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Estado de Minas

Há 100 anos bairros tradicionais da capital deixavam de ser chácaras

Há 100 anos o Calafate e o Carlos Prates passavam a fazer parte de Belo Horizonte e deixavam para trás o sossego da zona rural para receber comércio e trânsito


postado em 09/06/2012 07:31 / atualizado em 09/06/2012 12:00

A antiga Rua Turfa, uma das principais do Bairro Calafate, quando o desenvolvimento começava a chegar à região(foto: Arquivo/EM/ D.A Press)
A antiga Rua Turfa, uma das principais do Bairro Calafate, quando o desenvolvimento começava a chegar à região (foto: Arquivo/EM/ D.A Press)


Quem vive em ritmo acelerado entre as vias engarrafadas e os ônibus cheios e lentos das regiões Oeste e Noroeste da capital mineira não imagina, mas há cem anos o transporte já afligia os moradores locais. Os bairros Calafate (Oeste) e Carlos Prates (Noroeste) foram incorporados a Belo Horizonte há um século, em 5 de fevereiro de 1912, só que, em vez de serem locais que pulsavam com o comércio e o tráfego intensos, eram regiões de chácaras isoladas, de infraestrutura precária por falta de ruas pavimentadas, transporte coletivo ineficiente, sem distribuição de água ou saneamento. O confronto de depoimentos antigos com novos relatos mostra que o progresso tão desejado pelos primeiros habitantes tirou o sossego típico de cidade do interior, trazendo poluição e insegurança.

Antes mesmo de o prefeito Olyntho Deodato dos Reis Meirelles assinar o decreto que incorporou “à zona suburbana da capital o povoado do Calafate e as ex-colônias Bias Fortes, Américo Werneck, Carlos Prates e Adalberto Ferraz”, em 1900 a prefeitura já vinha preparando a ocupação desses locais, antes áreas de chácaras e fazendas ocupadas com uma produção ainda rural. De acordo com registros da administração municipal, foi nessa época que se iniciou a política de remover os operários que participaram da construção da cidade ou que se aglomeravam em vilas para áreas menos nobres e fora do cinturão da Avenida do Contorno (então Avenida 17 de Dezembro). Um desses registros dá conta de 383 imigrantes italianos que chegaram à região do Calafate.

As colônias agrícolas foram criadas pouco tempo depois da inauguração da cidade e tinham como objetivo produzir os alimentos que seriam consumidos na capital, de acordo com os registros de planejamento da cidade, mas acabaram tendo de acomodar essa população crescente. De acordo com os documentos históricos armazenados no Arquivo Público Mineiro, uma década depois de o adensamento populacional ser iniciado o bairro começou a viver os problemas do crescimento. “Faltava água e o transporte de tantos operários era difícil. Por isso, eles tiveram de se mobilizar para conseguir a expansão das redes de abastecimento e da linha de bondes para a região (criada em 1902 para chegar ao Prado mineiro, uma área de criação de cavalos e um campo de futebol).”

Após ser abraçado por BH, bonde chegou ao Carlos Prates, levando crescimento à região(foto: Arquivo/EM/D.A Press )
Após ser abraçado por BH, bonde chegou ao Carlos Prates, levando crescimento à região (foto: Arquivo/EM/D.A Press )


Lembranças

Dessa época se lembra bem o padre Célio Maria Dell’Amore, de 81 anos, neto de italianos e que viveu no Calafate desde 1938, quando tinha 7 anos. “Meu pai veio para fazer serviços que o prefeito Juscelino Kubistchek contratava na cidade”, conta. Uma das lembranças mais antigas é dos “calafateiros”, segundo ele os artesãos que assentavam pisos e “faziam as ligações dos tacos dos assoalhos”. A Prefeitura de Belo Horizonte apresenta em seus arquivos outras versões para expressões que deram nome ao Bairro Calafate. A expressão “calafateiro” seria referência ao “nome de uma antiga profissão, ligada à construção de barcos. Há versões de que um dos proprietários da fazenda desempenhava esse ofício quando vivia em Portugal”. O padre hoje é um dos vigários da Igreja de São José do Calafate, aberta em 1931, e ao redor da qual boa parte do bairro se desenvolveu, principalmente por ser composto por imigrantes italianos que eram católicos muito fervorosos.

Os impactos da modernidade, da abertura de vias arteriais e de grande importância para cruzar a cidade, como as avenidas Dom Pedro II, Silva Lobo e a Rua Padre Eustáquio, trouxeram o Carlos Prates e o Calafate de fato para dentro do perímetro da capital. “Precisamos de resgatar a qualidade de vida que tínhamos aqui. Hoje, uma porção de problemas se misturaram. As duas regiões não têm capacidade para receber tantas atividades comerciais”, afirma Guilherme Neves, que é promotor de Polícia Comunitária na Região e foi presidente da Associação dos Moradores dos Bairros Prado e Calafate. “A falta de planejamento fez com que se abrissem lojas e serviços e isso atraiu trânsito e insegurança. O tráfego que não pertence à região também não é comportado por nossas ruas estreitas. Imagine se trouxessem a rodoviária para o Calafate, como a prefeitura planejava”, disse. Os planos eram para que a nova rodoviária fosse instalada numa área adjacente à Via Expressa e os trilhos do metrô, perto da Estação Calafate, mas a pressão da comunidade e as dificuldades de acesso fizeram o projeto ser abandonado.


Linha do tempo
1898
Implantados núcleos coloniais rurais nas áreas que viriam a formar os bairros Calafate e Carlos Prates

1900
Operários são removidos da região urbana para o Prado e o Calafate


1902
Implantado sistema de bondes da capital mineira

1912
Povoado do Calafate e ex-colônias Bias Fortes, Américo Werneck, Carlos Prates e Adalberto Ferraz são incorporadas à zona suburbana de Belo Horizonte


1920
Bairros passam por processo de subdivisão de lotes e construção de vilas


1931
Inaugurada Igreja São José do Calafate


1963
Fim da circulação dos bondes. Na época, o trólebus e o auto-ônibus eram as outras opções de transporte coletivo


1986
Inauguração da Estação Calafate do metrô, no Bairro Calafate


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