 2 mil mensais – quando deveria ampliar o apoio às comunidades terapêuticas, que gastam menos da metade, cerca de R$ 900 por mês, no tratamento de cada usuário. Lamac diz que a comissão está trabalhando no relatório final e defende o reequipamento da polícia e a alteração da legislação federal, para dar prioridade ao combate aos grandes traficantes.
Em Portugal, o tratamento é compulsório. O detalhe é que o dependente químico que comete furtos ou crimes de menor potencial ofensivo relacionados ao uso de drogas é atendido por uma equipe multidisciplinar, que orienta a melhor intervenção para cada caso. Na Flórida, o usuário pode escolher se vai responder criminalmente ou se prefere se submeter a um programa de tratamento. Como o estado americano, diz Lamac, o Brasil tem um sistema judicializado, mas não distingue o dependente que pratica crimes por causa do vício do grande traficante de drogas. Para o deputado, a maneira de “estancar a epidemia” do crack passa por um trabalho com foco no usuário e na prevenção, impedindo que outros experimentem a droga.
O presidente da Assembleia, deputado Dinis Pinheiro, também acredita que esta lógica precisa ser invertida. “Esse combate requer tempo e intensidade, mas ainda gastamos mais com o preso do que com o tratamento. Cerca de 80% dos crimes estão ligados ao uso de crack e outras drogas”, afirmou, durante o evento que reuniu alunos de escolas públicas e particulares, no Pátio das Bandeiras, na manhã de ontem, quando foi lançado um concurso de redação sobre o tema.
O subsecretário de Políticas Sobre Drogas da Secretaria de Estado de Defesa Social, Cloves Benevides, diz que o estado encaminhou a Brasília projetos diversos, que englobam também ações assistenciais e de saúde, em valores que superam R$ 200 milhões. Para o cantor Wilson Sideral, que venceu há 15 anos o vício, a conscientização e mobilização social são elementos importantes na luta. “Vou dar o recado na linguagem deles, intercalando com as músicas. Tenho experiências negativas e uma mensagem de esperança, porque consegui superar o vício. Essa é a época de formação do caráter e a garotada precisa ouvir abertamente que não deve entrar nessa. Aqueles que estão passando por isso precisam ter apoio da família e fé na religião, seja ela qual for.”