A intensificação do tráfego de ônibus, principalmente para destinos no interior onde os acessos melhoraram nos últimos anos em questão de pavimento, e não pela ampliação de pistas e duplicações, tem contribuído para um salto de acidentes e mortes. A avaliação é de especialistas em transporte e trânsito que apontam o inchaço da frota mineira como evidência dessa maior procura. Nos últimos 10 anos, o número de ônibus e micro-ônibus cresceu 94%, passando de 48.558 unidades em 2002 para 94.084 em janeiro deste ano. É muito acima do aumento da frota nacional, que no mesmo período subiu 74,5% (451.737 para 788.457), de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
"É uma questão estatística. Se temos mais ônibus circulando nas estradas, mais acidentes ocorrem. O problema é que, quando ocorre um desastre no transporte coletivo, temos número maior de vítimas", analisa o chefe do Departamento de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia da UFMG, Nilson Tadeu Nunes. "Os aviões são muito seguros, mas quando cai um, muitos morrem e isso causa uma comoção muito grande. Observamos mais acidentes também com aeronaves devido ao aumento dos voos", compara.
Ainda de acordo com o Denatran, de janeiro do ano passado ao mesmo mês deste ano, houve acréscimo de 7.570 ônibus e micro-ônibus, uma adição de 8,7% no período, passando de 85.514 para 94.084. No país, o crescimento foi de 61.015 veículos, o que representou incremento de 8,3% na frota. O índice é pouco inferior ao registrado em Minas.
A situação das estradas é outro problema. "O estado de conservação das rodovias federais é muito ruim e não vemos grandes obras de ampliação em andamento em Minas Gerais", avalia Nunes. Atualmente no estado, de acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG), apenas 1,3 mil quilômetros de estradas são duplicados em Minas Gerais, o equivalente a 3,6% da malha rodoviária total do estado, que soma 35.960 quilômetros.
VEÍCULOS PRECÁRIOS As condições dos veículos e dos motoristas também deixam a desejar principalmente no interior, de acordo com o especialista em transporte e trânsito. "Muitos ônibus usados nas cidades acabam se transformando em veículos de viagem intermunicipais e até interestaduais. São veículos desgastados e cuja manutenção deixa a desejar", acredita Monteiro. Ainda de acordo com ele, os motoristas deveriam receber treinamento mais rígido para trabalhar em linhas e nas viagens. "São profissionais que deveriam estar em constante treinamento e reciclagem. O ideal é que tenham cursos de direção defensiva. As empresas também precisam respeitar o limite de seus funcionários, não os expondo a jornadas excessivas nem prazos muito exíguos", diz.
Segundo o assessor de imprensa da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Minas Gerais, Adilson de Souza, o aumento do número de vítimas de acidentes envolvendo ônibus não indica que haja mais mortes. "O acidente com 15 mortos (em Felixlândia) provocou uma distorção na estatística. Não é que saiu da normalidade. Continuamos com poucos acidentes", afirma.
Ainda segundo o policial, Minas não tem tradição em grandes desastres de ônibus em rodovias federais. "Os estados onde ocorrem mais esses acidentes são os do Sul, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde há ingresso intenso de motoristas estrangeiros, que não conhecem bem nossas estradas e regras de circulação e por isso se envolvem em batidas", avalia o assessor da PRF.
Apesar de a frota de ônibus norte-americana ser pouco maior que a brasileira, com pouco mais de 800 mil veículos, só 1 mil pessoas ficaram feridas e 50 morreram em 2008 inteiro, de acordo com a Administradora da Segurança de Transportes Automotores dos EUA, órgão que projeta medidas de segurança e estuda acidentes em âmbito federal.