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Estado de Minas

Maioria das crianças brasileiras investiriam em segurança caso tivessem o poder nas mãos


postado em 29/03/2012 06:00 / atualizado em 29/03/2012 06:46

Marcela Milena de Souza Santos tem 12 anos, é moradora do Bairro Alto Havaí, na Região Oeste de BH, e se estivesse no poder afastaria as pessoas das drogas. Não por acaso, quer ser delegada quando crescer(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Marcela Milena de Souza Santos tem 12 anos, é moradora do Bairro Alto Havaí, na Região Oeste de BH, e se estivesse no poder afastaria as pessoas das drogas. Não por acaso, quer ser delegada quando crescer (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Para o jornalista e escritor Millôr Fernandes, uma criança está deixando de ser criança no dia em que começa a fazer perguntas que têm respostas. Por isso é difícil explicar a meninos e meninas porque o mundo não se esforça para lhes dar o que mais precisam, além de alimentação e respeito: educação. A carência é tanta que na pesquisa feita com crianças de 10 a 12 anos da África, Ásia, Américas e Europa a maioria investiria mais em educação se fosse presidente de seus países. Já as crianças brasileiras, usariam o poder para investir na segurança.

A segunda pesquisa global anual "Pequenas vozes, grandes sonhos" encomendada pelo ChildFund à Ipsos Observer, coletou informações sobre o que pensam as crianças mais vulneráveis e negligenciadas do mundo. Foram consultadas cerca de 5 mil crianças, via internet, e 49,3% das que vivem em países em desenvolvimento dariam prioridade à educação (melhorar as escolas). A resposta foi quatro vezes maior do que "prover mais alimento", que ficou em segundo lugar (10,5%), seguida de "melhorar a assistência médica" (8,9%).

Duas entre cinco crianças gostariam de ser professores ou médicos. Nos países desenvolvidos, a situação é diferente: elas sonham em ser atletas profissionais ou artistas. Em 44 países, de acordo com o levantamento, há crianças muito otimistas com o seu futuro e preocupadas com criminalidade, doenças, fome e violência. Entre as que defendem uma educação melhor para as crianças menos favorecidas está o mineiro Sharles, de 12 anos, de Diamantina, Vale do Jequitinhonha. Ele quer ser professor de matemática e acredita que a escola é o lugar onde ele se sente mais seguro.

Marcela Milena de Souza dos Santos, de 12, não lembra em quais itens votou. Talvez porque, no mundo infantil, ontem já esteja longe e anteontem mais ainda. Ou talvez porque não houvesse no questionário uma pergunta diretamente relacionada à sua realidade no Bairro Alto Havaí, Região Oeste de Belo Horizonte, onde mora com os avós maternos e o irmão Pablo, de 10. "Realmente, não consigo me lembrar, mas gostaria de ver as pessoas afastadas das drogas".

Se Marcela perguntar a alguém porque há cada vez mais gente afogada no vício dos entorpecentes, não haverá mais dúvida da resposta. E talvez se torne adulta sem entender porque o homem ainda carrega esse mal atrás de si. A voz tímida esconde uma menina agitada, cheia de saúde, que, de manhã, cursa o 6º ano do ensino fundamental em uma escola municipal e à tarde frequenta as oficinas do Grupo de Educação, Desenvolvimento e Apoio ao Menor (Gedam), uma organização não governamental que atua em parceria com o Fundo para Crianças e a prefeitura de BH.

As oficinas são para crianças de 7 a 14 anos e a ONG ainda oferece creche para as que têm até 6 anos. Há alimentação, esportes, aulas de música, informática, dança, desenho e muitas brincadeiras. Ontem, Marcela treinava para uma de suas atividades preferidas: queimada. Ela, aliás, é uma menina que prefere as brincar com outras crianças ao conteúdo nem sempre sadio do computador. "Gosto também de brincar de esconde-esconde, pega-pega e cantigas de rodas com minhas amigas na rua. Brinco até em casa, com meu irmão".

Se fosse prefeita BH, seguindo a sugestiva pergunta da pesquisa, Marcela diz que trabalharia também para dar casa a quem vive nas ruas. Quer estudar para ser delegada: "Acho bonito o trabalho. Já vi uma delegada trabalhando." Marcela é uma criança ainda otimista, que não entende a violência. De vez em quando deixa à mostra, no rosto, uma sombra das mazelas que tanto interfere na rotina de quem vive na nem sempre lembrada e compreendida periferia.

Projetos

A pesquisa vai ajudar o Fundo para Crianças a nortear as ações e os projetos da entidade. "Ouvimos a voz das crianças nesse apanhado mundial para identificar os anseios, expectativas e necessidades delas. Vamos inserir essas informações nos diagnósticos que fazemos em todas as regiões atendidas pelo fundo para que elas direcionem e iluminem os nossos projetos. O estudo é uma referência importante para a atuação estratégica dos projetos voltados para direitos básicos da criança, como saúde, educação e proteção", diz o diretor nacional do ChildFund Brasil, Gerson Pacheco.

COMO FOI FEITA A PESQUISA

Presente no Brasil há 45 anos, o ChildFund Brasil – Fundo para Crianças, antigo Fundo Cristão para Crianças –, é uma organização que trabalha pelo desenvolvimento e de proteção infantil através de programas sociais para superar as causas da pobreza. A pesquisa "Pequenas Vozes, Grandes Sonhos" foi realizada de julho a setembro de 2011 com seis perguntas idênticas aplicadas numa base individual pelos funcionários do ChildFund e suas organizações parceiras. No Brasil, 144 crianças participaram da pesquisa. As seis questões pesquisadas foram abertas, ou seja, nenhuma criança recebeu uma lista de respostas para escolher.

O que pensam as crianças brasileiras

Prioridades
31% tomariam atitudes para aumentar a segurança
24% criariam abrigos para tirar as crianças das ruas
13% ofereceriam mais escolas

Profissão
26% desejam se tornar médicos ou veterinários
18% aspiram ser professores
17% sonham emjogar futebol
12% pretendem exercer a carreira militar
6% preferem a vida artística

Segurança
88% se sentem mais seguras em suas casas
9% se sentem seguras na escola
2% têm proteção necessária na igreja

Saúde
22% das crianças demonstraram preocupação em contraírem doenças
14,4%estão preocupadas com a pobreza e a fome
14% manifestaram preocupação com a violência.


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